Nove vereadores pedem a saída da Secretária municipal de Saúde

De acordo com eles, problemas apontados por médicos e cidadãos são causados por má gestão da pasta
quinta-feira, 07 de outubro de 2021
por Christiane Coelho, especial para A VOZ DA SERRA
A secretária Nicole Lessa Cipriano (Reprodução da web)
A secretária Nicole Lessa Cipriano (Reprodução da web)

Nove vereadores assinaram um requerimento ao prefeito de Nova Friburgo, Johnny Maycon, pedindo o afastamento da Secretária de Saúde, Nicole Cipriano. Segundo eles, diversos problemas encontrados na saúde pública de Nova Friburgo, como falta de insumos e medicamentos no Hospital Municipal Raul Sertã e nos postos de saúde, problemas com licitações de exames e de medicamentos são consequências de má gestão na pasta.  

O documento foi assinado pelos vereadores Priscilla Pitta, Ângelo Gaguinho, Maicon Queiroz, Christiano Huguenin, Carlinhos do Kiko, Janio, Joelson do Pote, Wallace Machioro e Vanderleia Abrace Essa Ideia.

A Voz da Serra entrou em contato com os vereadores que não assinaram o requerimento: Wellington Moreira, Cascão do Povo, Zezinho do Caminhão, Dirceu Tardem, Isaque Demani, Maiara Felício, Max Bill, Cláudio Leandro, Wallace Piran, Professor André, José Carlos e José Roberto Folly.

O presidente da Casa Legislativa, vereador Wellington Moreira, informou que sempre foi um defensor e profundo conhecedor dos problemas da área da Saúde e por isso não assinou o documento; por entender que a problemática é muito maior do que a troca da gestora da pasta. 

“O momento não é para ataques, mas sim, pensar no melhor para a sociedade, agregando forças e respeitando a autonomia de cada poder. Os vereadores devem apontar os problemas, mas não cabe à Casa decidir sobre a exoneração de um secretário, pois a questão é premissa do prefeito, e não são os vereadores que escolhem quem deve ocupar determinada pasta”, informou.

O presidente da Comissão de Saúde, vereador Cascão do Povo, informou que há muito o que fazer e melhorar na saúde do município. “Mas entendo também que não cabe a nós, vereadores, decidirmos quanto à exoneração de uma secretária. A escolha e permanência de um secretário cabe ao chefe do Executivo, cabendo aos vereadores fiscalizarem e sinalizarem o que está ou não funcionando nas secretarias. Por essa razão não apresentei o meu apoio”, informou ele.

O vereador Zezinho do Caminhão informou que está afastado da Câmara Municipal, por ordens médicas. “Acabei de tomar conhecimento há pouco desse documento. Estou afastado por dez dias. Tenho problemas de saúde e passei por uma cirurgia no coração há três anos. Estou com muita pressão no peito. Tive que me afastar para fazer exames, investigar o que está acontecendo e cuidar da saúde”.

O vereador Wallace Piran disse que vai aguardar a sessão de hoje (quinta-feira, 7), com os médicos do Hospital Raul Sertã para ter um real panorama do que está acontecendo. “Estamos passando por um momento difícil, dentro de uma pandemia, não só na cidade, mas em todo o país. Prefiro ouvir na sessão específica de hoje a classe médica, a enfermagem, pois são eles que botam a mão na massa. Precisamos avançar o mais rápido possível porque vidas estão sendo perdidas, mas já tínhamos o Raul Sertã debilitado. A gente está dando um tempo de governabilidade. Vamos ouvir e avaliar. Importante ouvir as partes para tomar uma posição”, disse ele.

O vereador Dirceu Tarden informou que não assinou o requerimento porque acredita que a secretária de Saúde tenha que ser ouvida. “Sou a favor de um debate na Câmara e que quem errou pague pelo erro”, falou o vereador.

Para o vereador Isaque Demani, a questão é complexa demais para simplesmente pedir a saída de "A" ou "B" sem apontar uma solução. “Estou cobrando do Executivo uma posição mais firme com relação ao que não está funcionando. Há uma demora na execução das ações, nas compras dos medicamentos e insumos. Sugeri ao Prefeito a abertura dos processos administrativos de compras e contrações dos serviços com um prazo folgado antes que os medicamentos e insumos comecem a acabar, antes que a contratação dos serviços se finde. Isso é planejamento estratégico. Há a necessidade de valorização de todos os profissionais que trabalham na saúde, e não só dos médicos. Não são os médicos sozinhos que tocam os nossos hospitais, nossos postos de saúde e ESF's, todos têm que ser valorizados. Falei aos nobres colegas, os quais respeito profundamente, que uma petição que simplesmente pede o afastamento sem a indicação de um bom nome para substituir a atual secretária eu não assinaria, pois não estaríamos colaborando em nada,” disse ele.

A vereadora Maiara Felício disse ser lamentável todo ocorrido em torno de uma situação onde quem só perde, mais uma vez, é a população. “Cabe ressaltar que as informações não são claras e que não é possível tomar posicionamentos por curtas gravações e fotos, sobretudo, em tempos de fakenews. Também quero ressaltar que a harmonia dos três poderes precisa ser preservada e não cabe ao legislativo tomar decisões sobre o que é competência exclusiva do executivo. Preservo a importância do debate democrático e consistente, qualquer atitude que exorbite esse viés com cunho individual infelizmente podem comprometer o poder da casa legislativa. Sigo propondo que as informações sejam esclarecidas, de maneira que podemos convocar a Secretária para esclarecimentos e tomarmos medidas necessárias”, informou ela

O vereador Max Bill  informou que haverá uma sessão específica na Câmara Municipal para debater a situação da saúde no município, momento em que terão a oportunidade de ouvir os médicos e demais representantes do setor para entender a real situação dos fatos. 

“Além disso, alguns vereadores estão formulando uma recomendação ao prefeito para que exonere a secretária de Saúde, Nicole Cipriano. Contudo, tal ato cabe ao prefeito, sendo a iniciativa dos parlamentares uma mera indicação, que em nada vincula o chefe do poder Executivo. Por outro lado, é inegável que a saúde em Nova Friburgo está em estado crítico, com relatos de falta de medicamentos, de falta de profissionais para atendimento aos munícipes, sem contar as precárias condições do HMRS e das demais unidades básicas de saúde. No entanto, este problema não pode ser imputado a apenas uma pessoa, na medida em que demonstra uma falha estrutural, sistêmica, que precisa ser vista com um olhar mais amplo que envolve toda a administração pública. A saúde precisa ser vista sob a ótica da gestão pública, com tramitação célere de processos, com capacitação de profissionais e com terceirizações de setores estratégicos, sendo os problemas existentes uma falha de toda a gestão e que precisa de soluções que olhem para o macro, deixando de lado as medidas meramente paliativas. Por essas razões, optei, ao menos por enquanto, por não assinar a recomendação formulada pelos pares”, explicou o vereador.

O vereador Claudio Leandro informou que foi abordado no último dia 05, no momento da sessão, sobre o pedido de exoneração da secretária de Saúde, Nicole Cipriano. “Momento este em que eu estava focado em acompanhar a pauta e concentrado para a votação de projetos e requerimentos de interesse da população. Portanto, não tive tempo para sentar e analisar o documento que, a meu ver, se trata de uma questão importante e complexa. E, para tomar qualquer decisão, além de observar efetivamente o que está acontecendo, considero ser de suma importância ouvir os dois lados e, principalmente, ouvir toda a equipe do Hospital Raul Sertã para que eu tome uma decisão justa a respeito. Considero inclusive que uma audiência com os envolvidos seja o primeiro passo para termos uma visão mais clara do que vem acontecendo no hospital”, disse ele.

Até o fechamento dessa edição, os vereadores Professor André, José Roberto Folly e José Carlos não haviam enviado resposta.

Médicos também  criticam a gestão

Nesta quinta-feira, às 18h, acontecerá uma Sessão Ordinária de Debate Específico sobre a saúde pública, na Câmara Municipal, com os médicos que estiveram presentes na reunião ocorrida no dia 23 de setembro, com o prefeito, a secretária de Saúde e alguns vereadores. Na ocasião os médicos relataram os problemas enfrentados na unidade para o atendimento à população.

A Voz da Serra teve informações de fontes do Hospital Raul Sertã, relatando que médicos da unidade enviarão à prefeitura o pedido de afastamento da secretária de Saúde. “Quem quiser ver a verdade é só ir ao Hospital Raul Sertã para ver o absurdo que está acontecendo lá dentro. A verdade está lá dentro, todo mundo vê, menos a secretária”, disse um dos médicos.

Profissionais dos postos de saúde, que não quiseram se identificar, também relataram ao jornal A Voz da Serra problemas enfrentados com a falta de medicamentos, como hidroclotiazida, usada para hipertensão, que falta há mais de seis meses. Também relataram a má qualidade de insumos, como a gaze estéril que, atualmente, “não vem mais embalado em pacotinhos. Agora, vem em rolo e os funcionários precisam cortar, embalar, esterelizar”. Por fim, relatam a enorme perda do material que, devido à má qualidade, acaba por desfiar boa parte da gaze.

O que diz  a prefeitura

Em nota, a prefeitura informou que “a Secretaria Municipal de Saúde enviou um documento para o Hospital Municipal Raul Sertã, a fim de apurar e investigar as acusações que têm sido feitas sobre mortes por decorrência de falta de medicamentos ou insumos. Tendo em vista que tais denúncias são muito sérias e a Secretaria de Saúde deveria ter sido comunicada oficialmente pela equipe de saúde do hospital, a pasta reitera que não ficou inerte às denúncias em questão. A secretária responsável, Nicole Cipriano, ressalta que em nenhum momento foi relatado a ela esses fatos narrados”.

A nota ainda diz que, “apesar das dificuldades, está trabalhando para suprir todas as demandas da rede pública de saúde do município. Somente no último mês, três processos seletivos para a contratação de profissionais da saúde foram realizados pela gestão. Ao todo, mais de 600 inscrições foram realizadas, sendo que, no último processo, 118 inscrições de médicos foram feitas, principalmente para atuarem no Hospital Municipal Raul Sertã.”

Finalizando, a nota infomou que “nesta semana, mais de 400 medicamentos diferentes começaram a ser enviados às unidades, após a realização dos empenhos (documento de compra) com as empresas que participaram do pregão eletrônico feito em abril deste ano. Outras ações estão sendo feitas no hospital, como a reforma das enfermarias; a implementação de recursos que agilizam, humanizam e melhoram o acolhimento aos pacientes, como a Classificação de Risco; e a abertura de novos leitos, tal como feito em julho, momento o qual a secretaria abriu 19 leitos de CTI”.

Prefeito admite problemas em aquisição de medicamentos

Em vídeo publicado nas redes sociais na noite de terça-feira, 05, o prefeito Johnny Maycon admitiu que houve problemas na aquisição de medicamentos. Segundo ele, a empresa que venceu a licitação para fornecer o maior quantitativo de itens não está cumprindo com o contrato. 

“Através da Procuradoria Geral do Município, o executivo está dando todos os encaminhamentos para proteger o erário e a população. E muito em breve a gente consiga um abastecimento completo para o Hospital Raul Sertã, Hospital Maternidade e todas as Unidades de Saúde”, disse ele no vídeo.

A Voz da Serra pediu mais detalhes dessa compra, como listagem de medicamentos, período contratual da entrega, capacidade de atender o contrato, entre outros detalhes. Em nota, a prefeitura informou que “a empresa Loger de Medicamentos e Materiais Hospitalares Eireli foi uma das ganhadoras do processo 6831/20, que teve o pregão eletrônico realizado entre março e abril deste ano. A referida empresa ganhou 78 itens e, ao assinar o contrato, solicitou o cancelamento de 12 deles. De acordo com a Loger, os preços estão subindo desordenadamente e, ainda segundo a empresa, a margem de lucro é muito estreita, o que tornou inviável o comprometimento para a entrega.

Diante disso, a Prefeitura de Nova Friburgo, por meio da Procuradoria Geral do Município e da Secretaria Municipal de Saúde, abriu um processo com o pedido de cancelamento, que foi indeferido. Sendo assim, a empresa teve um prazo para assinar o contrato após o indeferimento. Até a última terça-feira, 5, essa assinatura ainda não havia sido realizada. Por fim, a Prefeitura reitera que as penalidades cabíveis serão aplicadas à empresa.”

 

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TAGS: Governo | saúde