Mulheres do Brasil — A história não contada

Dar voz a figuras femininas do passado e do presente para escrever um futuro mais justo e igualitário
sexta-feira, 30 de setembro de 2022
por Jornal A Voz da Serra
(Capa: Reprodução)
(Capa: Reprodução)

O livro resgata a história de mais de 200 mulheres das mais variadas épocas que tiveram suas biografias alteradas, deturpadas ou que simplesmente sequer apareceram nos registros convencionais. Depois de desmistificar as figuras dos imperadores Dom Pedro I e Dona Leopoldina, o escritor e pesquisador Paulo Rezzutti se dedica a mulheres conhecidas ou ignoradas pela história: das guerreiras às vilãs, das mulheres do poder a artistas. Também ilumina trajetórias pouco conhecidas de indígenas e negras escravizadas e avança até os dias atuais.

“Mulheres do Brasil” chega num momento em que a discussão sobre o papel da mulher na sociedade e o interesse por grandes figuras femininas se intensifica, surpreendendo o leitor ao reapresentar acontecimentos da história do país com essas personagens finalmente reinseridas nos papeis de destaque que lhes foram negados pela narrativa oficial.

“O que me animou a abraçar este projeto foi o fato de já ter me debruçado antes sobre a trajetória de mulheres brasileiras em relação às quais os mitos e estereótipos eram, e ainda são, repetidos mais que suas histórias completas e tridimensionais. Escrever a biografia de D. Pedro I foi um passeio em arquivos públicos e particulares, desbastando e selecionando o material, respeitando o recorte estipulado da biografia, do que eu queria elucidar sobre ele. Já ao escrever sobre as mulheres, a documentação, muitas vezes exígua, precisou ser espremida para que se pudesse entrever a pessoa de carne e osso que existiu e não o ser idealizado que a história criou”, afirma o autor.

Entre as mulheres abordadas está Marielle Franco, vereadora carioca assassinada em março de 2018 por “ousar” não ser invisível. Marielle, mais presente do que nunca, não será apagada — como tantas outras mulheres ainda o são diariamente. Pois o objetivo maior de ‘Mulheres do Brasil — A história não contada’ é dar voz a ela e a tantas outras figuras femininas do passado e do presente para que, juntos, homens e mulheres possam escrever um futuro mais justo e igualitário. (Por Edson Veiga, para Deutsche Welle - DW)

A primeira deputada federal do Brasil

Há 130 anos nascia Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982), que assumiu uma cadeira no parlamento em 1934. Apesar de seu perfil conservador, tendo mais tarde apoiado o golpe de 1964, sua eleição foi simbólica para as mulheres, ao ocupar um espaço antes reservado aos homens. Garantiu seu lugar na história ao se tornar a primeira mulher eleita deputada federal, em 1933, e assumiu o cargo em 1934. "Ela foi a primeira, não apenas no Brasil, mas na América Latina, uma conquista que deu visibilidade às mulheres dentro da política nacional", afirma o pesquisador Paulo Rezzutti. 

(Carlota Pereira de Queiroz - Foto: Reprodução/Mundo Mulher)

Nascida em uma família tradicional de São Paulo, seu avô, Manuel Elpídio Pereira de Queiroz (1826-1915), foi um rico latifundiário, membro do Partido Republicano Paulista e um dos fundadores do jornal A Província de São Paulo — atual O Estado de S. Paulo.

O engajamento político de Carlota começou há 90 anos, quando o estado de São Paulo se ergueu contra o governo federal, no episódio conhecido como Revolução Constitucionalista de 1932. Carlota se destacou não apenas como médica na linha de frente, mas principalmente por seu papel na organização de um departamento de assistência aos feridos, mobilizando cerca de 700 outras mulheres voluntárias.

Tal trabalho despertou atenção da sociedade. Quando houve a convocação de eleições para a elaboração de uma nova Constituinte, na esteira do reconhecimento do direito eleitoral feminino, seu nome surgiu com força, apoiado pela Associação Comercial de São Paulo, pela Associação Cívica Feminina e pela Federação dos Voluntários — grupo de participantes do movimento revolucionário paulista.

"Com o apoio da elite e de nomes de vulto, como [a quatrocentona e ativista pelo voto feminino] Olívia Guedes Penteado e [a filantropa e ativista social] Pérola Byington, ela lançou a Mensagem da Mulher Paulista na imprensa, pedindo apoio das mulheres de São Paulo", conta Rezzutti.

"É fundamental resgatar essa personagem histórica, até mesmo para mostrar o multifacetado universo da mulher, em um momento em que muitas histórias de mulheres são trazidas à tona. E para não parecer que a figura da mulher protagonista é sempre pensada e projetada a partir de um pensamento considerado progressista. Mulheres ligadas ao pensamento conservador também se destacaram", ressalta. (Fonte: Casa dos Mundos)

 

Publicidade
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Publicidade
Publicidade
Publicidade

Apoie o jornalismo de qualidade

Há 79 anos A VOZ DA SERRA se dedica a buscar e entregar a seus leitores informações atualizadas e confiáveis, ajudando a escrever, dia após dia, a história de Nova Friburgo e região. Por sua alta credibilidade, incansável modernização e independência editorial, A VOZ DA SERRA consagrou-se como incontestável fonte de consulta para historiadores e pesquisadores do cotidiano de nossa cidade, tornando-se referência de jornalismo no interior fluminense, um dos veículos mais respeitados da Região Serrana e líder de mercado.

Assinando A VOZ DA SERRA, você não apenas tem acesso a conteúdo de qualidade, mantendo-se bem informado através de nossas páginas, site e mídias sociais, como ajuda a construir e dar continuidade a essa história.

Assine A Voz da Serra

TAGS: