Cinco poemas de amor, de décadas e países diferentes

Quem sabe inspira os amantes de qualquer lugar deste mundo...
sexta-feira, 09 de junho de 2023
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Confissão

de Charles Bukowski

Esperando pela morte

como um gato

que vai pular

na cama

sinto muita pena de

minha mulher

ela vai ver este

corpo

rijo e

branco

vai sacudi-lo talvez

sacudi-lo de novo:

hank!

e hank não vai responder

não é minha morte que me

preocupa, é minha mulher

deixada sozinha com este monte

de coisa

nenhuma.

no entanto

eu quero que ela

saiba

que dormir todas as noites

a seu lado

e mesmo as

discussões mais banais

eram coisas

realmente esplêndidas

e as palavras

difíceis

que sempre tive medo de

dizer

podem agora ser ditas:

eu te

amo.

O poeta norte-americano Charles Bukowski ficou conhecido por ter uma vida errante: boêmio, o seu dia a dia (e também os seus poemas) ficou marcado pelo álcool e pela gandaia. Raros são os poemas do autor dedicados ao amor — Confissão faz parte dessa escassa lista.

Soneto de fidelidade 

de Vinicius de Moraes

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

 

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

 

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

 

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

É o poema de amor mais consagrado do nosso poeta. Os versos foram organizados a partir de uma forma clássica — o soneto — que se organiza em quatro estrofes (as duas primeiras com 4 versos e as 2 últimas com três versos). O tema abordado é um assunto que não perde a validade: nesse caso específico, Vinicius de Moraes compôs em homenagem à sua primeira mulher.

Um dos “20 poemas de amor e uma canção desesperada”

de Pablo Neruda

Sim não foi porque teus olhos tem cor de lua,

de dia com argila, com trabalho, com fogo,

e prisioneira tens a agilidade do ar,

sim não foi porque és uma semana de âmbar,

sim não foi porque és o momento amarelo

em que o outono sobe pelas trepadeiras

e és algum pão que a lua fragrante

elabora passando sua farina pelo céu,

oh, bem amada, eu não te amaria!

Em teu abraço eu abraço o que existe,

a areia, o tempo a árvore da chuva,

E tudo vive para que eu viva:

sem ir tão longe posso vê-lo todo:

veio em tua vida todo o vivente.

O poeta chileno Pablo Neruda, laureado com um Nobel, escreveu centenas de poemas de amor que se tornaram clássicos da literatura latino-americana. O trecho acima faz parte do belíssimo (e longo) Vinte poemas de amor e uma canção desesperada.

Soneto da doce queixa 

de Federico Garcia Lorca

Assusta-me perder a maravilha
de teus olhos de estátua e o acento
que pela noite a face me polvilha
a erma rosa que há no teu alento.

Tenho pena de ser sobre esta orilha
tronco sem ramos, e a dor que sustento
é não ter eu a flor, polpa ou argila
pró verme de meu próprio sofrimento

se és meu tesouro oculto, que sitio,
se és minha cruz e meu sofrer molhado
e eu o cão preso de teu senhorio,

não me deixes perder o que me é dado:
vem decorar as águas do teu rio
com folhas de meu outono perturbado.

O espanhol Federico Garcia Lorca deu à luz a esse belo poema apaixonado, que transborda afeto e entrega.

Teus olhos

de Octavio Paz

Teus olhos são a pátria do relâmpago e da lágrima,
silêncio que fala,
tempestades sem vento, mar sem ondas,
pássaros presos, douradas feras adormecidas,
topázios ímpios como a verdade,
outono numa clareira de bosque onde a luz canta no ombro
duma árvore e são pássaros todas as folhas,
praia que a manhã encontra constelada de olhos,
cesta de frutos de fogo,
mentira que alimenta,
espelhos deste mundo, portas do além,
pulsação tranquila do mar ao meio-dia,
universo que estremece,
paisagem solitária.

O mexicano Octavio Paz ganhou o prêmio Nobel de Literatura e passeou pelos mais diversos gêneros literários, entre eles a poesia, e, nesse caso, de cunho romântico.


 

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