Ainda sem desistir, Siqueira desabafa e projeta futuro do Friburguense

Sem uma oferta convincente, o Friburguense acabou sem o dinheiro, o futebol ficou sem segurança jurídica e sem tempo para conseguir recursos
quinta-feira, 13 de julho de 2023
por Vinicius Gastin
Ainda sem jogar a toalha, Siqueira abre o jogo e faz projeções para a possível Série B1 (Foto: Divulgação)
Ainda sem jogar a toalha, Siqueira abre o jogo e faz projeções para a possível Série B1 (Foto: Divulgação)

Enquanto houver chances matemáticas, o Friburguense seguirá acreditando. Assim o gerente de futebol do clube, José Siqueira, o Siqueirinha, trabalha com a responsabilidade de ter que vencer os três jogos restantes e ainda torcer contra Macaé e Araruama. Missão longe de ser simples, porém, não impossível.

“Quando olhamos a tabela, a pontuação e o fato de o time não ganhar há algum tempo, é ruim de acreditar que seja possível vencer os três próximos jogos e torcer por uma combinação. Mas há dois fatores que não podemos largar: o retorno que esse grupo deu dentro de campo, melhorando o lado psicológico, querendo a primeira vitória, e o trabalho do dia a dia. Há momentos na vida em que só resta a fé, sem ciência ou dinheiro. E é em cima disso que estamos trabalhando. Todo o processo de entrega, se for o nosso momento de Graça, vamos reverter. Vamos honrar até o final tudo o que a gente fez. Muita gente fala da vergonha da campanha, mas já conseguimos muitas coisas que quase ninguém imaginava. Um time do interior se tornou referência, conquistou muito, e é com essa força que nós vamos até o final”, promete Siqueirinha.

Neste momento delicado da história recente do Tricolor, A VOZ DA SERRA conversou com o dirigente, envolvido no contexto da possível proposta de um grupo, que seria encabeçado pelo ex-jogador Darío Conca, para assumir o futebol do clube. Sem uma oferta convincente, o Friburguense acabou sem o dinheiro, o futebol ficou sem segurança jurídica e sem tempo para conseguir recursos, planejar a preparação e reforçar o plantel. O resumo de toda essa confusão nos bastidores pode ser a queda para a terceira divisão do futebol estadual.

Com respostas bem fundamentadas e explicativas, Siqueira analisa a campanha da equipe, a relação do futebol com o social e pontua o quanto que toda essa história atrapalhou no rendimento na Série A2. Apesar de ainda não jogar a toalha, o dirigente projeta uma possível Série B1 bastante difícil para o Tricolor.

Quanto ao futuro, mesmo com toda a relação de SAF (Sociedade Anônima Futebol), o dirigente sempre fala sobre as dificuldades para segurar a questão financeira. Especula-se muito sobre a forma de administrar, e a partir da aprovação do Conselho Deliberativo, haverá um contrato determinado para mais quatro anos de gestão. Há planos para buscar algo diferente, não só para o próximo campeonato, como também para as temporadas seguintes.

“O modelo de trabalho que a gente tinha, no pós-pandemia, sem nenhuma receita e perdendo o estoque que tínhamos, afetou tudo: o trabalho de base e o sustento para o momento seguinte. Sendo o Friburguense uma SAF, eu tenho o sonho de criar um consórcio de empresários, onde teríamos o futebol e o futsal profissionais no único clube profissional da cidade, usando também o clube como instrumento de pista de atletismo e toda a estrutura, fazendo muito mais do que temos feito”, sugere.

Rendimento na Série A2

“Tirando o segundo tempo do Artsul, durante uns 20 minutos, nós fizemos bons jogos. Eu não esperava essa derrota para o Americano, e tivemos a vitória na mão contra o Gonçalense, até os 40 do segundo tempo. Na estreia, tivemos chances de vencer a Cabofriense, fora de casa. Tivemos um problema contra o Maricá, relacionado a arbitragem, quando estávamos muito melhor no jogo. Além do pênalti mal marcado, que foi fora da área, ainda expulsou nosso jogador. Em um jogo apenas o time “dormiu” um pouquinho, ficando nítido, depois do gol de bola parada, que o Artsul poderia ter feito mais. É um fator psicológico e este é um ponto que mexeu muito também”, avalia Siqueirinha.

Preparação curta

“A preparação foi realmente quebrada. Havia um projeto para tentar buscar recursos. Era pouco, mas algo parecido com o que tínhamos nos últimos anos. Um valor de receita para iniciarmos a competição e não deixar faltar nada no dia a dia. Pelo menos a estrutura de viagem, treinos e jogos. Realmente atrapalhou bastante. Tivemos o técnico Gerson Andreotti chegando a uma semana da competição, e jogadores vindo depois”, recorda-se.

Montagem do elenco

“Todo esse atraso e as questões de bastidores atrapalharam muito na montagem do elenco. Nós sabíamos que seria necessário ter, pelo menos, uns quatro ou cinco jogadores mais experientes. Trouxemos o zagueiro Maurício e a ideia era tentar conversar com o Jorge Luiz. Mas nem cheguei a fazê-lo, porque não tive a possibilidade de oferecer nada. Porque eu não tinha o contrato junto ao clube, e com isso o investidor não se aproximou, por não ter uma garantia. Iríamos buscar o Dedé, o Murillo, o volante Rodrigo, que esteve aqui em 2019 e jogou no Vasco e no Corinthians durante a base. Eu teria condições de trazer, mas precisava do lado financeiro. Somente aí são quatro jogadores que não conseguimos ter no decorrer da competição. Então, não foi só voltar tardiamente, a questão de não ter contrato, dentro do que foi planejado, fez com que não tivéssemos dinheiro e estrutura”, avalia Siqueirinha.

Relação social x futebol

“O futebol e o social sempre foram bem resolvidos. Costumo dizer que o Friburguense foi uma das primeiras SAFs do Brasil, pois desde 2001 temos essa separação. Desde então eu fui efetivado, e as pessoas sequer sabem como isso aconteceu. Vejo comentários em redes sociais, mas respeito. O ser humano, sem conhecimento de causa, acaba falando coisas que estão bem longe da realidade. Mas não é momento de falar isso. A questão jurídica sempre foi bem resolvida, onde tínhamos um contrato e, a cada nova gestão, havia um acerto praticamente verbal de continuação ou não. Apenas em 2019 pintou a chance de fazer uma gestão diferente, e em cima da hora, o grupo desistiu. Parecido com o que aconteceu agora em termos de tempo. Mas era, na época, final de uma gestão, e sempre deixamos claro que financeiramente, hoje, não temos condições de nos sustentar”, observa o dirigente do Frizão.

Receitas para tocar o futebol

“O que sempre segurou o Friburguense foram as cotas de televisão e os patrocínios, à exemplo da Stam. Ninguém esperava por uma pandemia. Em 2019 voltamos para a primeira divisão, e neste meio tempo, a TV Globo saiu e aconteceu todo um ajuste do campeonato. Deixamos de receber R$ 850 mil e isso atrapalhou todo o nosso planejamento. Com falta de calendário, começamos a buscar. Tínhamos 16 times na primeira divisão, sendo quatro na seletiva, incluindo a gente. Com a entrada da Record TV, os 36 clubes, das Séries A e B do Estadual, foram divididos em três grupos, e você não poderia ser rebaixado. Vencemos a seletiva e passamos a jogar a Série A2, sem dinheiro, trabalhando com a venda do que ainda não tínhamos produzido, que são os nossos jogadores. Com isso, atraímos investidores. Nessa gestão, o atual presidente, assim que se tornou candidato, me procurou e eu conversei com esse investidor, para estarmos juntos entre 2021 e 2023. No meio do mandato surge a proposta, e se ela viesse bem feita, seria uma coisa. Mas era uma visita que, no meio de tudo, vira uma proposta. É bom deixar claro que, se a gente sai, o Friburguense não disputaria a Série A2”, destaca Siqueirinha.

Riscos de não jogar a A2

“Tínhamos um campeonato iniciando dia 13, e qualquer regulamento de competição na Ferj é bem claro: é preciso inscrever os seus jogadores uma semana antes, ou seja, até o dia 5 neste caso. Todo o processo de inscrição leva uns dez dias, em média. O futebol é complexo. Eu sei que usaram muito do presidente, foi uma coisa bem política, em especial da forma que foi feita. Por isso queríamos um contrato novo, para tentar trazer o investidor para estar junto, mas tem sido difícil. O que era para ser no início do campeonato não aconteceu e asfixiou totalmente. Fizemos uma competição sem estrutura de ir um dia antes para jogos fora, concentrar, e em dois jogos tivemos que ir de carro. Os jogos em casa também são caros. Tudo isso faz muita diferença também. Esse contrato foi aprovado somente agora no Conselho e sai nos próximos dias. O processo tem que ser profissional”, revela o dirigente.

A possível disputa da Série B1

“Não tem como não falar disso agora. Vamos tentar permanecer até o final, mas posso afirmar que a Série B1, se acontecer, será muito forte. Tem equipes tradicionais como Duque de Caxias, Goytacaz, Serra Macaense e projetos de SAFs, como o Barra, que tem o filho do Eurico Miranda à frente. Tem ainda o Serrano, que é da Kleffer, do Kleber Leite, que também faz um ótimo trabalho e chegou à semifinal no ano passado. E mais alguns trabalhos de grupos, que são o Paduano, que joga em Moça Bonita e treina nos campos do Exército, 7 de Abril e o Pérolas Negras. Não podermos ir para uma competição dessa pesando apenas na nossa camisa. Talvez tenhamos o tempo que não tivemos para a Série A2, mas como manter os atuais jogadores? Como fazer a competição sem a segurança jurídica e o apoio financeiro? Esse é um outro desafio. Estamos focados, num primeiro momento, no jogo do América e na combinação de resultados. Mas se não acontecer, já precisamos começar a planejar. E será uma luta muito grande. Esses clubes que hoje estão numa terceira divisão estavam entre as Séries A e B há pouco tempo. O Angra dos Reis, Barra Mansa, Ceres e o Bonsucesso, por exemplo, estão numa quarta divisão, e o Tigres do Brasil, na quinta divisão. São clubes tradicionais, sem contar Campo Grande, São Cristóvão, Itaperuna e outros”, avalia.

O que o Siqueira pensa para o futuro do Friburguense

“O modelo de trabalho que a gente tinha, no pós-pandemia, foi afetado, sem nenhuma receita e perdendo o estoque que tínhamos. O trabalho de base, o sustento para o momento seguinte, tudo se perdeu. Sendo o Friburguense uma SAF, tenho o sonho de criar um consórcio de empresários, onde teríamos o futebol e o futsal profissionais no único clube profissional da cidade, usando também o clube como instrumento de pista de atletismo e toda a estrutura, fazendo muito mais do que temos feito. Aposto muito no local, e acho que o desenvolvimento do esporte precisa de uma referência em cada região. O Friburguense poderia criar várias modalidades através do consórcio, estruturando o futebol e depois criando as demais atividades. Precisamos buscar a montagem de um Centro de Treinamento, talvez em parceria com outro grande clube ou um grupo. Nosso futuro é conseguir pessoas capacitadas financeiramente, mas que olhem pelo Friburguense e deixem um legado”, diz.

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