O movimento #voltacentrodearte foi criado com o objetivo de promover a reabertura do Centro de Arte, equipamento cultural localizado na Praça Getúlio Vargas, Centro. Ponto de encontro da população consumidora de arte, e local de trabalho de artistas de todas as áreas de atuação, o espaço encontra-se fechado desde outubro de 2011. Já o teatro ali existente está fora de uso desde janeiro de 2011, quando a tragédia climática atingiu Nova Friburgo.
A atriz e pedagoga Sílvia Araújo, formada pela Uerj, professora da rede municipal no Projeto Tempo de Ser Feliz, onde desenvolve atividades de arte-educação com crianças em situação de vulnerabilidade social, é uma artista/ativista dedicada à luta pela redenção da vida cultural do município, em parceria com os inúmeros colegas do setor, igualmente empenhados. Ela conta como surgiu a ideia da ação pela reabertura do Centro de Arte:
“Esse movimento nasceu na Setorial de Teatro, se espalhou por outros grupos, nos quais teve uma expressiva adesão. Mas, foi lançado mesmo durante a gravação de uma entrevista que o Gero Band estava fazendo com a Daniela Santi, para a Cia. Arteira Convida, onde se falou muito do Centro de Arte. Da importância daquele espaço, das produções, das diversas gerações de artistas que passaram por suas salas, pelo palco do teatro. O Gero e a Daniela relembraram toda a história do Centro, o que acabou aflorando sentimentos, como a saudade. A falta que ele fazia não só para os artistas, mas para seus frequentadores, o público em geral. Então, esse ‘mantra’ volta centro de arte, de tanto a gente repetir, acabou virando #voltacentrodearte”, contou Sílvia.
Quanto à obra que o governo municipal projetou, reduzindo o número de poltronas, nós rejeitamos. “Tal como nos foi apresentada, ela afeta diretamente as artes cênicas, que é o circo, a dança, o teatro. As salas destinadas às artes plásticas foram mantidas, como sempre foram, ao contrário do espaço das artes cênicas, cujas produções ficarão inviáveis com 47 assentos, menos da metade do que tinha. Não teremos sequer o retorno da divulgação muito menos borderô suficiente para pagar elenco, equipe técnica etc. Então, partimos para unir todas as setoriais, porque esse é um movimento de todos os artistas, e deve ser do público também, o que, aliás, tem sido uma conquista gratificante. O público entendeu que, sem arte, ele também é afetado”, ressaltou Sílvia.
Aguardando a transição
De acordo com ela, a Setorial de Teatro de Nova Friburgo promoverá na próxima terça-feira, 8, às 18h, pela plataforma Zoom, uma reunião para apresentação das pessoas que estão colocando seus nomes à disposição para atuar na secretaria municipal de Cultura, na nova gestão, por indicação dos fazedores da Cultura. Na ocasião, também será feita a eleição de um desses nomes para indicação ao novo prefeito eleito, Johnny Maycon, em encontro marcado para quarta-feira, 9.
Só poderão participar pessoas ligadas ao setor, que deverão fornecer seu número para contato até segunda-feira, 7, para que no dia seja enviado o link para participação.
“Esta é a convocação para as Setoriais. Já fechamos o número de inscritos para as perguntas ao prefeito eleito. Vamos fazer a indicação de um candidato ao cargo de secretário de Cultura. Fica a critério do futuro prefeito acatar ou não”, adiantou Sílvia.
“Estamos nos movendo para que tenhamos voz e representatividade num cargo que deve atender ao desenvolvimento da cultura da cidade, valorizando e fazendo a manutenção de nossos equipamentos culturais, fomentando, cuidando e respeitando nosso patrimônio imaterial, e apoiando os artistas locais”, informou.
Única certeza é que a luta continua
De acordo com a atriz e diretora Daniela Santi, diante da publicação do edital e licitação de tomada de preços para obra de reestruturação do Centro de Arte, o Movimento decidiu buscar recursos legais para impedir a licitação devido ao descaso e desconsideração da opinião e necessidades da classe artística, quanto às resoluções relativas ao espaço. Esta licitação teve como data de abertura das propostas, o dia 13 de novembro, a sexta-feira anterior ao domingo, 15, dia da eleição municipal deste ano.
“A reivindicação da classe artística é a de que o equipamento cultural seja devolvido aos artistas e à população, e que o teatro existente no espaço, denominado Bebete Castillo, tenha um projeto técnico de acordo com a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), mas que atenda as necessidades da classe trabalhadora do setor artístico, no que se refere às medidas do palco e coxias, à circulação dos artistas, cenários, instrumentos e o que necessário para as apresentações no local. E, principalmente, tenha a quantidade de poltronas que ofereçam a possibilidade de um lucro mínimo para a reposição dos gastos com produções culturais locais e externas, a serem apresentadas”, disse Daniela.
“Não obtivemos nenhum retorno do presidente da Fundação e, após licitação, foi publicada a homologação da mesma em D.O., em 25 de novembro. No momento, estamos aguardando a transição do governo, agora buscando diálogo com o novo prefeito. Na próxima quarta-feira teremos um encontro, via Zoom, com a participação dele, quando será aberta a plenária para perguntas, entre elas questionamentos sobre o futuro do Centro de Arte.
Esperamos que o futuro secretário de Cultura esteja disposto e sensível à nossa causa. No momento, temos apenas o Teatro Municipal, que não atende às produções mais intimistas, já que é um espaço para grandes espetáculos e festivais. A Praça CEU foi inaugurada, mas não sabemos ainda como a pauta para a ocupação e utilização do teatro que existe no local, será organizada”, informou Santi.
Linha do Tempo — 2020
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10/09: Criação do movimento #voltacentrodearte;
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13/09: No Instagram, 264 publicações e 251 seguidores;
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15/09: Grupo no Facebook, 1.400 seguidores e apoiadores da causa;
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24/09: Convocada reunião virtual (Zoom), aberta ao público, com até 100 participantes: secretários do Governo, autores do projeto de recuperação do Centro de Arte, e o presidente do Conselho Municipal de Políticas Culturais (CMPC), Jorge Ayer. O projeto apresentado foi questionado pelos artistas;
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25/09: Em entrevista à Rádio Comunidade FM, Sílvia Araújo declarou que os artistas se sentiram lesados no exercício de suas atividades, pois o projeto apresentado não atendia às necessidades deles. Logo após, recebeu um telefonema do governo municipal, convocando-a para uma reunião na sede do Corpo de Bombeiros (CB). A essa reunião compareceu o presidente do Conselho, que intermediou o diálogo entre os artistas e o poder público.
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29/09: Reunião realizada no CB, com o então comandante Thiago Alecrim, com secretários municipais de Cultura e da Casa Civil, com o presidente da Fundação D. João VI, Luís Fernando Folly, e o presidente do CMPC, Jorge Ayer. Foi ‘dito’ que poderia haver um número maior de cadeiras no teatro e que seriam realizadas algumas outras alterações no projeto, indicadas pelos artistas. [O atual projeto contemplava apenas 47 lugares, sendo 4 para cadeirantes, o que foi questionado pelos artistas integrantes do movimento, em nome de todos os outros, pois o antigo teatro comportava 100 lugares, podendo chegar a 120. Como já não é permitido haver cadeiras extras, pelo menos 80 lugares foram pleiteados].
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08/10: Visita da secretária estadual de Cultura e Economia Criativa, Danielle Barros, ao Centro de Arte. Foi recebida por Daniela Santi, Jorge Ayer, Silvia Araújo, além de jornalistas entre outros. Folly apresentou as soluções para a reforma e o grupo fechou acordo verbal com as autoridades presentes, ficando acertada uma próxima reunião com os integrantes do Movimento.
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15/10: Reunião dos integrantes do Movimento com Jorge Ayer e Sílvia Araújo para relatar resultados do encontro com a secretária Danielle Barros. Anunciada a marcação de nova data para reunião com os demais secretários.
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22/10: Com a falta de comunicação por parte do poder público, o Movimento encaminhou ofício ao presidente do Conselho, solicitando a data prometida para reunião. O ofício foi enviado ao secretário municipal de Cultura, Mário Jorge Bastos.
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23/10: O secretário respondeu a J. Ayer, que a solicitação foi encaminhada ao secretário da Casa Civil e ao presidente da Fundação D. João VI.
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24/10: A prefeitura de Nova Friburgo publica no jornal A VOZ DA SERRA, o edital de licitação de tomada de preços para obra de reestruturação do Centro de Arte, o que desagradou o grupo, já que os acordos verbais não foram cumpridos.
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