Sobre a Flinf e memórias

Na culminância do empenho em criar uma Política Nacional de Leitura, Friburgo foi escolhida como a primeira do país
terça-feira, 29 de novembro de 2022
por Eliana Yunes*
Eliana Yunes (Foto: Reprodução/Instituto Quindim)
Eliana Yunes (Foto: Reprodução/Instituto Quindim)

Convidada para a Flinf, a Feira Literária de Nova Friburgo, com o tema   A leitura, a mulher e a cidade, considerei que a hipótese de ser homenageada, apesar da idade, não cabia: esta cidade tem muitos nomes históricos e memórias curtas. Acompanho o esforço da Fundação D.João VI por resgatar os monumentos, documentos e sinto quanto é curiosamente difícil fazê-lo com relação a pessoas.

Depois de acertado o feitio de uma entrevista, - aliás o toque jornalístico de todo programa da Flinf fez a diferença, - pareceu-me que era a oportunidade de lembrar nomes, embora eu não seja tão afiada de memória como meu pai e meu marido o foram. Estar junto a uma quase friburguense, professora Lúcia Fidalgo, de quem estou ao lado, faz tempo, trabalhando a leitura e a formação de leitores, poderia ser a hora e vez de puxar o assunto.

Simples, sem afetação e recuperando uma história da promoção de leitura no país que eu e também outro meio-friburguense, Francisco Gregório, lideramos o Brasil afora nos anos 90: consolidou-se uma ação de política pública que se tornou indelével, o Proler, sob a regência de outro friburguense adotivo, o poeta e escritor Affonso Romano de Sant’Anna. Claro que as histórias dariam muitos livros, algumas divertidas outras nem tanto, mas -  todas – graças também às novas tecnologias, têm formado um painel em mosaico do Brasil que lê. 

A pesquisa feita durante a pandemia pela Cátedra Unesco de Leitura, mostrou mais de um milhar de ações, projetos e programas que tomaram o timão como projeto e seguiram por seu esforço na confiança de que o Brasil não sucumbiria na ignorância dos que não lêem, ainda que alfabetizados e diplomados.

Valeu a pena rememorar que na culminância do empenho em criar uma Política Nacional de Leitura, Friburgo foi escolhida como a primeira do país para exercê-la através de uma Secretaria Especial da Leitura. Foi abortada por rádio quando houve uma alteração do comando municipal, sem sequer uma dispensa formal do friburguense emérito Francisco Gregório que estava nomeado.

Mas este curto espaço é para dizer que esta cidade teve outros moradores que a adotaram e aqui viveram como Zuenir Ventura, Egberto Gismonti, Alberto Guignard, Paulo Rónai e sua filha Cora, Affonso Romano de Santana, Marina Colasanti, Haroldo Maranhão, Maria Della Costa, Sania Cosmelli, para citar alguns, além de visitantes ilustres por períodos menores como Rui Barbosa e Machado de Assis.

Mas a grande homenagem seria memorar os nativos que nos honram ainda hoje - Edmo Zarife, Ilona Szabó de Carvalho – como ontem, educadoras das famílias Abicalil, Longo, Braune, sucedidas por sobrenomes que sustentaram  e sustentam uma educação de qualidade: Porto, Condack, Raminelli, Nader, Ayrão, Werneck, que precisam ser reconhecidos como construtores da memória que nos identifica como herdeiros de migrantes e não de colonizadores. Isto sem mencionar os mestres e alunos ilustres de colégios como o Anchieta, Fundação Getúlio Vargas e Instituto de Educação de Nova Friburgo, o Ienf.

Sei que a injustiça campeia em meio às lacunas aqui visíveis, mas é tarefa para muitos mais, além de mim, coisa que as instituições precisam se empenhar em recolher, para que as novas gerações tenham conhecimento de que seu presente tem um passado que justifica o empenho pelo futuro.

*Eliana Yunes é professora com mestrado em Letras pela PUC Rio, consultora do Instituto Interdisciplinar de Leitura e coordenadora de edições e pesquisas para a Cátedra Unesco de Leitura

 

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