Síndrome do coração partido, cardiomiopatia induzida por estresse ou ainda cardiomiopatia de Takotsubo, são os nomes pelos quais é conhecida uma doença do músculo cardíaco cuja principal característica é a disfunção súbita, mas transitória, do ventrículo esquerdo. Essa alteração usualmente é desencadeada por situações de estresse agudo emocional ou físico, seja a morte de uma pessoa querida, a perda do emprego, o rompimento de um relacionamento afetivo, um acidente automobilístico, entre outros.
De origem psicológica, a doença é também conhecida como Síndrome de Takotsubo
De maneira geral, situações que despertam forte emoção provocam aumento na produção de adrenalina e de outros hormônios do estresse pelas
glândulas adrenais. Essa descarga de adrenalina na corrente sanguínea determina um estreitamento temporário nas artérias que irrigam o coração e interfere no funcionamento do músculo cardíaco. Como resposta, o organismo pode produzir sintomas semelhantes aos do infarto agudo do miocárdio em pessoas predispostas, mas sem nenhum sinal de doenças obstrutivas nas coronárias.
As doenças cardiovasculares são as principais causas de morte no Brasil e as mulheres com idades entre 35 e 65 anos são as mais vulneráveis a essa síndrome caracterizada como de origem psicológica. Dados do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) revelam também que as brasileiras vivenciam 12% mais situações de estresse excessivo que os homens. E quando o assunto é depressão, elas são 2,3 vezes mais acometidas do que eles.
As mulheres são mais suscetíveis
A faixa etária mais exposta compreende o período da vida em que ocorre o climatério, fase de transição que marca o fim do período reprodutivo e o início da pós-menopausa para as mulheres. De acordo com a cardiologista Keila de Lolo Guerra de Freitas, “durante esse processo, há uma queda natural nos níveis de estrogênio — hormônio que exerce um papel protetor sobre o sistema cardiovascular. A redução dessa proteção hormonal torna o organismo mais suscetível a fatores de risco, como hipertensão, colesterol elevado e aterosclerose, aumentando a vulnerabilidade às doenças cardiovasculares”.
Os sintomas são muito semelhantes aos de um infarto, o que pode dificultar o diagnóstico inicial. Entre os principais sinais estão dor no peito, falta de ar, palpitações e suor excessivo. “A diferença principal é que, nos casos de cardiomiopatia por estresse, os exames não mostram obstrução das artérias coronárias, como ocorre em um infarto”, explica. Além disso, a fraqueza no músculo cardíaco geralmente é temporária, reversível e não apresenta grandes perigos para a paciente.
Embora o estresse seja associado como principal gatilho, outros fatores podem aumentar o risco de desenvolver a síndrome, como: ansiedade e depressão; hipertensão arterial; histórico familiar de doenças cardíacas; uso excessivo de estimulantes, como cafeína. “Pessoas com histórico de transtornos emocionais ou doenças cardiovasculares precisam estar ainda mais atentas aos sinais do corpo”, alerta.
Diagnóstico e tratamento
A médica ressalta que uma das razões para essa condição ser chamada de síndrome do coração partido se deve ao formato da imagem ecocardiográfica feita nas pacientes, que é um dos métodos de diagnóstico.
“Nesse exame, o coração apresenta uma imagem em que parte dele funciona normalmente, enquanto outra parte não. Isso dá a impressão de um coração 'partido', como se estivesse dividido, o que justifica o nome popular da síndrome".
O tratamento geralmente inclui medicamentos para aliviar os sintomas e estabilizar a função cardíaca, como betabloqueadores, inibidores da ECA e diuréticos. “A boa notícia é que, na maioria dos casos, o músculo cardíaco se recupera completamente em poucas semanas. No entanto, é fundamental tratar as causas emocionais que desencadearam a condição para evitar recorrências”.
“A prevenção passa pelo cuidado integral da saúde física e emocional. Aprender a gerenciar o estresse do dia a dia é fundamental para proteger o coração e ter mais qualidade de vida”, resume Keila de Freitas.
Em tempo: O coração é um grande músculo que trabalha 24 horas por dia, sem descanso. A síndrome se apresenta como uma espécie de cãibra, que altera a conformação do ventrículo e deixa de bombear sangue da forma correta.
Sobre o termo ‘takotsubo’: A síndrome foi descoberta em 1990 por médicos japoneses que identificaram as características da cardiomiopatia induzida por estresse e estabeleceram uma analogia entre a imagem do coração partido e a de uma armadilha em forma de um vaso de fundo arredondado e pescoço estreito, utilizada para capturar polvos no Japão. Daí vem o nome cardiomiopatia de takotsubo (tako = polvo + tsubo = vaso, pote) pelo qual a doença também é conhecida.
(Fontes: Min.Saúde e Drauzio Varella)
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