O suicídio continua sendo uma das principais causas de morte no mundo, com quase 700 mil vidas perdidas a cada ano. Entre jovens de 15 a 29 anos, é a quarta maior causa de morte. A coordenadora de Equidade, Doenças Crônicas Não Transmissíveis e Saúde Mental do escritório da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e da Organização Mundial da Saúde (OMS) no Brasil, Elisa Prieto, chamou a atenção para o aumento da taxa de suicídio nas Américas “única região do mundo onde o número de casos vem crescendo”. A taxa de suicídio na região aumentou 17% entre 2000 e 2019.
Américas é única região do mundo onde o número de casos vem crescendo
No mês marcado pelo Dia Mundial de Prevenção do Suicídio (10 de setembro), a OPAS e o Ministério da Saúde lançaram a versão em português do Guia de Implementação para Prevenção do Suicídio “Viver a Vida”, da OMS. A publicação traz uma abordagem abrangente com foco em quatro estratégias principais para a prevenção do suicídio:
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Limitar o acesso aos métodos de suicídio, como pesticidas e armas de fogo;
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Capacitar a mídia sobre a cobertura responsável do suicídio;
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Promover habilidades socioemocionais entre adolescentes;
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E garantir a identificação precoce, avaliação, gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada por pensamentos e comportamentos suicidas.
Sinais de alerta
O suicídio é um fenômeno complexo, multifacetado e de múltiplas determinações, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, classes sociais, idades, orientações sexuais e identidades de gênero. Mas o suicídio pode ser prevenido. Saber reconhecer os sinais de alerta em si mesmo ou em alguém próximo a você pode ser o primeiro e mais importante passo. Por isso, fique atento(a) se a pessoa demonstra comportamento suicida e procure ajudá-la.
Os sinais de alerta descritos a seguir não devem ser considerados isoladamente. Não há uma “receita” para detectar seguramente quando uma pessoa está vivenciando uma crise suicida, nem se tem algum tipo de tendência suicida. Entretanto, um indivíduo em sofrimento pode dar certos sinais, que devem chamar a atenção de seus familiares e amigos próximos, sobretudo se muitos desses sinais se manifestam ao mesmo tempo.
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O aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas: essas manifestações não devem ser interpretadas como ameaças nem como chantagens emocionais, mas sim como avisos de alerta para um risco real.
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Preocupação com sua própria morte ou falta de esperança: as pessoas sob risco de suicídio costumam falar sobre morte e suicídio mais do que o comum, confessam se sentir sem esperanças, culpadas, com falta de autoestima e têm visão negativa de sua vida e futuro. Essas ideias podem estar expressas de forma escrita, verbal ou por meio de desenhos.
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Expressão de ideias ou de intenções suicidas: fiquem atentos para os comentários, que podem parecer óbvios, mas muitas vezes são ignorados. Como: "Vou desaparecer”; “Vou deixar vocês em paz”; “Eu queria poder dormir e nunca mais acordar”; “É inútil tentar fazer algo para mudar, eu só quero me matar”.
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Isolamento: as pessoas com pensamentos suicidas podem se isolar, não atendendo a telefonemas, interagindo menos nas redes sociais, ficando em casa ou fechadas em seus quartos, reduzindo ou cancelando todas as atividades sociais, principalmente aquelas que costumavam e gostavam de fazer.
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Outros fatores: exposição ao agrotóxico, perda de emprego, crises políticas e econômicas, discriminação por orientação sexual e identidade de gênero, agressões psicológicas e/ou físicas, sofrimento no trabalho, diminuição ou ausência de autocuidado, conflitos familiares, perda de um ente querido, doenças crônicas, dolorosas e/ou incapacitantes, entre outros podem ser fatores que vulnerabilizam, ainda que não possam ser considerados como determinantes para o suicídio. Sendo assim, devem ser levados em consideração se o indivíduo apresenta outros sinais de alerta para o suicídio.
“Quero morrer”
As pessoas que tentaram se matar relatam que o desespero beira o insuportável e a vida perde o sentido. Segundo dados da OMS a cada 40 segundos uma pessoa se suicida. Ainda assim, quase não se fala sobre o tema, que atrai a atenção de filósofos, médicos, sociólogos. Especialistas apontam o tabu como um empecilho. “Tanto a sociedade quanto os sobreviventes do suicídio têm dificuldade em falar do assunto. Tirar a própria vida é um contrassenso em relação a tudo o que normalmente buscamos em nossa existência”.
Quem enfrenta a perda costuma ter culpa, vergonha, fracasso e até raiva. “É importante que o enlutado entenda que o suicida estava adoecido emocionalmente e que procure encontrar um significado para o que aconteceu”, apontam. Depoimento de quem perdeu um ente querido para o suicídio:
“Perdi meu pai há 20 anos, quando ele tinha 52 e eu, 24. Ele foi até a casa da mãe, que havia falecido uns meses antes, ligou o gás do forno e fechou a cozinha. Ele era uma pessoa amorosa, presente, benquista por todos. Não parecia ser depressivo, mas não falava das próprias emoções, era reservado. Quando me casei fui morar em outro estado. Três dias depois, recebi por telefone a informação de que ele tinha falecido.
Depois, soube pela minha mãe que, três dias antes do suicídio, ele estava mais recolhido, não saía nem do quarto. Na noite em que tirou a própria vida, chegou a ligar para um irmão do qual era próximo, mas ele não pôde atendê-lo. Jamais saberemos se seria um pedido de ajuda. Me lembro que eu tinha vergonha de falar sobre o suicídio dele, dizia que meu pai teve um infarto fulminante. Foi muito difícil aceitar.
Um dia, meu ex-marido falou: ‘O que posso fazer pra aliviar sua tristeza?’. Respondi que só queria dez minutos com meu pai, para dar um beijo nele e abraçá-lo. Fui dormir chorando e sonhei com ele. Um ano depois, em uma noite de profunda tristeza, vi uma propaganda do Centro de Valorização da Vida, falando do serviço gratuito de apoio emocional, feito por voluntários. Liguei e foi um alívio. Finalmente, falava com alguém que me ouvia de maneira neutra, carinhosa e respeitosa, sem me vitimizar, nem julgar. Alguns dias depois, voltei para o Rio e acabei me tornando voluntária também.”
(D. M. F., 44, empresária, RJ)
Peça ajuda!
Pensamentos e sentimentos de querer acabar com a própria vida podem ser insuportáveis e pode ser muito difícil saber o que fazer e como superar esses sentimentos, mas existe ajuda disponível. É muito importante conversar com alguém que você confie. Não hesite em pedir ajuda, você pode precisar de alguém que te acompanhe e te auxilie a entrar em contato com os serviços de suporte. Quando você pede ajuda, você tem o direito de:
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Ser respeitado e levado a sério;
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Ter o seu sofrimento levado em consideração;
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Falar em privacidade com as pessoas sobre você mesmo e sua situação;
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Ser escutado;
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Ser encorajado a se recuperar.
Toda pessoa encontra ajuda nos Caps (Centros de Atenção Psicossociais) e UBS’s (Saúde da família, Postos e Centros de Saúde); na UPA 24h, Samu 192, Pronto Socorro; Hospitais; e Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita).
O CVV realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo — não importando classe social, cor, religião, sexo ou filiação partidária — por telefone, e-mail, chat e VoIP 24 horas todos os dias.
A ligação para o CVV em parceria com o SUS, por meio do número 188, são gratuitas a partir de qualquer linha telefônica fixa ou celular. Também é possível acessar
www.cvv.org.br para mais informações sobre todos os canais de ajuda disponíveis.
São 78 postos de atendimento, nos quais são feitos mais de 3 milhões de atendimentos anuais, por aproximadamente 3.500 voluntários, presentes em 20 estados, além do Distrito Federal.
O CVV é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como de Utilidade Pública Federal desde 1973. É associada ao Befrienders Worldwide, que congrega entidades congêneres de todo o mundo, tendo participado da força-tarefa que elaborou a Política Nacional de Prevenção do Suicídio, do Ministério da Saúde, com quem mantém, desde 2015, um acordo de cooperação que permitiu a implantação da linha nacional 188, portanto, disponível em todo o território nacional.
(Fontes: gov.br; paho.org /ippesbrasil.com.br)
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