Scheila Santiago, uma amante do disco de vinil

sexta-feira, 22 de abril de 2022
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Scheila com Tulipa Ruiz
Scheila com Tulipa Ruiz

Foi com o pai Abel, que ouvia música clássica, que a jornalista Scheila Santiago teve o primeiro contato com discos. Mais tarde, com o pai de seus filhos, Nilson, o músico ‘Gordinho’, conheceu diversos artistas, pelos quais se apaixonou através do vinil:

“Ele tem discos raros, que não empresta e não vende. Um deles é Stravinsky-Petrouchka (1958), e dois discos que marcaram sua adolescência: Deep Purple ‘Machine Head’, e Alice Cooper ‘Billion Dollar Babies’ (edição raríssima porque veio com um encarte de uma nota de One Billion). O Nilson não deixa ninguém nem chegar perto, só o nosso filho, Led, porque é herdeiro!”, conta Scheila, rindo.

Para ela, ouvir um vinil é para quem gosta de ‘degustar’ música e, preocupada com estado do toca-discos recomenda aos leitores adeptos: limpar com um pincel só pra retirar aquela poeirinha fina e um pano que não solte fios; e tem que verificar antes de colocar o disco se a agulha ainda está legal. 

“Depois vem o ritual para escolher o disco do dia. É sempre bom verificar se está limpo e se não precisa trocar o plástico interno. É bom reservar um tempo para essa ‘audição’, porque, enquanto ele toca, você ‘degusta’ também a arte da capa. A música tem sempre alguma história, ligação com algum momento. Passei muito tempo só escutando discos de vinil, hoje em dia, nem tanto, escuto em todo tipo de plataforma. A música só tem que ser boa para os meus ouvidos. Mas… vinil é vinil, né? Tem coisa mais charmosa do que um bolachão, com aquele chiadinho típico que alguns têm?”, ela provoca.  

Há quem considere que o vinil tem um ‘jeito próprio de ser’, e talvez por isso seja tratado até como uma peça de arte. E Scheila concorda. 

“Sim, disco de vinil é um objeto de arte, é lindo, a maioria preto, alguns coloridos, com aqueles ‘risquinhos’ fininhos das faixas. Faz parte do ritual ao ouvir o disco, ler o que está escrito, seja na capa, no encarte, quando tem, ou no selo de cada lado do disco. Porque vinil tem 2 lados, né? A e B. Coisa que já não acontece com CD, DVD, com raras exceções. Adoro quando minha mãe Rita vai à minha casa e coloco os discos dos gêneros que ela mais gosta, como Martinho da Vila, Nelson Gonçalves, e ela canta junto, sabe as letras todas, aos 84 anos. Amo demais isso!”, conta.
 

Mercado e novas demandas

Em relação ao mercado, Scheila revela que em feiras e eventos como o ‘Encontro de Vinil’ (que ela promove em Friburgo desde 2014), ainda é possível encontrar raridades em bom estado de conservação.

“Discos de Led Zeppelin [seu filho se chama Led por causa da banda] e Pink Floyd, por exemplo, ainda podem ser encontrados, mas é o ‘colecionador’ que coloca o preço. E alguns deles não se desfazem de jeito nenhum, mesmo quando vai envelhecendo. Disco de vinil é cultura, é história, e bota história nisso. Difícil passar adiante!”.

 

O que mudou com o interesse da galera millennial que vem entrando com força no mercado? 

“É um fato. Essa onda de voltar a ‘consumir’ disco de vinil, no Brasil, em 2014, foi o que me levou a criar o projeto Encontro de Vinil. Nos EUA, por exemplo, o mercado teve queda, mas não como aqui. E aí, até artistas que nunca tinham pensado em gravar em vinil, estão aderindo. Lembro quando comprei o da Tulipa Ruiz quando ela fez show em Friburgo, há oito anos. Se eu já gostava do trabalho dela, e tenho até CD dela, subiu ainda mais no meu conceito. Isso é um diferencial do artista, ele, de certa forma, quer ‘imortalizar’ sua obra de arte. O disco de vinil ocupa um lugar importante na casa de quem o compra, tem que ter ‘O’ cantinho, ‘O’ lugar! Acredito que muitos artistas queiram ter o seu, mas o custo é elevado. É muito legal escutar um jovem falando sobre o disco X que está procurando porque faz lembrar que as gerações anteriores à sua ouviam ‘esse tipo’ disco. Essa relação amorosa com o passado é muito linda”, ressalta. 

 

Há cerca de cinco anos o vinil estava na moda para um determinado consumidor, sendo 80% dos compradores homens entre 40 e 60 anos. Como está hoje?

“Confesso que conheço mais homens do que mulheres que ainda gostam dos discos de vinil, entre 40 a 70, 80 anos. Mas, muitos jovens também. Quase sempre são as mulheres que me procuram quando estou produzindo mais uma edição do Encontro de Vinil, para vender discos herdados da família. Curioso isso! Quando um disco está arranhado, empenado, impossibilitado de tocar, ele pode servir para artesanato, para outro tipo de obra de arte. Sempre tento dar uma destino que não seja o lixo. Ganhei duas caixas enormes com discos de vinil mas ainda não consegui ver o estado de conservação, os artistas, gêneros, épocas, essas coisas. Precisa ter cuidado com fungo, porque já tive problema de saúde com isso, de tanto lidar com esses discos antigos. Acho que lançarei a campanha ‘Cuide dos seus discos de vinil! Eles agradecem!’”, adianta Scheila, com bom humor. 

 

Em tempo: Se não houver imprevistos este ano, Scheila pretende realizar o 7º Encontro de Vinil, presencial. Quem quiser vender algum disco de vinil precisa reservar vaga, pois o evento atrai colecionadores de outras cidades. Para obter mais informações acesse: http://encontrodevinil.blogspot.com. 

 

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