“No meu tempo era assim e não morri!” Quantas vezes ouvimos essa frase, falada por pessoas mais velhas, geralmente opinando na criação e educação de alguma criança. O tempo passou, pesquisas e estudos estão sempre trazendo novas preconizações, formas e experiências ao cuidar da saúde e da emoção dos pequenos, desde a barriga da mamãe. E, uma das novidades acontece exatamente durante a gravidez: a primeira consulta com o pediatra que vai cuidar do bebê.
“O ideal é que no terceiro trimestre da gestação, os pais conheçam o pediatra que vai acompanhar a criança. Nessa consulta, receberão a orientação sobre amamentação, os primeiros cuidados com o bebê, esclarecerão suas dúvidas, poderão falar sobre os conselhos que recebem, se são mitos ou verdade e conhecerão os primeiros exames que os bebês devem fazer”, explica a pneumopediatra Renata Salgado.
E, foi época em que o recém nascido só fazia o teste do pezinho. Hoje, ainda na maternidade, o bebê é submetido a vários exames, que podem diagnosticar doenças que, quanto antes tratadas, melhor. “Todos os testes são indolores e feitos nas primeiras 36 horas de vida do bebê. O teste do coraçãozinho avalia patologias cardíacas, malformações etc. O teste do olhinho é feito pelo pediatra mesmo e avalia alterações histológicas, como catarata congênita, retinoblastoma, que é o tipo de tumor entre outras. Também fazemos o teste da orelhinha, quando avaliamos uma possível surdez congênita e outras alterações do sistema auditivo. Um dos mais importantes exames feitos na maternidade ainda é o teste da linguinha, quando avaliamos se o bebê tem frênulo lingual curto, conhecido como freio curto, que impacta negativamente na alimentação”, enumera a pneumopediatra.
Depois que deixa a maternidade, o bebê deve continuar sendo acompanhado por um pediatra. Antes mesmo do primeiro mês de vida, ele deve passar pela consulta de puericultura. No primeiro ano, as consultas devem ser mensais. “Isso é a pediatria preventiva do primeiro ano de vida, quando a gente avalia mensalmente o crescimento, desenvolvimento, peso, estatura, perímetro cefálico, vacinas. Depois, entre 1 e 2 anos, a consulta deve ser a cada três meses e, a partir dos 2 anos a consulta é semestral ou de acordo com a necessidade”, orienta a médica.
Leite materno: o alimento de ouro
A amamentação vem ganhando a importância que realmente deve ter. Preconizado como o único alimento desde o nascimento até os seis meses de vida do bebê, o leite materno deve continuar sendo oferecido até os 2 anos de vida. “O leite materno tem todas as vitaminas, nutrientes, proteções que o bebê precisa. Até os seis meses, a amamentação deve ser exclusiva e em livre demanda. A Sociedade Brasileira de Pediatria orienta amamentar pelo menos até os dois anos. Depois disso, até quando a mãe quiser”, elucida Renata Salgado.
A introdução de alimentos ganhou também nova forma. Antigamente, começava-se pelos suquinhos, depois fruta e em seguida, a sopa batida. E tinha que ser nos meses determinados. “Atualmente, a introdução alimentar é feita a partir dos seis meses e quando a criança tem sinais de prontidão. Às vezes, a criança tem seis meses, mas ainda não tem os sinais de prontidão, que são: sentar com o mínimo apoio, se interessar pelo que o adulto está comendo, levar os objetos à boca e não ter uma protusão de língua muito importante. Estando pronta, a criança pode comer qualquer legume e fruta. Não tem mais a regra de começar primeiro com a fruta. Podemos começar oferecendo uma frutinha, ou ainda uma comidinha e também os dois juntos ”, explica ela.
A importância das vacinas
Infelizmente, um dos atos de amor e de cuidado com a saúde que toda criança merece ter está sendo deixado de lado com um movimento antivacina. O Programa Nacional de Imunização do Brasil é um dos mais completos do mundo. Os brasileiros têm ao seu dispor cada vez mais um número maior de imunizantes gratuitamente. Mas, desde 2015, vem tendo sinais de queda da cobertura vacinal para todas as vacinas, que foi agravada na pandemia da Covid-19.
Com isso, o risco do retorno de doenças já erradicadas no Brasil está batendo à porta. “No primeiro ano de vida principalmente, a criança toma muitas vacinas. É a partir delas que a criança cria imunidade para muitas doenças, que são as preveníveis por imunizantes. Não tem porque não vacinar o filho. São imunizantes seguros, testados. A vacina é um pacto coletivo. Quando você vacina seu filho para protegê-lo, você também protege outros”, enfatiza a pneumopediatra.
Cada vez mais, as pessoas estão se conscientizando sobre a importância da saúde emocional e do quanto ela influi na saúde física. E os cuidados devem começar desde o nascimento do bebê. “O cuidado com a saúde emocional já começa quando, ao invés de deixar o bebê chorando, você o acolhe e procura entender o que aquilo significa. Quando o ser humano chega ao mundo, chega totalmente dependente e procura arduamente um lugar que possa se sentir seguro. Geralmente esse lugar é o colo, o peito, o aconchego que seu cuidador vai proporcionar. Bebês que se sentem inseguros e desprotegidos tendem a desenvolver questões emocionais”, explica a psicóloga Isadora Bezerra.
Ela enfatiza ainda que para o bebê, o ato de mamar, vai além de simplesmente se alimentar. “Tem algo que chamamos de sucção não nutritiva, que é o ato do bebê chupar o peito, mas sem necessariamente estar com fome. Essa sucção oferece ao bebê a sensação de segurança e proteção, que são essenciais para acalmar e proporcionar um relaxamento. Um bebê que chora constantemente e não tem suas necessidades (que não são só fisiológicas) atendidas, tende a entrar em estado de estresse crônico o que atrapalha seu sono, e um bebê que não dorme, não se desenvolve adequadamente”, completa Isadora.
Escuta com atenção
Os cuidados com o emocional das crianças não param por aí. Pensando em estar preparando os filhos para um melhor futuro profissional, muitos pais matriculam os filhos em diversos cursos, ocupando todo o tempo da criança.
A psicóloga orienta que é interessante observar qual a função dessas atividades na vida da criança.” É claro que oferecer atividades de formação são importantes, mas sobrecarregar o tempo da criança com todas as atividades possíveis não parece um bom caminho. Quando em crianças pequenas, o tempo ocioso é de extrema importância para o estímulo da criatividade e das brincadeiras lúdicas.
O brincar para a criança tem função terapêutica e é a forma de lidar com os próprios conflitos internos. Se não há espaço para isso, pode ser que suas emoções sejam reprimidas e que isso tenha efeitos negativos no futuro. Pois quando maiores, sobrecarregá-los de tarefas pode criar a sensação que são obrigados a produzirem o tempo todo. E assim, se tornarão adultos que se cobram o tempo todo”, explica ela.
Há casos também de pais, que para oferecer todos os cursos para os filhos, se ocupam demais, chegam em casa cansados e não tem mais ânimo para dar atenção aos pequenos.
De acordo com Isadora, não é só o comportamento pais-filhos que entram na equação. “São questões que vão além do psicológico e englobam questões socioeconômicas. Mas, tem algumas mudanças na rotina que podem contribuir para a relação entre a família se tornar mais harmônica. O que a criança precisa é se sentir ouvido, ter sua atenção e se sentir amado. Se você conseguir parar meia hora do seu dia, para escutar o que seu filho tem a dizer, brincar com ele, entrar em contato com seu mundo, já é um baita avanço. Não existe essa história de compensar, por mais que a gente tente, o tempo que passamos longe não é recuperado. O que importa é qual o valor e a qualidade do tempo em que estão juntos”, enfatiza a psicóloga.
Melhor presente para o Dia das Crianças
Com a proximidade do Dia das Crianças, muitos pais tendem a compensar a culpa que sentem por não estar tão presentes na vida do filho, com presentes caros ou dando tudo o que a criança quer. “É importante desmistificar a ideia de que precisa por algo no lugar. Nenhum extremo é interessante. Não dar nada ou dar tudo. É importante para uma criança que aprenda a lidar com limites, lidar com o não e com sua frustração diante disso. Obviamente, tudo isso, feito de forma respeitosa, ouvindo e validando o ponto de vista da criança. Não podemos agir como se as crianças fossem marionetes que devem obedecer cegamente e agir conforme nossa vontade. As crianças são seres humanos em formação, descobrindo seus gostos e desejos. E por isso, nossa função é orientar e intervir quando necessário. Tudo na base da conversa, escuta e acolhimento”, explica a psicóloga.
Assim como a saúde física, os pais devem zelar pela saúde emocional das crianças. De acordo com Isadora, o melhor caminho é entender que as crianças são seres humanos como os adultos. “Elas precisam de atenção, escuta e acolhimento. Oferecer momentos prazerosos e divertidos criará memórias incríveis com seus filhos e aumentará o vínculo existente entre vocês. Sabemos que a rotina nos impõe muito trabalho e falta de tempo, mas se você puder deixar algo para fazer depois e dar ao seu filho 30 minutos exclusivamente para ele, já será de bom tamanho”, finalizou ela.
Mitos e verdades sobre a saúde infantil
Durante os últimos anos, muitas preconizações nos cuidados dos bebês e das crianças foram mudando. E, o que os avós acreditavam ser o melhor para os pequenos, muitas vezes, são apenas mitos. A pneumopediatra Renata Salgado traz à luz o que é mito ou verdade saúde e evolução dos bebês e crianças.
1 – Bebê que mama no peito, quando tem sede tem que dar água
MITO: Não precisa dar água, chazinho, suquinho, nada disso. Só o leite materno mesmo. Nem o bebê que usa fórmula precisa beber água até os seis meses de idade. A gente só começa a dar água quando faz introdução alimentar
2 – Existem mães com leite fraco
MITO: Não existe leite materno fraco. O que pode acontecer é uma baixa produção de leite ou, pelo uso de alguma medicação, a produção cair, uma pega incorreta ou alguma outra alteração que impacte na amamentação. Aí é só questão de ajuste, mas o leite fraco não existe.
3 – Criança só pode comer açúcar a partir dos 2 anos.
VERDADE: O açúcar é totalmente contra indicado até os 2 anos de idade. A partir desa idade é permitido com restrição, mas não é liberado totalmente. A orientação inclusive mudou muito. Um exemplo é que antigamente, a gente começava alimentação com suquinho de laranja lima. Hoje, suco só deve ser oferecido, assim mesmo com restrição, depois de um ano.
4 – As primeiras sopinhas dos bebês devem ser batidas no liquidificador
MITO: A introdução alimentar deve ser feita na maioria das vezes, com alimentos amassados grosseiramente, nunca batidos no liquidificador e, sempre com pedaços. O ideal é que ele seja separado, nada misturado para criança identificar o que ela está comendo. Não se oferece papinha batida no liquidificador porque a criança não sabe que ela está comendo e não precisa mastigar, porque ela bota na boca e engole, não faz o movimento de mastigação e também porque tira toda a fibra do alimento. Também não se usa sal até 1 ano. Pode acrescentar temperos naturais à vontade, como cebola, cebolinha, salsinha, manjericão, manjerona, coentro entre outros.
5 – Bebês sentem mais frio que adultos
VERDADE: Sim. Eles têm o centro termorregulador ainda imaturo. Então realmente eles sentem mais frio.
6 – Banho frio baixa a febre
VERDADE, MAS NÃO RECOMENDADO: Esse ano saiu uma nova orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria, desorientando o banho frio para baixar a febre. O desconforto, o estresse que causa no neném, na criança é maior do que o benefício para baixar a temperatura. Com o banho frio, a gente vai só vai conseguir baixar a temperatura no momento, então não tem necessidade. Melhor fazer um antitérmico e esperar.
7 – Pisar no chão frio descalço dá gripe, infecção de garganta etc
MITO: Tomar sorvete, andar descalço, banho de piscina, cachoeira, nada disso causa gripe, resfriado ou infecção de garganta. As infecções são causadas por vírus e bactérias que são transmitidos pela via respiratória. Então os vírus e bactérias, não vão entrar pelo pé, nem vão estar o sorvete, na água da piscina ou cachoeira.
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