Uma empresa familiar, onde o amor e o respeito aos antepassados e ao jornalismo imparcial, sério e responsável são o alimento diário de sobrevivência. Assim podemos falar do jornal A VOZ DA SERRA, que chega aos 76 anos neste dia 7 de abril de 2021. E, nesse último ano, com a crise causada pela pandemia da Covid-19, foi preciso mais que amor e respeito, para continuar com as versões impressas, presentes diariamente na vida dos friburguenses, nas casas e escritórios ou nas bancas, onde muitos param para “tirar leite” das chamadas de capa do exemplar pendurado.
Foram necessárias coragem e certa teimosia, devido ao aumento dos valores dos insumos para impressão, já que são cotados em dólar, que aconteceu juntamente com a crise da falta de papéis e a queda de anunciantes. “Fazer jornal no Rio é fácil. Quero ver é fazer jornal em Friburgo. São dificuldades de toda ordem. De anunciantes, de pessoal, de equipamentos e até de leitores. No interior as pessoas ainda preferem os jornais de fora, o que é um contrassenso, pois é mais importante ver no jornal o que acontece na nossa cidade”, disse o mestre do jornalismo, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras, Zuenir Ventura.
A VOZ DA SERRA é o único impresso diário circulando em Nova Friburgo, desde 1995, quando deixou de ser trissemanal. Sempre buscando inovar para oferecer o melhor aos leitores, assinantes e anunciantes, A VOZ DA SERRA chegou ao mundo digital, lançando seu primeiro site em 1997. E sua versão impressa ganhou cores em 1999, quando foi publicado o primeiro número em policromia.
Jornais mais antigos
O jornal mais antigo da Região Serrana é o Tribuna de Petrópolis, com 118 anos de existência. Mas, há um ano, exatamente no início da pandemia da Covid-19, deixou de ter a versão impressa, contando apenas com a versão digital. A empresa também tem uma emissora de rádio. Na vizinha Teresópolis, o Teresópolis Jornal, com 99 anos, também só conta com a versão digital hoje. A empresa possui uma TV e uma emissora de rádio.
O Diário de Teresópolis, com 32 anos de existência, é o único impresso da cidade, mas desde abril de 2020, sua periodicidade é semanal, podendo ser encontrado nas bancas aos sábados. “Isso se deve à redução de anúncios publicitários, aos decretos municipais proibirem jornais em escritórios, consultórios, barbearias e ainda reduzirem o funcionamento das bancas de jornais”, explica Wanderley Peres Júnior, diretor do Diário de Teresópolis, que tem sua versão digital diária e conta também com emissora de TV a cabo.
Na Região Serrana, além de A VOZ DA SERRA, apenas O Diário de Petrópolis, da Cidade Imperial, continua com versão impressa diária. Com 66 anos de história, é o segundo impresso mais antigo da região ainda em circulação. “Seguimos com o impresso, com muito sacrifício, principalmente nesse último ano, com o surgimento da pandemia”, disse Paulo Antônio Carneiro, que está à frente do jornal há 50 anos e que foi companheiro do patrono de A VOZ DA SERRA, Laercio Ventura, na luta pela sobrevivência e crescimento dos jornais do interior, época em que faziam parte de Associações de Jornais do Interior, não só do Rio de Janeiro, mas também do Brasil. O Diário de Petrópolis também tem sua versão digital.
A crise causada pela pandemia não atingiu somente jornais do interior, prejudicou também grandes empresas jornalísticas nacionais e internacionais. Um deles foi o esportivo Lance!, que deixou de circular em 21 de março de 2020, ficando apenas com a versão digital. Em São Paulo, o Metrô, que era distribuído gratuitamente nas ruas da cidade, agora também só existe na versão digital. Nos EUA, o grupo Sacramento News and Review, da Califórnia, suspendeu as edições impressas dos seus jornais. A última que saiu foi em 21 de março de 2020. Dos sobreviventes, muitos jornais reduziram seus cadernos, suplementos, editorias, e o número de páginas.
Credibilidade para combater notícias falsas
Ao mesmo tempo em que os jornais impressos diminuíram seus tamanhos ou edições, durante a pandemia, a importância das informações verdadeiras aumentou, passando a ser vital. A credibilidade dos jornais, com informações apuradas, verificadas, ouvindo todos os envolvidos e lados, prestando serviço e informando a sociedade se faz necessário, em um mundo onde polarização e a política tomou conta de todos os assuntos. Além disso, diariamente vê-se nas redes sociais, a disseminação e compartilhamento de notícias falsas, as famosas fake news.
“A apuração dá trabalho e deve ser feita por jornalistas profissionais. A internet trouxe vantagens, possibilidades de externar opiniões, mas trouxe equívocos também, como por exemplo, achar que jornalismo é gravar um acidente, descrever o que está ‘vendo’. Na verdade, a pessoa não está apurando nada, não está assumindo nenhum compromisso com o que está relatando. As redes sociais são um mundo sem lei, sem critério. Há exceções, naturalmente”, observa o mestre, Zuenir Ventura.
O jornalismo, feito de forma séria, servirá de fonte para contar esse momento histórico. E, em Nova Friburgo, A VOZ DA SERRA mostra o que vem acontecendo na cidade nos últimos 76 anos e contará às futuras gerações o que está acontecendo hoje. E, apesar da facilidade dos meios digitais, folhear a história, através dos jornais impressos seja do que aconteceu no dia de ontem ou no século passado, tem outro sabor.
“A imprensa acompanha os avanços da tecnologia, a mudança do comportamento do leitor e alguns jornais sobrevivem aos ventos revolucionários. Os que resistem são até adotados pela cidade, como é o caso de A VOZ DA SERRA. Esse jornal tornou-se um patrimônio do município e não obstante ter a sua versão eletrônica, nos permite ainda o prazer de gestos simples e deliciosos como ir a uma banca, comprar o jornal e sentir a sua materialidade no contato com o papel. Recordando Machado de Assis “que prazer barato”, disse a historiadora JanaÍna Botelho.
O desafio de A VOZ DA SERRA
Segundo a diretora de A VOZ DA SERRA, Adriana Ventura, o jornal também vem enfrentando sérios problemas nesse segundo ano de pandemia. “Em 2020 sob o impacto da Covid 19, apesar de autorização para funcionar por ser serviço essencial, o impresso só deixou de circular por três dias em março. Foi necessário tomar medidas para reorganizar a empresa, estabelecendo o trabalho remoto para funcionários com mais de 60 anos, os de grupo de risco, grávidas, além de revezamento de setores presenciais, mas nenhuma redução de salário ou jornada, nem dispensa de funcionários”, revelou Adriana.
Também foram adotados e intensificados os protocolos de segurança, com todos acreditando que “teríamos pela frente um sacrifício de um ano. Agora com o agravamento da pandemia no país, com a dolarização dos insumos para a impressão de jornais e todas as retrações do mercado, com empresários confusos e apavorados, estuda-se também implantar a diminuição de circulação, como a única maneira de tentar sobreviver”, ressaltou a diretora.
Ela avalia que a empresa tem hoje diante de si o momento mais crítico dos últimos meses, e que será preciso ter muito mais do que coragem para continuar. “Precisamos de apoio. Sem sucesso na negociação no aluguel da sede, aumentos sucessivos de insumos e sem medidas eficazes de apoio do governo federal e estadual para as pequenas empresas, essa é a realidade a ser enfrentada, e que envolve todo o setor de impressão de jornais”.
Adriana Ventura lamenta que a cidade não dê valor ao seu único jornal, o principal veículo de informação e de apoio às demandas da população, durante décadas. Dói constatar que os friburguenses pouco se importam que neste triste ano de 2021, A VOZ DA SERRA complete neste dia, 7 de abril, 76 anos de fundação, sem o apoio das empresas que não incluem o jornal impresso em seus planos de mídia, mas continuam presentes em outros meios de comunicação. Desta forma, Nova Friburgo dá vários passos para trás na história desta cidade e de seus cidadãos.
“A população não tem noção do tesouro que tem em sua terra natal, que passou de geração em geração, descrevendo sua trajetória e que hoje, corre o risco de perder seu único jornal impresso”, encerrou a diretora.
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