O impacto da internet e dos jogos eletrônicos em crianças: entre riscos e oportunidades

A linha tênue entre os benefícios e malefícios que tecnologia traz para os nativos digitais
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
por Liz Tamane
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)
Com o avanço tecnológico, a presença da internet e dos jogos eletrônicos na vida das crianças tornou-se uma constante. A psicóloga Rebeca Peixoto explica que, embora essas ferramentas ofereçam benefícios, como o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras, o uso excessivo e inadequado pode causar uma série de efeitos negativos no desenvolvimento infantil, que afetam tanto o comportamento quanto a saúde emocional e física das crianças.

A combinação equilibrada entre brincadeiras offline e o uso consciente da tecnologia é essencial para garantir o desenvolvimento completo e saudável das crianças.
No Brasil,  86% das crianças e adolescentes usam a internet diariamente e 80% da faixa etária de até 12 anos acessa no mínimo uma vez por dia. Do total que “não usa”, 15% vive em área rural e 2,5% em área urbana. Os dados são da pesquisa "Consulta Brasil: o que as crianças e adolescentes têm a dizer sobre o uso das tecnologias da informação e comunicação (TIC)", uma iniciativa da Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), em parceria com a entidade civil Viração Educomunicação.

Segundo a pesquisa, 51% das crianças e adolescentes se abrem mais na internet do que com os pais. Para completar, 46% delas afirmam que se tivessem mais atenção da família, passariam menos tempo no celular.

Efeitos adversos do uso excessivo da internet

De acordo com Rebeca Peixoto, o uso excessivo da internet está frequentemente associado a sintomas de ansiedade e depressão em crianças e adolescentes. "As redes sociais, em particular, estimulam comparações constantes com padrões irreais de beleza e sucesso, o que pode distorcer a percepção de realidade e impactar a autoestima dos jovens. Isso não afeta apenas a infância e adolescência, mas muitas vezes persiste até a vida adulta", destaca a psicóloga.

Além disso, a preferência por interações online em detrimento das relações presenciais pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades sociais e de empatia, essenciais para construir relacionamentos saudáveis no mundo offline. Esse isolamento social, alimentado pelo excesso de tempo dedicado à internet, cria um ciclo de solidão e enfraquecimento das conexões familiares e de amizades, o que também compromete a capacidade das crianças de resolver problemas em grupo e participar de atividades coletivas.

Outro ponto levantado por Rebeca é o impacto da internet no sono das crianças. "O uso inadequado da tecnologia afeta diretamente o desenvolvimento físico e cognitivo das crianças, principalmente por causar distúrbios no sono. Isso compromete o desempenho escolar, a capacidade de concentração e a regulação do humor, aumentando a propensão a comportamentos impulsivos e compulsivos", afirma.

A psicóloga ainda alerta para o desenvolvimento de uma dependência tecnológica, em que as crianças sentem ansiedade e irritabilidade quando estão desconectadas. "Esse ciclo vicioso de alívio ao voltar para o mundo digital é difícil de ser rompido sem intervenção adequada", pontua.

O papel dos jogos eletrônicos no desenvolvimento infantil

Apesar dos riscos, Rebeca Peixoto ressalta que os jogos eletrônicos podem ter um impacto positivo no desenvolvimento das crianças, desde que usados com moderação e de maneira adequada à faixa etária. Jogos educativos, por exemplo, são amplamente utilizados em processos terapêuticos e de reabilitação, ajudando a desenvolver habilidades cognitivas e motoras, como raciocínio lógico, organização e planejamento. Além disso, os jogos podem estimular a regulação emocional, expondo as crianças à frustração de perder e à necessidade de persistência, fatores importantes para o fortalecimento da autoestima.

"Os jogos têm um potencial de contribuir para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais. Ao enfrentar desafios, as crianças podem aprender a lidar com a frustração e desenvolver um senso de autoeficácia, percebendo que são capazes de definir metas e alcançá-las", afirma Rebeca.

No entanto, a exposição prolongada a estímulos visuais e sonoros intensos pode prejudicar a capacidade de concentração das crianças em atividades menos estimulantes, como os estudos. "As recompensas rápidas e constantes nos jogos prejudicam o foco e a atenção, o que acaba impactando negativamente o processo de aprendizagem", explica.

Limites e a importância de hábitos saudáveis

A criação de hábitos saudáveis em relação ao uso da internet e dos jogos eletrônicos depende, na maioria, dos responsáveis, que devem servir como modelo de comportamento. Rebeca destaca que é fundamental estabelecer limites claros de tempo de uso diário, especialmente para adolescentes que têm acesso mais livre à tecnologia. "É importante definir locais e horários em que o uso da tecnologia não seja permitido, como durante as refeições e antes de dormir, a fim de prevenir distúrbios de sono e fortalecer as interações familiares", recomenda.

Outro ponto crucial é incentivar atividades offline, como esportes e brincadeiras ao ar livre, promovendo um equilíbrio saudável entre o mundo online e o offline. Acompanhamento e supervisão dos conteúdos acessados pelas crianças também são essenciais para garantir a segurança online e evitar exposição a comportamentos inadequados, como o cyberbullying.

O papel da escola na educação digital

Por fim, a psicóloga destaca a importância da escola como aliada na educação sobre o uso consciente da internet e dos jogos eletrônicos. "As crianças de hoje são nativas digitais, e a escola tem um papel central na orientação sobre o uso dessas ferramentas. É essencial que temas como ética e segurança no ambiente online sejam abordados de forma sistemática, preparando os jovens para o mundo digital com responsabilidade", conclui Rebeca Peixoto.

Assim, tanto os pais quanto as instituições de ensino devem estar atentos ao equilíbrio entre o uso da tecnologia e o desenvolvimento saudável das crianças. A internet e os jogos eletrônicos, quando utilizados de forma consciente e moderada, podem ser ferramentas valiosas para o aprendizado e o desenvolvimento, mas exigem supervisão constante para que seus benefícios sejam aproveitados sem comprometer o bem-estar das novas gerações.

A importância das brincadeiras offline no desenvolvimento infantil

Com o crescente uso de dispositivos eletrônicos e o acesso contínuo à internet, as brincadeiras offline têm se tornado cada vez mais raras na rotina de muitas crianças. No entanto, atividades lúdicas fora do ambiente digital são fundamentais para o desenvolvimento físico, emocional e social dos pequenos. Brincadeiras ao ar livre, jogos de tabuleiro e atividades manuais oferecem benefícios que vão além da diversão, contribuindo de maneira significativa para o crescimento saudável e equilibrado.

As brincadeiras offline estimulam a criatividade, a capacidade de resolução de problemas e o desenvolvimento motor. Além disso, ao interagir com outras crianças em jogos físicos ou de faz-de-conta, os pequenos desenvolvem habilidades sociais, como cooperação, empatia e comunicação, essenciais para a vida em comunidade.

Outro ponto importante é que as brincadeiras offline oferecem oportunidades para a prática de atividades físicas, algo que é crucial para o desenvolvimento muscular, a coordenação motora e a saúde geral. O tempo gasto ao ar livre, correndo, pulando ou andando de bicicleta, ajuda a melhorar o condicionamento físico, prevenir a obesidade infantil e reduzir o estresse.

Dicas para promover brincadeiras offline

1. Atividades ao ar livre: incentive as crianças a passar mais tempo em parques, praças ou no quintal. Brincadeiras simples como esconde-esconde, pega-pega, andar de bicicleta ou fazer piqueniques são excelentes para estimular a interação com a natureza e promover o exercício físico.

2. Jogos de tabuleiro: são ótimas opções para estimular o raciocínio lógico, a cooperação e o aprendizado de regras. Eles podem ser uma excelente alternativa para reunir a família e criar momentos de interação e diversão longe das telas.

3. Atividades manuais: artesanato, pintura, modelagem com massinha ou construção de brinquedos com materiais reciclados são ótimas formas de desenvolver a criatividade e a coordenação motora. Essas atividades também ajudam a melhorar a concentração e o foco das crianças.

4. Brincadeiras de faz-de-conta: estimular a imaginação das crianças com brincadeiras de faz-de-conta é uma maneira lúdica de desenvolver a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Montar uma cabana, simular ser personagens de histórias ou inventar novas aventuras são formas saudáveis de incentivar o pensamento livre.

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