Estamos comemorando o Dia Mundial do Compositor, e Nova Friburgo é privilegiada nessa seara: vivemos numa cidade artisticamente rica, e a música ocupa um lugar de destaque, onde um número expressivo de músicos e letristas nasceu e aqui vive. Para homenageá-los, confira nossa seleção!
Benito di Paula
Uday Velloso herdou do pai a influência musical que o levaria a ser um dos grandes nomes do samba produzido nos anos 70 e 80. Em Friburgo o jovem Uday começou sua carreira como crooner e costumava se apresentar em bailes estudantis. Já no Rio de Janeiro, penou muito até conseguir impor o seu trabalho. Mas morar no Morro da Formiga e viver dificuldades financeiras não o desanimaram. Ao contrário, foi nesse cenário que ele estabeleceu contatos importantes com autênticos sambistas e começou a cantar na noite carioca.
Pianista autodidata, mudou-se para São Paulo e seu jeito diferente de fazer samba, sempre ao piano, misturando arranjos românticos e jazzísticos, lançou o estilo que ficou conhecido como samba-joia. Usando fraque, bigodão e costeletas, cunhou o chamado brega-chique da música, adequado ao luxo das casas noturnas das capitais. Cantando e tocando piano se apresentou em diversas boates em Sampa, até fechar um contrato com a gravadora Copacabana. Assim nasceu Benito di Paula.
Arnaldo Miranda
Arnaldo Luis Berbert Miranda é formado em Ciências Políticas e Sociais na PUC-Rio, com especialização em História da Filosofia Moderna e Contemporânea pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Mas, nunca se dedicou à carreira acadêmica. Por outro lado, aproveitou o conhecimento acumulado para desenvolver seu talento natural para as artes, explorando seu potencial para se consolidar como um artista multimídia, com ênfase na área musical.
“Um Rouxinol na Serra do Mar” é o 14º álbum dessa carreira, digamos ‘tardia’ do compositor, cantor e produtor Arnaldo Miranda, que estreou aos 53 anos, em 2011, com o álbum Flores da Serra. Anteriormente dedicado ao teatro, com textos premiados e encenados por todo o Brasil, o poeta friburguense produz o seu trabalho de forma independente — é autor de mais de 25 títulos em poesia, prosa e teatro (disponíveis nas principais livrarias digitais) a partir da sua casa de criação, a Cia do Ar. Ações em Cultura.
Teleco Ventura
O compositor Teleco Ventura, ainda menino, recebeu da mãe, uma ‘criatura musical por natureza’, pianista na igreja que frequentava - seu primeiro violão. E assim Teleco foi ser autodidata na vida. Vendo e ouvindo apresentações de conjuntos e bandas, em clubes, foi entendendo como as notas se sucediam, aprendeu a tocar, sempre de “ouvido”, ou como prefere, de “olho”.
Ao longo de sua vida, Teleco-Teco, como carinhosamente o chama sua prima, Adriana Ventura, compôs, em seus momentos de lazer, cerca de 100 músicas, por prazer, inspiração, e até mesmo quando não está pensando em nada. É compondo, tocando, cantando que Teleco alimenta seu espírito, clareia sua alma, se conecta com o que considera sagrado.
Valcir Ferreira
Ele é carioca de Bangu, mas “friburguense desde criancinha”, como repete incansavelmente, já que chegou aqui com apenas 3 anos de idade. Sambista, compositor e cantor, a primeira música foi para um circo que aportou em Olaria, onde ele sempre morou e mora até hoje. E, claro, desfila pela Imperatriz de Olaria.
Valcir domina vários gêneros musicais, além do samba, que é a sua paixão: ele compõe hino, axé e até música sertaneja. E canta de tudo. Até o momento, Valcir tem um repertório de 150 composições, incluindo o Hino da Guarda Civil de Nova Friburgo, cuja letra foi revisada pela jornalista e trovadora Elisabeth Souza Cruz.
Antes de lançar o primeiro CD, Valcir Ferreira competiu num concurso de marchinhas de carnaval, do Odir de Souza, o Godô, que tinha um programa na Rádio Friburgo, o Seresteiros em Revista. “Todo final de ano ele promovia concurso para o carnaval para descobrir talentos da terra. Era por volta de 1973, 74, e foi assim que tive a primeira chance”, contou.
Compositores brasileiros de todos os tempos
Chiquinha Gonzaga (1847-1935)
Pianista, compositora e maestrina, Chiquinha Gonzaga foi uma mulher à frente do seu tempo. Filha de um militar com uma escrava alforriada, Chiquinha enfrentou o preconceito desde cedo ao ser rejeitada pela família do pai. Nunca se deixou abater, e recebeu o melhor que a educação de elite tinha a oferecer. Ao se casar, ganhou de presente um piano e foi nele que começou a compor valsas e polcas, contra a vontade do primeiro marido que a queria longe da música. Divorciou-se do pai dos seus filhos para seguir o seu sonho. Com a célebre marchinha carnavalesca Ô Abre Alas, Francisca Edwiges Neves Gonzaga ficou famosa... e a elite carioca não a perdoou. Mas ela seguiu em frente e foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil. Em 1917, liderou um grupo de autores, escritores e compositores para criar a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).
Heitor Villa-Lobos (1887-1959)
Heitor Villa-Lobos é considerado um dos precursores da música erudita brasileira. Seu pai era músico e ainda criança aprendeu a tocar violoncelo, clarinete e saxofone. Ao mesmo tempo em que ouvia grandes nomes da música clássica, como Bach, o jovem se interessava por ritmos brasileiros, principalmente os nordestinos. Foi assim que revolucionou a música instrumental nacional, misturando sons antes nunca testados, como na obra Trenzinho Caipira. Um dos maiores compositores brasileiros da história, fundou a Academia Brasileira de Música.
Pixinguinha (1897-1973)
O choro brasileiro deve muito a Alfredo da Rocha Viana Filho. Seu pai era flautista e com apenas 13 anos o menino já fazia música. Com 15 anos tornou-se músico da orquestra do Teatro Rio Branco. Pixinguinha fez parte de importantes grupos musicais da década de 20, saiu em turnês internacionais e ganhou fama como um dos maiores músicos que o Brasil já teve. Carinhoso, sua composição mais ilustre, é considerada uma das obras mais importantes da música nacional.
Cartola (1908-1980)
Há quem diga que o carioca Angenor de Oliveira foi o maior sambista que o Brasil já teve. Além de compor e cantar, Cartola também era poeta e violinista. Cavaquinho e violão estavam sempre com ele. Cresceu no Morro da Mangueira, tendo fundado, inclusive, a escola de samba Estação Primeira de Mangueira, quando tinha apenas 20 anos. Era o clássico malandro boêmio que vivia nos bares cariocas. Na década de 30 compôs para grandes cantores, como Carmem Miranda, e só aos 66 anos, explodiu na carreira solo e teve o seu primeiro disco gravado, com os clássicos As Rosas não Falam e o O Mundo é um Moinho.
Noel Rosa (1910-1937)
Foram mais de 300 composições do Poeta da Vila, que viveu apenas 27 anos. Apesar de ter tentado a faculdade de medicina, logo abandonou o curso pela vida boêmia no bairro da Lapa, no centro do Rio, onde passava as noites entre bares e cabarés. É considerado o homem responsável por levar o samba, originalmente do morro e das favelas, para o asfalto e para as rádios nacionais, popularizando assim o estilo musical entre a classe média. Com que roupa eu vou? é uma de suas canções mais conhecidas e populares.
Vinicius de Moraes (1913-1980)
A música popular não seria a mesma sem o diplomata Vinicius de Moraes, o carioca que desde criança já fazia jus ao apelido de ‘poetinha’. Na adolescência fez parte do coral de uma igreja católica, onde criou suas primeiras canções. Cursou Direito, tentou a carreira política, publicou um livro de poemas, foi jornalista e dramaturgo. Mas foi no final da década de 50 que deslanchou como artista, compondo em parceria com Tom Jobim, João Gilberto, Chico Buarque, Toquinho, entre outros nomes. Garota de Ipanema, Chega de Saudade e Eu Sei Que Vou Te Amar são algumas das músicas mais importantes da MPB compostas por Vinicius.
Tom Jobim (1927-1994)
Maestro, cantor, compositor, pianista, violinista e arranjador, Tom era um homem de múltiplos talentos. Filho de diplomata, nasceu no berço de uma família boêmia - sua avó era pianista e os tios promoviam serestas em casa. Tentou a carreira como arquiteto, mas optou pela música. Começou se apresentando em casas noturnas e foi contratado por uma gravadora para fazer arranjos. A música Teresa da Praia foi seu primeiro sucesso. Vinicius de Moraes, João Gilberto e Chico Buarque foram alguns de seus parceiros. São dele os clássicos Garota de Ipanema, Sabiá, Chega de Saudade e Desafinado.
Gilberto Gil (1942)
Ele é um dos compositores mais icônicos no Brasil, tendo iniciado a sua carreira aos 20 anos de idade, ao lado de Caetano Veloso, Tom Zé, Gal Costa e Maria Bethânia. O tropicalismo, que ajudou a criar na década de 70, foi um dos principais movimentos musicais do país, responsável por canções inovadoras com a mistura de ritmos americanos, ingleses e brasileiros. Aquele Abraço é uma das composições que marcaram uma época e Gil é considerado uma lenda da MPB.
Milton Nascimento (1942)
Milton Nascimento é um dos compositores com maior reputação mundial. Apaixonado por música desde a adolescência, formou a banda Clube da Esquina, aos 21 anos de idade. A carreira engrenou depois que Elis Regina gravou Canção do Sal, seu primeiro sucesso. Maria, Maria e Canção da América estão entre as suas composições mais famosas. Já recebeu cinco Grammys e outros inúmeros prêmios nacionais e internacionais.
Caetano Veloso (1942)
Um dos maiores nomes do movimento tropicalista, Caetano é a voz por trás de clássicos como Sozinho, Você é linda e Mensagem de amor. Com a irmã Maria Bethânia começou a carreira cantando e tocando violão nos bares da capital baiana. Fez diversos shows ao lado de Gal, Gil, Bethânia e Tom Zé, e além do espetáculo Opinião, participou de vários festivais da canção. Gravou uma sucessão de clássicos como Alegria, Alegria. O talento de Caetano atravessa gerações e até hoje emplaca sucessos cantados não só por ele como por diversos artistas e parceiros.
Paulinho da Viola (1942)
Paulinho cresceu cercado de música já que seu pai era violonista, integrante do grupo de choro Época de Ouro e ouvia muito Pixinguinha e Jacob do Bandolim. Seu primeiro samba foi gravado para a escola União de Jacarepaguá e em seguida se enturmou com o pessoal da Portela. Entre os seus maiores sucessos está Foi um rio que passou em minha vida.
Tim Maia (1942-1998)
Quando criança, Sebastião Rodrigues Maia cantava no coral da igreja. Com 15 anos formou a banda The Sputniks e se apresentava na TV. Ao imigrar para o EUA, aos 17 anos, Sebastião virou Tim e incorporou o soul, jazz e outros ritmos negros que ferviam no início da década de 60. Foi assim que Tim Maia, voltando ao Brasil, tornou-se a principal voz do soul no país. Compôs algumas das canções mais celebradas da MPB, como Gostava Tanto de Você, Me Dê Motivos e Não Quero Dinheiro: Eu Só Quero Amar.
Chico Buarque (1944)
Chico Buarque de Holanda é celebrado como autor de vários clássicos que marcaram o cenário musical brasileiro, alguns deles considerados hinos. Filho da pianista Maria Amélia e do historiador Sérgio B. de Holanda, Chico começou a compor e a cantar com as irmãs Miúcha e Cristina. Gravou dezenas de discos, é reconhecido em todo o mundo, e escritor traduzido em várias línguas: já foi premiado com o Jabuti (Brasil) e Camões (Portugal).
Aldir Blanc (1946-2020)
Compositor, médico psiquiatra, em 1973 Aldir largou a medicina para se dedicar exclusivamente à música. O primeiro sucesso, no início dos anos 70, foi a canção Amigo é pra essas coisas, em parceria com Silvio da Silva Jr. Depois vieram as obras primas Ela, O mestre-sala dos mares,O bêbado e o equilibrista, e Dois pra lá, dois pra cá, gravadas por Elis Regina e outros grandes intérpretes.
Cazuza (1958-1990)
Agenor de Miranda Araújo Neto nasceu e se criou no universo artístico e musical dos pais, João e Lucinha Araújo. Na adolescência escrevia poemas e seu primeiro trabalho foi na gravadora Som Livre, dirigida por seu pai. Com Roberto Frejat, criou a banda Barão Vermelho, formando uma das maiores parcerias do rock brasileiro. É autor de grandes hits como Pro Dia Nascer Feliz e Bete Balanço, e após Ideologia, Brasil e Faz Parte Do Meu Show são outras das mais de 100 canções deixadas pelo artista.
Renato Russo (1960-1996)
Renato Manfredini Júnior é um dos nomes mais importantes do rock brasileiro, sucesso absoluto na década de 80, quando o ritmo explodiu com novas bandas no país. As influências do punk internacional inspiraram Renato na criação de sua primeira banda, o Aborto Elétrico. A banda evoluiu para a Legião Urbana, até hoje uma referência para o rock nacional. Renato compôs grandes sucessos como Será, Que País é Esse, Pais e Filhos, entre outros.
ENNIO MORRICONE: o compositor italiano que mudou a música e o cinema
Não é exagero dizer que, em 6 de julho de 2020, o cinema e a música perderam (aos 91 anos) um de seus maiores nomes: Ennio Morricone. Compositor, arranjador e maestro italiano, Morricone compôs mais de 400 partituras para o cinema e TV, além de mais de 100 obras clássicas, ao longo de mais de 80 anos. Seus trabalhos mudaram o universo de trilhas sonoras. E sua obra viverá para sempre.
Poucos compositores alcançaram o patamar de excelência que Morricone conquistou: quando lembramos de filmes como Três Homens em Conflito, Era uma vez no Oeste (e “na América”) ou Cinema Paradiso, são suas frases musicais que ressoam em nossas mentes.
Desde que começou a compor – aos seis anos – o maestro construiu uma carreira brilhante, que enriqueceu a carreira de cantores de jazz e de música popular, também no teatro e rádio. Em homenagem aos compositores de trilhas sonoras, confira esta resumida produção de Ennio Morricone:
Por um punhado de dólares (1964)
É tarefa impossível selecionar apenas um dos trabalhos de Morricone para a trilogia dos dólares, gênero spaghetti-westerns que marcaram o início da parceria do compositor com o diretor Sergio Leone. Os três filmes são marcados por composições não apenas inesquecíveis como revolucionárias. Ao listar suas obras primas, é necessário abrir espaço para a música que deu início a tudo, em Por Um Punhado de Dólares, no qual Morricone deixou um marco indelével na cabeça de todos que o assistiram: um assobio marcante e uma guitarra elétrica totalmente peculiar, que dá ao filme um clima único. Ao compor as músicas antes do longa ser filmado, Morricone deu a Leone a oportunidade de prolongar as cenas só para deixar a música tocar na íntegra. O resultado disso mudou o cinema para sempre.
Três homens em conflito (1966)
É uma pena ter que deixar uma obra da trilogia dos dólares de fora – Por Alguns Dólares a Mais – mas para listar a essência de Morricone, a que citamos aqui é Três Homens em Conflito. Enquanto ele estabeleceu uma base ao que viria para a conclusão da trilogia, é neste longa que o clima grandioso de Morricone chega em seu auge. A cena final não seria tão memorável sem o seu gênio criativo, mas não é apenas esse auge que faz a trilha ser o que é: ele criou temas para cada um dos personagens, associando cada um deles a um instrumento ou som específico, assim estabelecendo uma relação entre música e filme que se tornam indissociáveis.
Era uma vez no Oeste (1968)
Ainda com Leone, Morricone criou uma das trilhas mais inesquecíveis para o longa Era uma Vez no Oeste, com um clima mais romântico e melancólico do que sua trilogia faroeste. As primeiras notas do tema principal do filme são instantaneamente reconhecíveis, mas para essa produção, suas composições também são lembradas pelos temas criados. Novamente, ele compôs a trilha antes das filmagens, e Leone aproveitava para filmar tocando as faixas no estúdio para que os atores atuassem em cima das composições de Morricone.
A missão (1986)
Neste filme de Roland Joffé, a trilha é outro exemplo da habilidade de Morricone capturar atmosferas e sentimentos. Contando a história de um missionário jesuíta na América do Sul, A Missão combina cantos litúrgicos com batidas, cantos hispânicos e cordas, que refletem as diferentes culturas retratadas no filme. Em sua segunda indicação ao Oscar – a primeira foi pelo memorável trabalho em Cinzas no Paraíso (1978) – Morricone sempre defendeu que este seu trabalho certamente deveria ter levado a estatueta, até porque o ganhador, Por Volta da Meia-Noite, de Herbie Hancock, gerou controvérsias por usar peças musicais compostas anteriormente.
Cinema Paradiso (1988)
Esta lista de trabalhos inesquecíveis de Morricone não poderia deixar de exemplificar o seu talento em diversos gêneros do cinema, com uma de suas obras mais sensíveis: Cinema Paradiso, o longa que marcou o início de sua parceria com o diretor italiano Giuseppe Tornatore. Para embalar a história de vida de um cineasta e o nascimento de seu amor pelo cinema, Morricone investiu em um instrumental mais intimista e delicado, com piano, celesta e cordas.
Os oito odiados (2015)
Esta trilha, único filme de Tarantino que traz composições originais de Morricone (o diretor usou várias faixas do compositor em outros de seus filmes) marcou por diversos motivos: foi o retorno de Morricone ao gênero de faroeste, concretizou o desejo do diretor de tê-lo como autor da trilha e representou a merecida vitória de Morricone, no Oscar. O fato de o maestro ter sido presenteado com uma estatueta apenas em 2015 é mais uma prova das falhas da Academia do que um sinal de merecimento tardio do compositor (apesar de ter recebido o Oscar pelo conjunto da obra em 2007). Aos 87 anos, Morricone compôs peças intensas e marcantes para Os Oito Odiados, numa demonstração de seu infindável poder de criação.
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