"Eu estou devastada. Sem condições emocionais no momento. Perdi a fé na humanidade".
Assim Andreza Vaz, irmã de Alessandra, reagiu a um pedido de entrevista para comentar, na manhã desta quarta-feira, 9, o resultado do julgamento de mais de 12 horas que livrou Rodrigo Marotti da condenação por duplo feminicídio que fez vítimas sua irmã e Daniela Mousinho, em outubro de 2019.
Marotti é acusado de, há dois anos e quatro meses, trancar a ex-companheira Alessandra Vaz e a amiga dela, Daniela Mousinho, em uma casa no Stucky, no distrito de Mury, e atear fogo no imóvel. Daniela, de 47 anos, morreu dois dias depois do crime. Alessandra, que teve 80% do corpo queimados, ficou internada em estado grave até dias depois, mas também não resistiu.
Marotti foi condenado, nesta madrugada, somente pelo crime de incêndio qualificado com resultado morte, além de furto de veículo, depois que o júri popular não reconheceu intenção de matar. A pena de 19 anos e quatro meses de reclusão foi sentenciada à meia-noite, no Fórum de Nova Friburgo, pela juíza Simone Simone Dalila Nacif, após a desclassificação do delito, pelo júri popular, para crime não doloso contra a vida.
O MP recorreu para submeter o acusado a novo júri, a fim de que, em nova sessão, possa ser reconhecido o duplo feminicídio. A defesa, por sua vez, interpôs recurso para revisar a dosimetria da pena.
Familiares perplexos
Familiares das vítimas ficaram perplexos e inconformados. A VOZ DA SERRA acompanhou todo o julgamento através de Lucas Barros, titular da coluna “Além das Montanhas”.
Em sua sustentação que convenceu os jurados, o defensor público Eduardo Castro fez duras críticas ao processo, questionou a insuficiência de provas de dolo de matar e argumentou que se tratou de um crime de incêndio com resultado morte, diferentemente de um homicídio.
Ao ser interrogado, o réu disse que a própria Alessandra, durante discussão do casal, jogou álcool no colchão e ateou fogo. Enquanto ela e Daniela se trancavam no banheiro, ele tentou, segundo sua versão, tirar o colchão de cima da cama e levá-lo para fora do quarto, saindo em seguida de casa de carro para buscar ajuda.
Durante mais de 12 horas de audiência foram ouvidas 16 testemunhas, sendo 11 de acusação e cinco de defesa. Vizinhos relataram terem ouvido gritos, seguidos de pedidos de socorro vindos da casa, na noite do crime.
Andreza, que prestou depoimento vestindo uma blusa da grife da irmã estilista, relatou que Marotti não concordava com a retirada do seu nome da sociedade da empresa de roupas com a ex-companheira, visto que ele sempre cobrava sua participação financeira. Ela contou que Rodrigo era muito violento, mas Alessandra evitava preocupar a família.
Mãe de Alessandra, Sandra, muito emocionada, relatou em entrevista ao jornal antes do início do julgamento que esperava que a justiça fosse feita: "Vim para representar minha família, pela Dani, pela Alessandra e por todas as mulheres que estão morrendo vítimas de feminicídio nesse país. Nós esperamos justiça".
Antes do julgamento, um protesto com cruzes, nomes e fotos de vítimas de feminicídio movimentou a calçada em frente ao Fórum de Nova Friburgo. Marotti foi recebido aos gritos de "assassino".
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