Não há dúvidas que para a maioria dos brasileiros, o ano só começa depois do carnaval, época mais animada do ano. Porém, “este não ano vai ser, igual aquele que passou, eu não brinquei,você também não brincou, aquela fantasia, que eu comprei ficou guardada, e a sua também, ficou pendurada...” — como já diz uma famosa marchinha de carnaval. Tanto pelo bom senso quanto pela segurança, não haverá a tradicional folia.
A exemplo da capital, a Prefeitura de Nova Friburgo também revogou o ponto facultativo na segunda-feira de carnaval, 15. O feriado de terça-feira, 16, no entanto, está mantido em todo o Estado do Rio, por decisão do governo estadual. Já a quarta-feira de cinzas, 17, será de expediente normal no município. O fim do ponto facultativo na segunda-feira, 15, tem por objetivo evitar que se forme um feriadão com consequentes aglomerações em clubes, cachoeiras e regiões turísticas.
O carnaval em Friburgo, considerado o segundo maior do estado, não terá desfiles de blocos nem escolas de samba este ano. De acordo com o decreto da prefeitura, eventos com aglomerações e música ao vivo também seguem suspensos, independentemente da bandeira em vigor. Convidamos alguns friburguenses que possuem uma “alma carnavalesca” para falar um pouco sobre qual é o sentimento de não ter a maior festa popular do mundo neste ano. Confira:
“Meu sentimento nesse cenário atual é de um certo vazio, se para os foliões é triste não termos essa cultura imaterial do nosso país apresentada essa época do ano, imagina para nós que amamos carnaval, vivemos e pensamos nele durante todo o ano, é muito mais difícil. Nos reinventamos desde o começo da pandemia com as escolas de samba proporcionando lives solidárias, só queremos nos aglomerar novamente quando for seguro.
Tenho esperança de dias melhores e seguros, dias de abraços calorosos, com alegria para pular o maior carnaval de todos os tempos, daqui a um ano. Estamos nos guardando para quando o próximo carnaval chegar e for possível nos encontramos na Avenida Alberto Braune ou na Sapucaí, no Rio, em todos os dias possíveis de carnaval, todos deixando as diferenças de lado e levantando a mesma bandeira, a da festa mais democrática do Brasil, o carnaval. Enquanto o nosso tradicional carnaval não vem ficamos em casa curtindo lives e desfiles antigos.” (Lunanda Motta é design de moda)
“Tenho esperança de dias melhores e seguros, dias de abraços calorosos, com alegria para pular o maior carnaval de todos os tempos, daqui a um ano.”
“O meu depoimento sobre o carnaval é de muita tristeza. Nós sabíamos que sem a vacina para imunizar todos não seria possível ter carnaval. Ao mesmo tempo, fico preocupada e apreensiva, com todos aqueles que dependem do carnaval para sustentar suas famílias. A festa gera milhares de empregos, direta e indiretamente.
Eu já trabalhei em vários ateliês, na Cidade do Samba, no Rio de Janeiro e em Friburgo, e tenho amigos que trabalham. Na verdade, todos sofrem nas escolas, os foliões e principalmente os que trabalham. Só nos resta rezar para que tudo isso acabe logo e que possamos fazer o carnaval de 2022 o maior de todos os tempos, e com segurança. Estou com muitas saudades da vida normal e do nosso carnaval. Não vamos deixar o samba morrer, que também é uma cultura!” (Margarene Tomaz (Margô) é cabeleireira)
“Todos sofrem nas escolas, os foliões e principalmente os que trabalham. Só nos resta rezar para que tudo isso acabe logo.”
“Minha história com o carnaval vem desde que nasci. Meus pais, foliões natos, saíam fantasiados pelas ruas de Nova Friburgo e formavam seus blocos de amigos com muita alegria e diversão sadias e contagiantes. As fantasias eram as mais criativas e todos já ficavam ansiosos para saber como seriam. Uma ocasião meu pai saiu fantasiado de carro oficial e minha mãe de primeira dama. Dá para imaginar o sucesso!
Fui crescendo nesse clima e sempre com a casa cheia nessa época tão alegre e especial para nós. Saudades... Quando adolescente saía em grupos de fantasias iguais com minhas queridas amigas, presentes até hoje! Bordávamos as nossas fantasias e eram noites de muitas risadas e histórias para contar.
Sempre desfilei em escolas de samba e tive a oportunidade de ir várias vezes ao sambódromo também, assistir de perto ao maior espetáculo da Terra. Sou diretora de uma escola pública desde 2009 e sempre fiz questão de promover os bailinhos de carnaval com desfiles de fantasias. As crianças adoram! Aproveitamos para mostrar a eles a graça das marchinhas antigas.
Este ano, ficaremos em casa e o peito fica apertado, mas são tantas lembranças maravilhosas que já dá para ficar feliz! Em 2018 tive a imensa honra de representar Nossa Senhora no desfile sensacional da minha escola. Até hoje me arrepio ao lembrar daquela emoção, uma das maiores da minha vida. As pessoas simplesmente viam ali a personagem, era impressionante! Choravam, me abraçavam (eita tempo bom...), gritavam por mim, até se ajoelhavam, acreditam? Foi inesquecível. Este ano estarei em casa, em clima de carnaval, obviamente, com minhas filhas, meus genros e meu amado neto João Marcelo. Que venha 2022! Aí ninguém me segura.” (Marcelle Braune é pedagoga)
“Este ano, ficaremos em casa e o peito fica apertado, mas são tantas lembranças maravilhosas que já dá para ficar feliz.”
“Para mim está sendo muito difícil lidar com isso pois gosto muito do carnaval, são anos e anos participando dessa festa incrível. Eu até choro quando olho para o guarda-roupa e vejo as roupas e os adereços guardados… é muito complicado! Crio e produzo minhas fantasias, reformo uma peça quando quero, reaproveito o que dá sempre. Gosto do carnaval desde criança. Meu pai me levava para brincar nas matinês e minha mãe fazia as minhas fantasias. São poucas as vezes que eu não pude desfilar por não ter carnaval… Uma folia marcante foi em 2011, por causa da tragédia climática e as outras foram em ocasiões que o prefeito (vigente) não realizava a festa na cidade, por exemplo. Estou doida para que isso passe, mas infelizmente não tem como ter carnaval com todo mundo misturado e sem máscara. Comemorar alguma coisa neste cenário atual é impossível, não tem como!” (Marly Pinel é colunista social)
“Eu até choro quando olho para o guarda-roupa e vejo as roupas e os adereços guardados… é muito complicado.”
“Neste momento a ficha ainda não caiu, como gestor de um canal especializado em carnaval, principalmente no que diz respeito ao carnaval da nossa cidade, eu ainda não assimilei a ideia de que em 2021 não teremos a cobertura dos desfiles, a emoção de ouvir uma bateria, aquela expectativa pelo resultado final. Lancei uma campanha no canal Friba Folia (Facebook, Instagram e YouTube), visando principalmente os apaixonados pela folia. O título é: somos mais do que uma data no calendário, o objetivo é incentivar os sambistas apaixonados da cidade a usarem camisas de suas agremiações no dia a dia, durante estes cinco dias que seriam de folia. Uma forma de não deixar o período de carnaval passar em branco.” (Cristiano Wilhelmi de Moraes é gestor de recursos humanos)
“Eu ainda não assimilei a ideia de que em 2021 não teremos a cobertura dos desfiles, a emoção de ouvir uma bateria, aquela expectativa pelo resultado final.”
“Desfilei a primeira vez na barriga de minha mãe, no Salgueiro. Naquela época ela era da comissão de frente. Ainda, peguei os concursos de fantasias infantis do Clube Magnatas, Clube Municipal e aqui em Friburgo, fui campeã por sete anos seguidos. Ainda, aos quatro anos, vinha para Nova Friburgo com meus pais, que estavam montando uma livraria na cidade, para participar do primeiro carnaval e fui ao baile da Campesina Friburguense, me viram sambando, muito pequenina e fofuxa... Convidaram-me para sair na escola e minha mãe disse que poderia, mas, antes, teria que saber se meu pai permitiria. Aí começou minha história com o carnaval friburguense! Minha mãe desfilou anos como destaque e nos concursos de fantasias, obtendo várias vitórias e se tornando hors concours. Fez fantasias para vários destaques. Eu fui eleita rainha do carnaval por uma das escolas de samba de Friburgo. E pelo meu trabalho, tive como reconhecimento, o título de embaixatriz do carnaval. Ainda, muito jovem, fui empossada como diretora de festas da Secretaria de Turismo e coordenei o carnaval por vários anos, coordenando o concurso de fantasias municipal, nacional e reeditando o concurso de fantasias infantil. Hoje estou como destaque em uma das escolas da cidade e membro da diretoria, como diretora jurídica.” (Rosângela Cassano é advogada)
“Aos quatro anos, vinha para Nova Friburgo com meus pais, que estavam montando uma livraria na cidade, para participar do primeiro carnaval.”
“O sentimento é, por um lado, compreender a gravidade dos fatos que ocasionaram esse cancelamento, mas por outro lado uma dor enorme por não ter a maior manifestação da cultura popular no nosso município. Trabalho no carnaval e sei da sua grandeza, representatividade e resistência. Temos agremiações com mais de 70 anos, heranças de pessoas que lutaram muito para que essa manifestação cultural fosse abraçada por toda população. As perdas econômicas para os setores turísticos, de eventos e para os trabalhadores do carnaval serão irrecuperáveis esse ano. Espero, como cidadão e profissional do carnaval que algo seja feito para que essas perdas sejam amenizadas. Que venha a vacina para todos e possamos regressar em 2022 para o maior carnaval da nossa história!” (José Augusto Silva de Oliveira (Guto Intérprete) é músico)
“Temos agremiações com mais de 70 anos, heranças de pessoas que lutaram muito para que essa manifestação cultural fosse abraçada por toda população.”
Para matar a saudade de outros carnavais…
O Cadima Shopping preparou uma homenagem aos profissionais que se dedicam todos os anos ao carnaval de Nova Friburgo. Dos bastidores aos passistas, cada desfile leva um mundo criado por várias pessoas que encantam e fazem o carnaval friburguense ser um dos maiores do estado.
Em um ano diferente de todos o shopping buscou a memória de carnavais passados, para matar a saudade e homenagear os profissionais fantásticos envolvidos em todo processo da folia. A mostra está em exibição na Praça Cadima (próximo das escadas rolantes), com uma fantasia de cada agremiação friburguense, além de uma decoração temática no vão central com sombrinhas coloridas, remetendo à alegria e colorido que sempre vemos nessa época.
A instalação de todo processo da exposição e decoração seguiu todos os protocolos de segurança exigidos. A mostra poderá ser conferida até o final deste mês. O Cadima Shopping vai funcionar todos os dias de carnaval, neste sábado, 13, das 10h às 22h, e de domingo à terça, das 12h às 22h.
Deixe o seu comentário