Estudo da Uerj comprova que isolamento social é eficaz para evitar novas mortes

Com base em análise de dados da Covid-19 em Nova Friburgo, professor não recomenda flexibilizar comércio ainda
sexta-feira, 15 de maio de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Gráfico produzido pela pesquisa
Gráfico produzido pela pesquisa

Um estudo feito pelo professor de Engenharia Química Eduardo Lima, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) no campus do Macaranã, no Rio, comprova que as medidas restritivas adotadas pelo Governo do Estado do Rio e diversas prefeituras, como a de Nova Friburgo, podem ser eficazes para o achatamento da curva de óbitos por coronavírus.

De acordo com o professor, inicialmente o estudo foi feito com base nas informações divulgadas pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro no último dia 7. Na tarde desta quinta-feira, 14, o professor teve acesso aos números atualizados da Região Serrana e fez uma nova análise com gráficos atualizados. Nova Friburgo, segundo o boletim da prefeitura no último dia 13, tem 97 casos confirmados e nove óbitos.

Comparando com outros municípios fluminenses, como a capital e Duque de Caxias, Nova Friburgo está em uma situação melhor. É o que afirma o professor, com base em seu estudo. As duas cidades, segundo ele, estavam na ordem de 100 óbitos por milhão de habitantes e tem os piores índices – esses dados correspondem ao último dia 7.

Em posse dos dados atualizados, o professor informou que Nova Friburgo tem a proporção de quatro óbitos por cada 100 mil habitantes. Os cálculos batem com as informações oficiais, já que a cidade tem população em torno de 200 mil habitantes e hoje soma nove óbitos confirmados.

Com base nas análises, a conclusão do professor é a que o isolamento social tem trazido efeitos otimistas com relação ao número de óbitos. “Eu cruzei os dados assim que as medidas de isolamento foram implementadas. Olhando a curva do Brasil como um todo, no dia 3 de abril teve uma mudança na inclinação dessa curva, que diminuiu. Uma semana depois, no dia 10, essa diminuição foi maior ainda, bem mais expressiva. Se compararmos com as datas de implementação das medidas de restrição, por exemplo, do dia 23 de março que já não tinha mais aulas, é possível identificar uma diminuição na curva de óbitos.”, destacou.

“Olhando especificamente para Friburgo a taxa é bem menos expressiva do que das outras cidades, como Nova Iguaçu, Duque de Caxias e Rio de Janeiro. Acredito que a possibilidade mais provável ao atribuir esses índices é a eficácia do isolamento social, assim como os cuidados com higiene”, informou o professor. Eduardo também destacou que não leva em consideração a possibilidade da subnotificação. “Não acredito que seja o caso de Friburgo, que a Secretaria Municipal de Saúde de Friburgo esteja com subnotificação maior do que as outras, no Estado. O mais provável é que isso esteja atrelado às políticas de isolamento”, disse ele ao reforçar os baixos índices de óbitos na cidade.

Apesar disso, o estudo mostrou que, mesmo com o número de óbitos considerado pequeno, Nova Friburgo apresentava o pior índice entre as principais cidades da Região Serrana. “Na serra, Friburgo tinha quatro óbitos por 100 mil habitantes, Petrópolis um pouco abaixo com três mortes por 100 mil habitantes e Teresópolis com 1,6 por 100 mil”, disse o professor, com base nos dados até o último dia 7. Após uma nova análise, com as informações atualizadas na última quarta-feira, 13, ele informou que os três municípios estão entre quatro e cinco óbitos por 100 mil habitantes.

Flexibilização não é recomendada     

Para manter esses índices, o professor sugere não flexibilizar o comércio, no momento, para impedir que o sistema de saúde entre em colapso. “Nós estamos em um momento crucial do espalhamento da doença. Flexibilizar o comércio é um risco muito grande. Há risco dessa curva aumentar muito rápido. Existem casos de países que estavam bem, relaxaram o isolamento social e tiveram uma alta muito rápida no número de casos. A questão que deve ser evitada é não sobrecarregar o sistema de saúde por conta do número de leitos disponíveis”, alertou.

A análise confirma que um relaxamento das medidas restritivas pode ser letal na luta contra a expansão da Covid-19. “Infelizmente a cidade que mais chama atenção (com relação a um afrouxamento no isolamento social e número de óbitos elevados) é a própria capital do Estado. Tem muitas regiões que não estão conseguindo fazer o isolamento da forma correta, como é o caso de Campo Grande, na Zona Oeste. Parece que está tudo normal, lá”, disse. 

Sobre as chances do estudo ser refutado para que seja usado a favor de um possível afrouxamento das medidas restritivas, o professor é taxativo. “Ciência só se refuta com ciência e não com opinião. Estou usando ferramentas de análise de dados de engenharia para analisar os dados de Covid-19. É possível ver claramente que a inclinação da reta está diminuindo com a implementação das medidas de isolamento social”, conclui Eduardo. 

 

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