A história da poesia — ou texto lírico — é anterior à história da escrita, aparecendo nos primeiros registros da maioria das culturas letradas. Essa forma de expressão foi utilizada em obras antigas, tais como os vedas indianos (1700–1200 a.C.) e os Gathas de Zoroastro (1200–900 a.C.). É uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos ou críticos, ou seja, ela retrata algo em que tudo pode acontecer dependendo da imaginação do autor e do leitor.
Oriunda do termo latim ‘poēsis’, que, por sua vez, deriva de um conceito grego. Trata-se da manifestação da beleza ou do sentimento estético através da palavra, podendo ser sob a forma de versos ou de prosas. Em todo o caso, o seu emprego mais usual está relacionado com os poemas e com as composições em verso.
Sobre versos, estrofes e ritmo
Embora seja difícil definir a origem da poesia, foram encontradas inscrições hieroglíficas egípcias que remontam ao ano 2600 a.C., consideradas como sendo a primeira manifestação poética de que se tenha registro. São canções, cuja música se desconhece, que possuem significação religiosa e que aparecem desenvolvidas em distintos gêneros, como odes, hinos e elegias.
Na antiguidade, a poesia teve um caráter ritual e comunitário, especialmente em povos como os sumérios, os assírios, os babilônicos e os judeus. Para além da religião, foram surgindo outras temáticas como o tempo, os lavores cotidianos e os jogos.
Existem certas normas formais que fazem com que um texto seja considerado como parte da poesia, como é o caso dos versos, das estrofes e do ritmo. Este tipo de características faz parte da métrica da poesia, onde os poetas aplicam os seus recursos literários e estilísticos. Sempre que se está perante um grupo de autores que partilha as mesmas características nas suas poesias, costuma-se falar em conformação de um movimento literário.
Entre as principais características da poesia, pode-se mencionar o uso de elementos de valor simbólico e de imagens literárias como a metáfora, que requerem uma atitude ativa por parte de quem lê os poemas para poder decodificar a respectiva mensagem.
O soneto é também considerado um tipo de poema, mas se trata de uma criação com estrutura literária fixa, composto por 14 versos.
Poesia ‘versus’ poema
É importante não confundir poesia com poema. Um poema é uma forma de expressar-se usando palavras, sendo ele um tipo textual devidamente estruturado. Enquanto isso, a poesia trata-se de uma arte, mais conhecida como a arte de fazer poemas.
Podemos dizer, por exemplo, que um poeta (quem faz poesia, quem escreve poemas) fez um poema sobre as árvores que ficam na beira da estrada e que ele estuda a poesia (a arte de fazer esses poemas).
Para um melhor entendimento, podemos tomar como exemplo Manuel Bandeira (1886-1968), autor do poema “Desencanto” e “Os sapos”, este um clássico da poesia moderna brasileira, em que ironiza os parnasianos. De sua extensa obra constam também contos além de críticas literárias e de arte. Foi professor de literatura e tradutor.
Apesar da poesia estar mais intimamente relacionada com a escrita, ela também pode ser expressa por meio de outras formas de arte como na pintura, música, fotografia, entre outras.
E um exemplo de como ela está envolvida em outras áreas é no caso das composições musicais, várias inspiradas em poemas. O contrário é bem mais difícil, com exceção da obra de Chico Buarque, por exemplo, entre outros compositores/letristas.
Cabe dizer que a poesia faz parte do gênero literário que é chamado de lírico. Uma poesia pode abordar os mais variados temas, desde assuntos sobre amor, perdas, política, sobre a natureza, sobre propósitos, entre outros, inclusive questões com um certo elemento nonsense (quando algo é desprovido de coerência ou bom senso).(Fonte: https://conceito.de/poesia)
Manoel Bandeira
“Meu verso é sangue. Volúpia ardente…”
“Desencanto” é um metapoema que descreve o ato de fazer poesia como uma espécie de “válvula de escape”, como um desabafo de um ser que sofre e espera a morte. Assim, ele pode ser considerado uma primeira “poética” de Manuel Bandeira, que descreve para quê serve a poesia.
Ele escreveu esse poema quando estava na região serrana do Rio de Janeiro, em 1912, recuperando sua saúde após uma fase complicada. Neste texto, o autor fala sobre o sentimento de pesar que carrega quando escreve alguns poemas.
Desencanto de Manoel Bandeira
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
— Eu faço versos como quem morre.
Os sapos parnasianos
“Os sapos“, de Manuel Bandeira, escrito em 1918, e publicado em 1919, foi lido por Ronald de Carvalho entre vaias e gritos da plateia na Semana de Arte Moderna de 1922, tornando-se um clássico da poesia moderna brasileira, citado em todos os livros didáticos sobre Literatura Brasileira do século 20.
Nele, Bandeira consegue reproduzir as características essenciais defendidas pelos parnasianos. Trata-se, portanto, de um poema que carrega métrica regular e preocupação com a sonoridade, imitações que neste caso estão a serviço da rejeição à poesia parnasiana.
Seus versos trabalham com a ironia e com a paródia a fim de despertar o público leitor para a necessidade de ruptura e transformação da poesia. Os sapos mencionados (o boi, o tanoeiro, o pipa) são metáforas dos diferentes tipos de poetas: o sapo-tanoeiro, por exemplo, é uma figura típica do poeta parnasiano, que destila as regras de composição.
Seu poema foi o abre-alas da Semana de Arte Moderna e juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Gilberto Freyre, Clarice Lispector e Joaquim Cardozo, entre outros, representa o melhor da produção literária do estado de Pernambuco. E por aí foi Bandeira, satirizando as reclamações dos poetas parnasianos, comparando-os com o coaxar dos sapos num rio.
(Deise, esses versos abaixo, em vez de publicar na vertical, podem ficar na horizontal? Uma estrofe ao lado da outra?)
Os Sapos de Manoel Bandeira
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
– “Meu pai foi à guerra!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: – “Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
///
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A fôrmas a forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas…”
Urra o sapo-boi:
– “Meu pai foi rei!”- “Foi!”
– “Não foi!” – “Foi!” – “Não foi!”.
////
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
– A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo”.
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas,
– “Sei!” – “Não sabe!” – “Sabe!”.
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Veste a sombra imensa;
/////
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio…
(Fonte: arararevista.com)
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