Duas pessoas foram vítimas de racismo por dia no estado em 2019

Segundo o Dossiê Crimes Raciais, Nova Friburgo teve 14 vítimas de discriminação racial em 2018 e outras 14 no ano seguinte
terça-feira, 24 de novembro de 2020
por Thiago Lima (thiago@avozdaserra.com.br)
Duas pessoas foram vítimas de racismo por dia no estado em 2019

O Instituto de Segurança Pública lançou na última quinta-feira, 19, o Dossiê Crimes Raciais, que é o primeiro estudo já produzido por um governo estadual no Brasil, com o intuito de analisar e evidenciar os crimes de injúria e preconceito que possuam motivação racial. O trabalho mostra que, em 2019, pelo menos 844 pessoas foram vítimas de discriminação racial no estado do Rio de Janeiro, sendo 766 delas negras. Isso quer dizer que duas pessoas foram vítimas de racismo por dia. Segundo o dossiê, Nova Friburgo teve 14 vítimas de discriminação racial em 2018 e outras 14 no ano passado.

Na análise do perfil das vítimas, constatou-se que a maioria é mulher, com idades entre 40 e 59 anos. Em 42,9% dos casos, as vítimas não possuíam nenhuma relação com os autores dos crimes. Estas são as primeiras estatísticas oficiais sobre o tema usando como fonte de dados quase três mil registros de ocorrência confeccionados em 2018 e 2019 nas delegacias da Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro.

Crimes motivados por discriminação racial

No estado do Rio de Janeiro, em 2019, foram 1.706 vítimas de crimes praticados contra a honra como, injúria por preconceito, injúria real e preconceito de raça e de cor. Destas, 844 sofreram discriminação por motivação racial, sendo que 766 destas vítimas eram negras.

Perfil da vítima e dos autores

Mais da metade das vítimas de racismo no ano passado eram mulheres (58,2%). Os homens representaram 39,7% do total. Ao analisar a idade, quase 1/3 tinha entre 40 e 59 anos (262) e 8,7% tinha até 17 anos (73). Segundo o dossiê, 46,3% dos autores eram conhecidos das vítimas e 42,9% eram pessoas com as quais as vítimas não possuíam nenhuma relação. É importante ressaltar que cerca de metade dos autores desses delitos (45,8%) eram mulheres. Os ambientes não residenciais foram locais com a maior incidência de ofensas (43,3%), seguido pela residência (27,1%) e pelo ambiente virtual (5,5%), ou seja, a internet.

Perfil das ofensas

Durante a avaliação dos dados, os analistas do ISP realizaram a leitura de cerca de três mil registros de ocorrência e constaram as ofensas verbais proferidas com mais frequência contra as vítimas de racismo no estado. Palavras como “macaca”, “macaco”, “negra”, “preto”, “preta” e “cabelo duro” foram as mais usadas pelos agressores. O que se observa nas palavras em destaque é que os aspectos que constroem o fenótipo negro (cor da pele, formato do nariz, textura do cabelo), as religiões de matriz africana e a própria herança histórica da escravização foram os elementos utilizados para a depreciação das vítimas.

A friburguense M.L.S lembra de um episódio onde foi vítima de racismo recreativo (onde a pessoa acha que é engraçado, que é piada e às vezes não tem nem noção do que está falando). “Eu fui chamada para fotografar e o espaço escolhido foi uma escola aqui da cidade. Passamos pela portaria, tiramos as fotos e na hora de ir embora, conversando com o porteiro sobre vários assuntos - acho que ele sentiu uma brecha ou algo do tipo. E aí ele disse: ‘Por que você não corta esse cabelo? Isso deve ser um ninho de piolho.’ Aquilo em um primeiro momento me deixou chocada porque é como se pessoas negras, com black power ou pessoas que usam outro tipo de cabelo não tivessem higiene, né? Mas minha resposta veio logo em seguida, onde eu inclinei minha cabeça para ele e desafiando ele para ver quem tinha o cabelo mais cheiroso, pedi para ele cheirar o meu cabelo e eu o dele, para ver qual estava mais limpo. Ele ficou super sem graça e não entendeu muito bem. Foi quando eu tentei explicar o que ele tinha feito comigo, que isso era racismo recreativo, que racismo não é só agressão física e verbal… que existe um problema muito grande na estrutura que a gente chama de Brasil. Foi algo que me marcou muito”, esclareceu.

 

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