‘Brain Rot’: expressão do ano é alerta para deterioração mental

Entre 2023 e 2024, Dicionário Oxford registra aumento de 230% nas buscas pelo termo
quarta-feira, 04 de dezembro de 2024
por Liz Tamane
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

Eleita como a expressão do ano pelo Dicionário Oxford, "brain rot" — traduzida como "cérebro podre" ou "podridão cerebral" — não é apenas um reflexo da linguagem popular contemporânea, mas também um sintoma de um fenômeno crescente. O termo, que ganhou destaque em 2024 após acumular 130 mil buscas, encapsula a preocupação com o impacto do consumo excessivo de conteúdos rápidos, superficiais e, muitas vezes, desprovidos de profundidade intelectual, particularmente nas redes sociais.

O reconhecimento pelo Dicionário Oxford não apenas celebra o uso disseminado da expressão, mas também aponta para um diagnóstico cultural: estamos, de certa forma, “apodrecendo” mentalmente devido ao excesso de estímulos simplistas no mundo digital.

O que significa essa expressão

Em sua definição moderna, "brain rot" descreve a deterioração das capacidades cognitivas, como concentração e pensamento crítico, causada pela exposição constante a conteúdos de baixa qualidade. No contexto digital, isso se refere principalmente a vídeos curtos, memes, threads sensacionalistas e outros formatos projetados para atrair a atenção rapidamente, mas que oferecem pouco valor substantivo.

Apesar de parecer um termo recente, suas raízes são históricas. Ele foi usado pela primeira vez em 1854, pelo filósofo Henry David Thoreau no livro Walden. Na obra, Thoreau fazia uma crítica à superficialidade de algumas ideias e as comparava ao apodrecimento das batatas, um problema que assolava a Inglaterra na época. O paralelo entre a degradação mental e a podridão agrícola permanece relevante, mas o contexto mudou drasticamente.

Hoje, a preocupação gira em torno de como a tecnologia influencia comportamentos e saúde mental. O “brain rot” reflete um estado em que as pessoas se sentem mentalmente exaustas, mas continuam consumindo conteúdos instantâneos. Isso pode gerar uma desconexão com atividades mais profundas ou intelectualmente desafiadoras.

Embora a origem do termo remonte ao século 19, foi na década de 2020 que o "brain rot" se consolidou como uma expressão amplamente utilizada. A explosão do TikTok, das lives em plataformas de streaming e dos vídeos virais desempenhou um papel crucial.

Entre 2023 e 2024, o Dicionário Oxford registrou um aumento de 230% nas buscas pelo termo. Esse crescimento foi atribuído à conscientização sobre os efeitos nocivos do consumo desenfreado de conteúdos online. Segundo um relatório de 2024 do Instituto de Pesquisa Digital dos Estados Unidos, 68% dos jovens adultos afirmaram sentir-se sobrecarregados por informações irrelevantes e repetitivas nas redes sociais, o que corrobora a percepção de "brain rot".

O termo foi ainda amplamente discutido em campanhas de saúde mental. Um órgão de saúde dos Estados Unidos chegou a publicar diretrizes para identificar sinais de deterioração cognitiva associada ao uso de redes sociais. Entre os sintomas mais comuns estão dificuldade de concentração, redução na capacidade de leitura prolongada e desmotivação para realizar tarefas intelectualmente estimulantes.

Impactos sociais e culturais

O "brain rot" não afeta apenas a saúde mental individual; ele também tem implicações sociais e culturais. Em uma sociedade onde o algoritmo dita o que se consome e como se interage, os conteúdos de baixa qualidade tendem a prevalecer, já que são mais eficazes em capturar a atenção.

Isso cria um ciclo vicioso: quanto mais se consome esses conteúdos, maior será a exposição a eles. As plataformas estão projetadas para reforçar padrões de comportamento que maximizam o engajamento. Ao fazer isso, elas favorecem conteúdos que apelam para instintos básicos, em vez de desafiar as capacidades intelectuais.

Além disso, a popularização do termo reflete uma auto ironia presente nas gerações mais jovens, especialmente a Geração Z. No TikTok e no Twitter, por exemplo, a expressão é usada tanto para criticar quanto para abraçar comportamentos que indicam “cérebro podre”, como assistir a vídeos engraçados por horas seguidas ou se perder em discussões sobre teorias de séries.

A longo prazo, a predominância do "brain rot" pode levar a uma diminuição do senso crítico coletivo e da capacidade de lidar com informações complexas. Em tempos de desinformação, isso é particularmente preocupante.

Ainda assim, há maneiras de reverter esse quadro. Entre as estratégias mais debatidas estão: desintoxicações digitais, incentivo à leitura e à aprendizagem contínua e conscientização sobre os algoritmos. Iniciativas educacionais também podem desempenhar um papel importante. 

O "brain rot" pode ser visto como uma consequência inevitável da era digital, mas também como um alerta. Em um mundo onde o bombardeio por estímulos é constante, encontrar o equilíbrio entre consumo e reflexão tornou-se mais importante do que nunca. Reconhecer que o risco de “apodrecer mentalmente” é o primeiro passo para resistir a esse movimento. Afinal, como escreveu Thoreau, "não é suficiente estar ocupado; a questão é: com o que estamos ocupados?". 

 

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