De uma forma tímida e organizada, com todos os parâmetros de segurança sanitária sendo seguidos, as aulas presenciais de algumas escolas particulares retornaram nesta segunda-feira, 10, em Nova Friburgo. A maioria das escolas optaram pelo modelo híbrido, alternando ensino remoto e presencial. Alunos cujas famílias optem pela permanência em casa têm aulas online, já os estudantes cujos pais decidirem pela volta aos colégios, têm aulas presenciais e remotas, adotando um sistema de rodízio para respeitar o limite de capacidade das salas de aula determinado por decreto municipal.
Para os cientistas, não há benefício claro em manter escolas fechadas se estão abertos outros locais onde o risco de contágio é maior, como shoppings, bares e restaurantes
Os pais de alunos foram orientados a realizarem a detecção de sintomas da Covid-19 em casa (para que casos suspeitos não cheguem às escolas) e, na entrada dos turnos, os alunos passam por checagem de temperatura, higienizam as mãos com álcool em gel e utilizam tapetes sanitizantes. O uso de máscaras é obrigatório durante todo o tempo de permanência nas escolas. As salas e demais áreas estão demarcadas para garantir o distanciamento, entre outras precauções.
Relembre o decreto
No dia 29 de abril, a prefeitura publicou um decreto sobre o retorno às aulas presenciais. No documento, foi determinado que, com o fim do bandeiramento em Nova Friburgo, a Secretaria Municipal de Educação passou a seguir o bandeiramento definido pelo Estado, através do Mapa Covid-19. Somente quando a bandeira roxa vigorar neste mapa, as aulas presenciais deverão ser paralisadas. Nesta semana, o Governo do Estado classificou Nova Friburgo na bandeira vermelha, permitindo assim, a volta às aulas. O decreto do prefeito Johnny Maycon informa ainda que o retorno previsto das aulas nas escolas municipais é a partir da próxima segunda-feira, 17, a princípio em 40 unidades já inspecionadas e consideradas aptas para receber alunos e educadores. É intenção da prefeitura, posteriormente, liberar mais escolas para as atividades presenciais.
As bandeiras do Estado que permitem aulas presenciais (verde, laranja, amarela ou vermelha), prevêem que as escolas podem funcionar com 50% dos alunos por turma. Será permitido, excepcionalmente, uma porcentagem maior caso as salas apresentem condições para acomodar os estudantes com dois metros de distância entre os alunos.
Crianças têm baixa taxa de transmissão
De acordo com o estudo da Fundação Oswaldo Cruz, divulgado pelo jornal O Globo, após mais de um ano de pandemia, ainda não está totalmente esclarecido o papel das crianças na propagação do coronavírus. Mas um novo estudo de cientistas brasileiros e estrangeiros constata: elas têm maior probabilidade de serem infectadas por adultos do que de transmitirem a Covid-19 para eles — ou seja, menos chance de passar o vírus adiante.
Os pesquisadores investigaram a transmissão da Covid-19 na comunidade de Manguinhos, no Rio, de maio a setembro de 2020, e mostram que todas as crianças que testaram positivo haviam tido contato com adultos ou adolescentes com sintomas de Covid-19. A coordenadora do estudo, Patrícia Brasil, chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas, da Fiocruz, ressalta que os dados se referem a um momento diferente da pandemia, quando a variante P1, mais transmissível e hoje dominante, ainda não havia surgido. O distanciamento social também era maior do que agora. "Ainda assim não faz sentido manter as escolas fechadas com o restante da economia aberta", diz a cientista. "A vacinação dos profissionais de educação, no entanto, é essencial para a reabertura", sugere.
No início da pandemia, se acreditava que, a exemplo do que ocorre com a gripe e outras viroses respiratórias, as crianças poderiam ser grandes transmissoras da Covid-19. Contribui para isso o fato de que elas apresentam poucos sintomas e não conseguem seguir como os adultos medidas de higiene e de distanciamento social. Mas, na prática, não se observou um papel significativo das crianças na propagação da pandemia, embora as escolas tenham permanecido fechadas. As crianças pouco adoecem significativamente e integram o grupo menos atingido pela pandemia.
A pesquisa prossegue para investigar como ocorre a transmissão este ano, quando a pandemia se intensificou e novas variantes do coronavírus, principalmente a P1, estão em circulação.
Reabertura cuidadosa
Realizado por pesquisadores da Fiocruz, da Universidade da Califórnia e da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, o estudo foi aceito para publicação na revista Pediatrics, editada pela Sociedade Americana de Pediatria. Para os cientistas, não há benefício claro em manter escolas fechadas se estão abertos outros locais onde o risco de contágio é maior, como shoppings, bares e restaurantes. Defendem, porém, que a volta às aulas seja feita, além da vacinação dos profissionais de educação, cuidados de higiene, distanciamento social e uso de máscaras.
A epidemiologista da Fiocruz Marília Sá Carvalho, também autora do estudo, diz que, sem estes cuidados básicos, a reabertura das escolas aumentará a circulação do coronavírus. Mas, se tomadas as precauções, as escolas podem não ter grande impacto na transmissão. O estudo analisou dados de 323 crianças (de 0 a 13 anos), 54 adolescentes (14 a 19 anos) e 290 adultos. Foram 45 crianças que testaram positivo (13,9% do total). Os cientistas fizeram visitas às residências dessas crianças e as testaram com PCR (para detectar o coronavírus) e sorologia (em busca de anticorpos que revelassem exposição ao Sars-CoV-2). Adultos e adolescentes que moravam com as crianças atendidas também foram testados. A hipótese dos pesquisadores era a de que se a transmissão fosse principalmente de adultos e adolescentes para crianças, eles teriam anticorpos antes delas. Foi exatamente o que ocorreu.
Vacinação infantil
Os cientistas ressaltam que mesmo não tendo papel importante na transmissão da Covid-19, é preciso incluir as crianças nos ensaios clínicos de imunizantes. "Se os adultos forem imunizados e as crianças não, elas podem continuar a perpetuar a epidemia", explica Patrícia Brasil. Os pesquisadores lembram ainda que em países de alta incidência da Covid-19, como o Brasil, é preciso imunizar no mínimo 85% da população para de fato conter a pandemia. E esse percentual só será alcançado com a inclusão de crianças no programa de vacinação. No Brasil, 25% da população têm menos de 18 anos.
Atualmente, nenhuma das vacinas contra a Covid-19 foi aprovada para crianças. Elas não participaram dos ensaios clínicos por razão lógica: não são parte dos grupos prioritários. No entanto, os fabricantes de alguns dos imunizantes já iniciaram testes com elas. (
Com informações do Jornal O Globo).
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