10 de Setembro: Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio

Criando esperança através da ação
sexta-feira, 09 de setembro de 2022
por Jornal A Voz da Serra
10 de Setembro: Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio

O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, celebrado anualmente em 10 de setembro, é organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (Iasp) e endossado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). O evento representa um compromisso global para chamar atenção para prevenção do suicídio.

O tema de 2022, Criando esperança através da ação, reflete a necessidade de uma ação coletiva para lidar com essa questão urgente de saúde pública. Todos nós — familiares, amigos, colegas de trabalho, membros da comunidade, educadores, líderes religiosos, profissionais de saúde, autoridades políticas e governos — podemos tomar medidas para prevenir o suicídio.

O objetivo geral deste dia é aumentar a conscientização sobre a prevenção em todo o mundo. Os objetivos incluem promover a colaboração entre partes interessadas e a auto-capacitação para lidar com a auto-mutilação e o suicídio por meio de ações preventivas. Isso pode ser alcançado através da capacitação de profissionais de saúde e outros atores relevantes, mensagens positivas e informativas voltadas para a população em geral e grupos de risco, como jovens, e facilitando a discussão aberta sobre saúde mental em casa, na escola, no local de trabalho, entre outros ambientes. Aqueles que pensam ou são afetados pelo suicídio também são incentivados a compartilhar suas histórias e procurar ajuda profissional.

Em 2019, 97.339 pessoas morreram por suicídio na região das Américas e estima-se que as tentativas de suicídio foram 20 vezes maior que esse número. (Fonte: OPAS e OMS: https://www.paho.org/pt/campanhas/)

Cada Vida Importa

Por Leila Schuindt Monnerat*

“O mês de setembro é dedicado à prevenção ao suicídio. Tenho observado nas redes sociais críticas a respeito do Setembro Amarelo, algumas destas muito duras, inclusive desmerecendo a campanha e quem a divulga, alegando que falar sobre a importância de cuidar da saúde mental deveria ser o ano todo, e não apenas um mês.

Concordo que estamos muito longe do que deveríamos em termos de conscientização e valorização da vida (as estatísticas nos mostram isso), mas não creio que sejam construtivas as críticas que fragilizam uma campanha dessa importância. Ao contrário, ela necessita de mais adesão.

Penso que seria mais útil fazer uma autocrítica sobre o modo como nos apresentamos e consumimos conteúdos. As mídias são vitrine de uma vida fantasiosa, com filtros de todo tipo para esconder as imperfeições, e para tornar o virtual aparentemente mais atraente do que ele é de verdade. Tudo isso impacta negativamente a saúde mental. E o pior: plataformas que permitem a viralização de "desafios" propondo autolesão e suicídio são o auge da barbárie. Algo muito errado aconteceu em nossa evolução enquanto sociedade... Precisamos de uma vez por todas mudar essa realidade!

O assunto é complexo e aviso de antemão que irei me alongar, pois penso que há derivações do mesmo tema. A primeira delas é claro a PREVENÇÃO, para evitar que as tentativas se concretizem. A maioria dos casos de suicídio está associada a algum tipo de adoecimento psíquico. Levando em conta que o número de tentativas supera o de mortes, fica claro que o número de pessoas que precisam de ajuda é enorme. Diagnóstico adequado e conduta terapêutica eficaz são fundamentais. 

Mas não podemos deixar de considerar que no Brasil, ao menos no contexto da saúde pública, a atenção psiquiátrica ainda é deficiente. É insuficiente a quantidade de psiquiatras, psicólogos e também profissionais de enfermagem preparados para lidar com o tema, e nem todos estão devidamente aptos a atender os casos que se apresentam (haja vista os relatos de violência psicológica sofrida pelos sobreviventes atendidos nas emergências de hospitais). Capacitação contínua e atualização profissional são necessárias.

Também não podemos deixar de lembrar que, de modo geral, as medicações psiquiátricas são caras e de uso prolongado. Da mesma forma, o atendimento psicológico tem um custo, e se dá a longo prazo. Se a saúde pública não atende a tempo nem adequadamente o paciente em risco de suicídio, e ele não tem condições financeiras de arcar com os custos do tratamento, então estamos diante de mais uma questão de desigualdade social que leva à morte, tal como a fome, a miséria e a violência.

O segundo ponto é o suporte aos sobreviventes enlutados (parentes e amigos que perderam alguém por suicídio). É imprescindível que essas pessoas atravessem as etapas do processo de luto tendo respaldo de profissionais qualificados, e também possam se unir em grupos de apoio mútuo nesse momento tão difícil.

Nesse aspecto, percebo que as redes sociais têm ajudado muito na divulgação de projetos de suporte emocional na POSVENÇÃO. Quando alguém falece dessa forma, leva consigo também uma parte de cada um de seus amigos e familiares. É preciso ajuda profissional para ressignificar o que resta e reconstruir a vida sem alguém que amamos e que partiu tão bruscamente, pois ficam muitas perguntas sem respostas…

Infelizmente há um estigma muito forte sobre a família enlutada. Muitos procuram atribuir a ela a responsabilidade pelo ocorrido sem nem mesmo saber o que se passou (atuam deliberadamente como juízes e carrascos das vidas alheias). Isso só aumenta o sofrimento. Essa família precisa de um suporte emocional que a fortaleça para seguir em frente.

E, por fim, outro aspecto — não menos importante — é o ACOLHIMENTO aos familiares dos sobreviventes. A probabilidade de uma pessoa cometer suicídio aumenta se houve uma tentativa prévia: estudos indicam que 10% destas pessoas cometerão suicídio nos próximos dez anos subsequentes à primeira tentativa.

Isso faz com que a família tenha de conviver com a devastadora e contínua sensação de que, a qualquer momento, a morte venha a se concretizar. O sentimento de impotência e insuficiência é inevitável e angustiante. E também por isso, essa família precisa de suporte emocional e acompanhamento profissional para que tenha condições de lidar com a situação. É PRECISO CUIDAR DE QUEM CUIDA.

    Suicídio é um tema muito delicado. Passa por questões de saúde pública e igualdade social. Para abordá-lo é necessário ter empatia e bom senso. Mas ele precisa ser exposto. É preciso falar sobre. Debater e estabelecer políticas públicas eficazes. Deve ser uma bandeira levantada por todos, não apenas por profissionais de saúde mental. E não apenas em setembro.

O primeiro passo para reduzir o número de vítimas do suicídio é falar abertamente a respeito, e permitir que todos sejamos ouvidos e amparados: pessoas em risco, sobreviventes enlutados e também os sobreviventes e seus familiares. Cada vida importa.”

*A autora é mestra em Biologia Celular e Molecular, pela Fiocruz. Abandonou a carreira em 2015 por causa da depressão, e desde 2017 é empreendedora na área de alimentação inclusiva e vegana em Nova Friburgo.

 

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