Medicina nuclear em Friburgo é uma realidade

Max Wolosker

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Economia, saúde, política, turismo, cultura, futebol. Essa é a miscelânea da coluna semanal de Max Wolosker, médico e jornalista, sobre tudo e sobre todos, doa a quem doer.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

A medicina nuclear em nossa cidade está, há quatro anos, sob a responsabilidade do médico Gustavo Barbirato. Ele nasceu em Niterói, mas veio para Friburgo com seis meses de idade. Aqui fez o primeiro e segundo graus no Colégio Anchieta, de onde saiu para a faculdade de medicina de Teresópolis. Foi residente em Cardiologia, na Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro e residente em medicina nuclear, no Pró-Cardíaco, também na capital fluminense. Atualmente, chefia o setor da medicina nuclear na Exâmina, já tendo trabalhado no Rio e em Brasília. Como diz o ditado, o bom cabrito à casa volta. E ele nos concedeu uma entrevista para falar de sua especialidade e da sua importância dentro da medicina diagnóstica e curativa.

Segundo ele a medicina nuclear (MN) é uma especialidade médica que usa substâncias radioativas, através de radioisótopos que são elementos radioativos, sozinhos ou atrelados a alguma molécula (radiofármacos) para fazer diagnósticos de uma maneira mais fisiológica. Isso é feito através da captação por gama câmeras, que avaliam a função de um órgão, a sua fisiologia, diferentemente da radiologia que nos dá um diagnóstico mais estático, anatômico. Para entendermos melhor, no caso de morte cerebral, a MN por não mostrar áreas captantes atesta a sua não funcionalidade ao contrário da ressonância magnética ou da tomografia computadorizada que mostram apenas a integridade física do órgão. Ela é usada também para tratamentos, em casos mais específicos, como tumores, doenças da tireoide, etc. Os elementos radioativos mais utilizados são o Tecnécio, o Iodo, o Tálio, o Lutécio e outros.

Perguntamos ao Gustavo se o uso dessas substâncias radioativas acarretariam danos à saúde e ele nos falou que a quantidade utilizada para diagnóstico é muito pequena não sendo suficiente para causar transtornos ao órgão examinado. Tanto é assim, que a equipe que trabalha diretamente com os pacientes, não apresenta positividade no dosímetro que é obrigada a usar pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Nos disse ainda que a meia vida de alguns elementos, como o tecnécio, é muito pequena, de apenas seis horas, quer dizer após seis horas de injetado ou deglutido, permanece apenas 50% do que foi absorvido e após 24 horas ele, praticamente, não se encontra mais no organismo. Nos casos de tratamento, como por exemplo do hipertireoidismo, que requerem doses maiores, nunca elas ultrapassam o recomendado e, aí, os pacientes são orientados a evitarem contato com outras pessoas. Isso porque a meia vida do iodo radioativo usado nesses casos, é maior.

Sabemos também dos casos de câncer que surgiram após a explosão da bomba atômica de Hiroshima e Nagasaki, no Japão e do acidente nuclear em Chernobil, na Ucrânia. Mas aqui, também, segundo Gustavo, a radiação à qual os seres humanos foram expostos era muito grande causando riscos à saúde. No caso da MN as quantidades são mínimas, o suficiente para a realização do exame.

De acordo com Barbirato, esses elementos são seguros, podendo ser usados por crianças e idosos e, também, nas gestantes. Claro que em determinadas situações como no caso da tireoide, é importante precaução, por que o órgão do feto vai captar também o material radioativo. Por isso, no caso de ablação da glândula pelo iodo radioativo ter que ser muito bem ponderado. Ou deixar para o pós-parto ou utilizar outro método. Mas, por exemplo, uma grávida com TEP (tromboembolismo pulmonar) que não pode ser submetida a uma angiotomografia (a exposição ao raio X é muito grande), a perfusão com radioisótopo não teria problemas. Gustavo citou já ter feito exames em pacientes com mais de 90 anos, sem problema algum. Assim como, em recém natos, com história de refluxo vesico ureteral, o exame é realizado sem contraindicações.

Outro ponto abordado foi o uso concomitante do radioisótopo com alguns medicamentos. Por exemplo no caso da tireoide e dos rins existem medicamentos que podem prejudicar o exame, daí todo um protocolo, que já existe, para evitar esse tipo de interferência. Muitas vezes o tratamento tem de ser modificado, com a utilização de outras drogas que não causem problemas de competição ou somação com o radiofármaco.

Com relação ao tratamento, foram citados aqueles para tumores da tireoide, do hipertireoidismo, de tumores de próstata e dos ossos. Inclusive temos um termo que foi criado recentemente, o teranóstico, que vem a ser o seguinte: injeta-se a quantidade de radioisótopo para extirpação do tumor e segue-se o desenvolver da regressão da lesão com os marcadores próprios. Isso é muito comum em tumores de próstata e tumores neuroendócrinos, onde é possível se acompanhar a evolução, com a ausência da captação que mostra o desaparecimento da área comprometida. É importante ressaltar que no caso dos tumores neuroendócrinos, a sobrevida que era de no máximo dois anos e meio se expandiu com o uso do lutécio, caso essa célula tumoral tenha afinidade com a lesão.

Nova Friburgo está preparada para vários exames da MN, mas nem todos principalmente aqueles que exigem aparelhos mais sofisticados, em função do alto custo. Nos falta, também, quartos terapêuticos para aqueles casos em que a dosagem de radioisótopo tenha de ser maior, normalmente acima de 50 milicuries (Curie é a unidade de medida da radioatividade), ou locais para uma radiologia intervencionista, como no caso do tratamento de tumores hepáticos. Aliás, a MN é mais difundida nos grandes centros, no Brasil mais nas regiões sul e sudeste, com menos clínicas nas demais, apesar de que nos últimos quatro anos esse número cresceu mais de 50%, de acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear. Não é muito comum clínicas em cidades menores e, na realidade, somos privilegiados em contar com tal serviço.

No entanto, com a chegada do Hospital do Câncer em nossa cidade, a tendência é uma expansão dessa especialidade, pois um hospital oncológico necessita de um serviço de MN próprio ou próximo a ele. De acordo com Gustavo, a Oncologia junto com a Cardiologia ainda são o carro chefe da MN, sem falar na Ortopedia já que os maiores causadores de metástases ósseas são os tumores de próstata, mama, pulmão e tireoide.

Para encerrar o dr. Gustavo Barbirato tranquiliza a população dizendo que o risco de contaminação pelos radioisótopos não existe, que as intervenções seja no campo do diagnóstico seja da terapêutica são com doses necessárias, sem causar riscos para a saúde do paciente. As clínicas são monitoradas pelo CNEN e pelo Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) para que o nível de segurança seja sempre elevado.

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