Propor ideias que possibilitam aumentar a qualidade urbana da cidade não é utopia: vamos fugir das soluções simplórias e imediatistas que sempre são adotadas às carreiras e levam ao fracasso ou são abandonadas pelo meio do caminho.
A ressignificação do campus onde funcionou o Colégio Nova Friburgo da FGV – “Fundação” como era conhecido pelos friburguenses – não se resolve sem investimentos em planejamento, sem articulação política e, principalmente, sem a efetiva integração do lugar à malha urbana da cidade.
Comecei a pensar na transformação daquele sítio e na nova destinação do conjunto de edificações ali existentes, que estão se degradando e sendo engolidos pela mata, em bairro regularizado, partindo de conceito até agora não cogitado, inspirado no modelo das comunidades espalhadas pelos Alpes Suíços, com ambientação ecológica e assegurando acessibilidade permanente ao platô através de transporte público, criando a sinergia indispensável com a cidade espraiada no vale do Rio Bengalas.
O objetivo é restaurar e dar nova destinação às edificações existentes, construindo outras para aumentar a diversidade de usos e o adensamento populacional recomendável para justificar a implantação da infraestrutura e o saneamento básico.
Enfim, criar um novo bairro na cidade, 100% ambientalmente sustentável, livre do trafego poluidor de veículos movidos com combustível fóssil nas vias internas e, se economicamente viável, transformar a atual ladeira em leito de um modal sobre trilhos e construindo novo acesso viário – menos sinuoso e quase plano – iniciando na Rod. Friburgo/Teresópolis, na altura do Córrego Dantas.
Estou convencido que nenhuma instituição ou empresa – quer pública ou privada – terá condições de aportar, sozinha, os recursos financeiros demandados para reverter a atual situação e tampouco, de maneira autônoma, tomar providências sem a participação do governo do município.
Foram os casos da Uerj, na tentativa de localizar seu campus do interior, abandonando depois da catástrofe das chuvas de 2011 e, mais recente, o Sesc/Senac, desistindo da compra depois de apresentada e aceita proposta de aquisição por razões até hoje não muito bem explicadas.
A solução mais indicada para concretizar o imaginado bairro ecológico é por meio de operação urbana consorciada – mecanismo previsto no Estatuto das Cidades (Lei 10.527- Seção X), denominado Participação Público-Privada (PPP), a qual tem dado bons resultados em intervenções urbanas de médio e grande porte. Antes, terá que ser conseguido o alinhamento entre o Executivo e a Câmara dos Vereadores responsáveis pela criação e aprovação do Plano Diretor bem como das legislações urbana e edilícia pertinentes.
Fórum agendado para 2021
Com a finalidade de abrir debate sobre as alternativas de ocupação do bairro ecológico e sua integração à malha urbana da cidade – ocasião em que certamente será encontrada a melhor destinação de uso para todo aquele conjunto edificado – a Associação dos Ex’s planeja a realização de Fórum na cidade, a ser agendado no inicio do próximo ano quando já estiver sido empossada a nova administração municipal, participando representantes do empresariado e da sociedade civil local, objetivando convencer a FGV reformular sua decisão de alienar o valioso ativo imobiliário antes de ser revitalizado e tirado do ostracismo a que está relegado.
O modelo unicista até agora adotado para a procura de interessados traz dificuldades e limita os eventuais investidores. “Certo, ou errado, o mercado não vê valor ali e caberá a nós mostrar que o mercado está errado e que, encontrando o formato correto, haverá interessados na aquisição”, pontuou um ilustre ex-aluno que atua no setor imobiliário.
A participação da Prefeitura que já havia ajudado na época em que foi construído o Hotel Cassino (1946) e, depois, quando foi adaptado para abrigar o Ginásio (1949) é imprescindível e deve ser chamada, mais uma vez, para participar da empreitada. A população hoje mal se recorda do que existe “lá naquele morro” e precisa readquirir o sentimento de pertencimento pelo Bem Patrimonial lá edificado, que é da cidade.
Acredito que, além de atrair a iniciativa privada, haverá ONGs Suíças dispostas a participar da incorporação, alocando recursos financeiros trazidos do exterior para aplicar em empreendimentos com viés ambiental, em razão do vínculo nato com a cidade, outrora conhecida como a Suíça Brasileira. Há também oportunidade de atrair capitais disponíveis que procuram bons projetos imobiliários em busca de financiamentos.
Investido recentemente na presidência da Associação dos Ex’s, quero dar uma guinada na sua atuação, assumindo a postura de incubadora de proposições e ações empreendedoras, passando a ser proativa, buscando apoios e parcerias junto ao empresariado, na sociedade civil e, principalmente, promover a participação dos habitantes de Nova Friburgo.
*Luiz Otávio Lins de Souza é arquiteto e urbanista | Presidente da Associação dos Ex-Alunos, Professores e Servidores do GNF/CNF da FGV | Contato: lolinsdesouza@gmail.com
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