A história que A VOZ DA SERRA relata neste espaço é para quem acredita que nada é por acaso. Em meio a pandemia mundial do coronavírus, o padre Luiz Antônio de Araújo Monnerat, o padre Toninho, que desde 2014 é reitor do Colégio Anchieta (educandário com 134 anos de fundação), se auto intitula um “curioso em história”. Recentemente, ele encontrou alguns objetos centenários nos depósitos da escola jesuíta que trazem mensagens de fé e esperança neste momento de medo e incertezas.
Em um de seus “garimpos” pelo colégio, Padre Toninho encontrou cinco corações de prata (ou prateados) datados de 1903 e 1904. Dentro de um deles, a surpresa: um papel com os nomes de 69 alunos do Anchieta e do reitor daquela época e uma pequena carta em agradecimento por terem superado a violenta epidemia de varíola que se abateu sobre o Rio de Janeiro em 1904. Um achado que tem tudo a ver com os dias de hoje.
“Esse colégio é um verdadeiro sítio arqueológico. Faz tempo que venho conservando e guardando algumas coisas, montando o acervo do Colégio Anchieta. Encontrei recentemente esses cinco corações bastante sujos. Ao limpá-los, percebi que um deles estava lacrado com dois pontos de solda. Desloquei a tampa e ela abriu. Para minha surpresa, dentro tinha um papel bem dobradinho. Era uma lista com 69 nomes de alunos escritos ao lado do número de inscrição de cada um. Por fim, a assinatura do Padre Madureira, que foi um dos primeiros reitores do Anchieta. Quando tirei o fundo do coração vi que era uma cartinha, numa letra muito bonita e trabalhada, que explicava a razão da existência daquele coração. Na verdade, eles estavam pagando uma promessa, agradecendo a Deus por terem sido libertados da varíola. Quando li isso tomei um susto. Justo nesse momento de pandemia, de incertezas, inseguranças e medo, descobrimos que há 117 anos um grupo de estudantes do Colégio Anchieta estava passando pelos mesmos sentimentos que estamos passando nos dias de hoje”, revelou o padre Toninho Monnerat.
O religioso não acredita que essa descoberta tão simbólica tenha sido por acaso. Para ele, o mais valioso é a mensagem de que a fé e a união podem ajudar a humanidade a superar essa fase: “Nesse período difícil que vivemos, a mensagem de 117 anos atrás é de fé e esperança. Mas não de uma pessoa. De um grupo de pessoas que se reuniu acreditando na força da ação de Deus de libertar de um desafio, um perigo, como era a varíola naquele tempo. Se estivermos unidos e confiantes, colaborando e ajudando uns aos outros, a graça de Deus vai acontecer e vamos passar ilesos diante desse momento tão difícil que o mundo inteiro está vivendo”, afirmou o padre Toninho.
Não satisfeito em encontrar, recuperar e expor os objetos, o reitor mergulhou numa pesquisa para saber a origem dos corações. E descobriu que, além dessa conexão histórica entre a epidemia de varíola e a pandemia de Covid-19, as peças tem uma simbologia muito forte para o Colégio Anchieta: “Três dos cinco corações tinham datas gravadas: 1854 – 1904. Acredito que em 1904 fez 50 anos do dogma da Imaculada Conceição, que é a padroeira do Colégio Anchieta. E também foi em 1904 que se inaugurou esse monumento em homenagem à Imaculada Conceição”, explicou o reitor. O monumento ao qual ele se refere é o que fica localizado bem ao centro do jardim interno do colégio, uma das imagens mais características do Anchieta.
Outras preciosidades
Como já noticiado por A VOZ DA SERRA no final de agosto do ano passado, o Colégio Anchieta passou a abrir suas portas para o Tour Anchieta, uma visitação guiada (atualmente suspensa devido a pandemia) que reconta a história do colégio jesuíta, desde o início de sua história até os dias de hoje, explorando seu vasto acervo, como a Biblioteca da Filosofia, a pequena capela Mater Pietatis, o quarto do padre Luiz Yabar e uma sala de aula retrô. Um verdadeiro mergulho em diferentes temáticas como a fé, o trabalho, a música, o esporte e os estudos em tempos passados.
“Nos meus dias de folga saio garimpando esses objetos antigos. Daí que surgiu a ideia do ‘corredor histórico’. Recentemente achei quase quatro mil discos de vinil, todos em álbuns, limpei e levei para a sala de música. Também encontrei diversas prateleiras com partituras musicais, um acervo enorme de fotos antigas de Nova Friburgo e da relação do Colégio Anchieta com o Country Clube. Mas ainda há muita coisa a ser descoberta. Tem duas salas inexploradas no colégio que em breve vou iniciar uma pesquisa”, projetou padre Toninho Monnerat.
O acervo também conta com lembranças de ex-alunos ilustres do Colégio Anchieta, como Ernani do Amaral Peixoto, os filhos de Euclides da Cunha e Carlos Drummond de Andrade. Este último, inclusive, conta-se que era instigado a escrever sempre que a inspiração o abordasse. Por esse motivo, escrevia poemas até mesmo durante as aulas de ensino religioso, o que lhe custou advertências e, depois, uma expulsão do colégio.
“Quando Drummond estudou aqui, entre 1918 e 1919, existia a Aurora Colegial, primeiro jornal colegial do Brasil. E ele escreveu alguns artigos e crônicas nesse jornalzinho. Eu conhecia uma, que estava exposta aqui no colégio, que era a “História do Pinto Pelado”. E em um armário cheio de embrulhos com os volumes desses jornais, achei mais nove edições com crônicas de Drummond. Então hoje temos dez crônicas de Carlos Drummond de Andrade da época quando foi aluno do Anchieta, com cerca de 15 anos de idade”, se orgulha o reitor, que finaliza:
A mensagem do coração
“Amabilíssimo Jesus, nosso Deus, nosso Salvador, nosso Pae amorosissimo recebei como satisfacção de nossa promessa este coração, como penhor da gratidão que vos professamos por nos haverdes preservado da variola. Divino Redemptor, verdadeiro amigo dos jovens, fazei que este coração com todos os nossos nomes symbolize o que tanto desejamos, e pelo amor de vossa Mãe sanctissima vos pedimos, que é de sempre vivermos unidos ao Vosso Coração adoravel e em união de seus sentimentos, para com Elle gozarmos eternamente”.
14 Pamphilo B. Freire de Carvalho
15 Waldemar Eduardo Magalhães
16 Christiano Soares de Mattos
19 Nestor Vidal Gomes
23 José M. Mac-Dowell
35 Renato Aloire Maldonado
39 Octavio d'Almeida Magalhães
44 Sylvio Liberato Roméro
45 Antonio Gentil da Frota
50 Alvaro Joaquim de Oliveira Jr.
51 Aluisio Pacheco Ferreira
52 Mario Mattos de Barros
53 Euclides Mattos de Barros
55 Laurindo A. Lemgruber Filho
58 Silverio Rodrigues de Mello
60 João de Paula Fonseca Soares
61 Egberto Nogueira Penido
67 Luiz Augusto de Miranda Jordão
68 Caetano Henrique de Almeida
69 Alberto de Medeiros Silva
71 Benjamim Magalhães de Oliveira
85 Augusto Lopes de C. Junior
89 Carlos Saboia Bandeira de Mello
91 Octavio Ribeiro de Carvalho
94 Duarte da Rocha Vaz
97 Olyntho Bogado Leite
100 lonas Augusto de Miranda
108 Pio Benedicto Ottoni Francisco Lemgruber Portugal
112 Carlos de Sá Neves da Rocha
117 José Baptista Lemgruber
118 Leopoldo Weiss Jr.
121 Maurillo Modesto e Martins de Mello
136 Luiz de A. Portella
138 Linneu Ferreira de Camargo
139 Cid Ferreira de Camargo
141 Lourenço Lemgruber Junior
145 Virgilio Augusto de Moraes Filho
146 Durval Figueiredo de Lacerda
151 Tito Prates da Fonseca
153 Alvaro Braga
154 Archimedes da Silva Braga
163 Virgilio Fabiano Alves
165 Roberto Luiz de Seixas Corrêa
166 Sergio Luiz de Seixas Corrêa
169 Alvaro Henrique de Carvalho
170 Paulo Affonso de Carvalho
173 José d'Assumpção V. Araujo
178 José Azevedo Santos Moreira
181 Antonio Vianna Marques
182 João Vianna Marques
187 Antonio Teixeira Rodrigues
188 Francisco Soares de Gouvéa
192 José G. Monteiro de Barros
199 Raul Teixeira Rodrigues
200 Ambrosia Caldas Lins
203 José Antonio Veiga Pedreira
204 João Pedreira do Coutto Ferraz Neto
208 Raul Seabra
216 Paulo Betim Paes Leme
218 Acacio Machado de Campos
230 Glauco da Cruz Ribeiro
233 Humberto Roza do Valle Guimarães
234 Almiro Rosa do Valle Guimarães
235 Theodosio R. Machado
248 Manoel Gentil do Valle Gentes
251 Osvaldo Portugal Pitombo
115 João de Rezende Tostes
250 Feliciano do Valle Bentes
P. José Manoel de Madureira S. J.
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