Escolas particulares em funcionamento em todo o país vêm sentindo os efeitos da crise financeira causada pelo novo coronavírus. São mais de 20 mil escolas particulares e cerca de 300 mil funcionários, para atender 2,5 milhões de alunos de até 5 anos. E com essa multidão de crianças em casa, muitos pais começaram a fazer as contas para então descobrir que para manter os filhos matriculados precisavam pedir descontos. "Nossa maior preocupação foi com a parte financeira”, alegam, em uníssono.
A inadimplência em São Paulo, por exemplo, em abril, já era de 21%, no ano passado foi de 6%. Segundo dados do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo (Sieeesp) cerca de 50% das escolas podem fechar as portas caso não recebam ajuda estatal. Segundo o presidente do Sieeesp, Benjamin Ribeiro da Silva, 80% das escolas particulares são pequenas, cobram mensalidades de R$ 300 a R$ 1 mil e não estavam preparadas para atender a essa pandemia.
“De um momento para outro tiveram que adquirir equipamentos, investir em tecnologias, parcerias, para atender a esse novo momento. Tenho certeza que nem Estado nem prefeituras terão como atender esse número de mais de um milhão de alunos de uma hora para a outra", ressaltou o representante do Sieees.
O Procon de São Paulo recebeu mais de cinco mil reclamações de pais que não conseguiam negociar as mensalidades. Inicialmente, a instituição queria que as escolas oferecessem descontos a todos os pais. Mas o acordo firmado agora prevê que os casos sejam analisados individualmente. De acordo com uma pesquisa do Instituto Datafolha, 76% da população acha que as escolas devem permanecer fechadas nos próximos dois meses. O setor reclama da falta de apoio do Governo Federal.
Incertezas na retomada
Em Nova Friburgo, o panorama não parece ser tão dramático. Segundo pais consultados para esta reportagem, por hora eles não vêem perigo de fechamento de escolas. “Pelo menos por enquanto acho que a escola não está correndo esse risco. Estamos conseguindo pagar as mensalidades porque não perdemos nossos empregos, e sei de outras famílias que também estão empregadas”, contou um deles, acrescentando que soube que algumas escolas estão aceitando dar descontos para evitar cancelamento de matrículas.
De qualquer maneira, cancelamentos na educação infantil, período em que é mais difícil manter atividades fora da escola, é um fantasma que ronda o setor, principalmente as creches, que atendem crianças de 0 a 3 anos de idade. Entre os motivos para tirar os filhos do colégio estão a incerteza de quando as aulas serão retomadas e a perda de renda familiar.
“É difícil conseguir que crianças de 3, 4 anos, se concentrem. Nessa fase, a educação infantil usa muito a interação, o lúdico. Atrair a atenção delas não é tarefa fácil, principalmente quando o pai ou a mãe está em home office”, comentou a professora Denise Martins, que além do casal de filhos pequenos, dá aulas on-line para uma turminha da escola onde trabalha. “É muito estressante e nem sempre me sinto satisfeita com o resultado. Ensino remoto é difícil", resumiu.
Empregos ameaçados
O sindicato que representa os professores da educação privada em São Paulo (Sinpro-SP) explica que, embora ainda não haja um quadro claro sobre a quantidade de demissões de professores na crise, é na educação infantil que está a maior parte de pedidos para a suspensão de contratos de trabalho - modalidade prevista na Medida Provisória 936, em vigor desde abril por conta da pandemia e que permite que se suspendam por até 60 dias os contratos trabalhistas, sem que haja pagamento de salário por parte do empregador.
"Pode ser que em muitas escolas o processo de demissão esteja sendo retardado por essa possibilidade de suspensão", explicou Silvia Celeste Bárbara (Sinpro-SP). Mas, caso se concretize o fechamento de uma grande quantidade de turmas ou de escolas, as perspectivas de desemprego são bastante preocupantes, diz Tadeu da Ponte, que integra uma iniciativa chamada União Pelas Escolas, que está elaborando projetos de contingenciamento para o setor de educação privada - uma das ideias em gestação é a de se propor um voucher, semelhante ao auxílio emergencial sendo concedido pelo governo, para garantir que famílias consigam pagar as mensalidades de suas escolas. A proposta está em discussão para ser formalizada. Outra demanda é pela criação de políticas de crédito do governo voltado às escolas de pequeno e médio porte.
"O risco é que, se a escola fecha, o aluno não tem para onde voltar quando as aulas presenciais forem retomadas”, alerta Ponte. Ao mesmo tempo, alguns grupos têm defendido a volta do ensino privado antes do ensino público - previsto para iniciar a reabertura a partir de 8 de setembro, segundo plano anunciado pelo governo paulista.
Esses grupos defendem que muitas escolas privadas já têm protocolos de higiene prontos para voltar a receber os alunos, mas críticos afirmam que o retorno do ensino particular antes do público pode aprofundar ainda mais as desigualdades entre os dois setores.
(Fontes: Agência Brasil e BBC News Brasil)
Deixe o seu comentário