O risco da defasagem escolar pós-pandemia

sexta-feira, 04 de fevereiro de 2022
por Jornal A Voz da Serra
O risco da defasagem escolar pós-pandemia

A crise causada pelo coronavírus trará diferentes consequências para os brasileiros. Uma das grandes preocupações dos especialistas em Educação é a defasagem escolar pós-pandemia para alguns meninos e meninas. Principalmente, para os que vivem em situação de vulnerabilidade e risco social.

Buscando manter a aprendizagem durante o isolamento, muitas escolas optaram pela utilização de aplicativos e plataformas online. Porém, devido à falta de acesso de alguns alunos à internet e a computadores, as desigualdades educacionais se acentuaram.

Além do acesso precário a recursos tecnológicos, o espaço de casa reduzido desfavorece a concentração, muitos dos familiares não conseguem prestar apoio nas atividades por possuírem baixa escolaridade e várias crianças e adolescentes, que vivem em situação de violência, acabam convivendo mais tempo com seu agressor.

Por isso, grande parte desses alunos não consegue manter uma rotina de estudos e acompanhar o desempenho da sua turma. O que gera uma defasagem e, em consequência, aumento nos índices de evasão escolar.

A tecnologia traz inúmeros benefícios para a vida contemporânea, principalmente nesse momento em que precisamos nos proteger e continuar com nossos afazeres diários. Acontece que, infelizmente, nem todas as famílias brasileiras têm acesso a recursos que, para muitos de nós, é comum e de fácil aquisição. Por isso, o ensino remoto, apesar de ser uma solução interessante, possui alguns obstáculos, como:

Falta de estrutura

Conforme o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), 96,5% das pessoas ricas do país têm acesso à internet em casa. Já entre os mais pobres, apenas 41% consegue navegar na rede. Sendo que, para muitos deles, o sinal de internet é precário. Desta forma, muitas escolas não conseguem entrar em contato com esses alunos. Nem mesmo para levar o material impresso em suas casas. O que faz com que as desigualdades educacionais sejam acentuadas.

Outro problema que envolve a falta de estrutura são os celulares com memória insuficiente para instalar aplicativos ou para baixar fotos e vídeos. Há, ainda, a falta de um espaço confortável e silencioso em casa para que os alunos se concentrem em seus estudos.

O uso de smartphones para estudar e fazer as atividades também é outra dificuldade. Imagina ter que ler os conteúdos, copiar, colar e digitar textos em uma tela tão pequena? No dia a dia, um computador ou um notebook seriam ferramentas muito mais fáceis de se utilizar. Acontece que, nem todas as famílias conseguem investir nesse tipo de equipamento.

Considerando que, em muitos casos, só quem tem celular é a mãe ou o pai. Várias crianças e adolescentes precisam esperar seus pais chegarem em casa para conseguir estudar. 

Dificuldades na relação entre família e escola

Se antes já havia desinteresse de algumas famílias na vida escolar de seus filhos, agora, devido às inúmeras dificuldades para lidar com o ensino remoto, a escola pode ter ganho menos importância.

Muitos não possuem acesso à internet ou estão com as informações desatualizadas no cadastro da escola, acentuando as dificuldades em manter contato com essas famílias. O fato de muitos terem baixa escolaridade, somado ao esgotamento dos professores, aumentaram as dificuldades de relacionamento entre família e escola, contribuindo, mais uma vez, para a defasagem escolar.

Desigualdades e  problemas sociais

Antes da pandemia, muitas crianças e adolescentes se alimentavam, exclusivamente, na escola. Agora, em casa, a alimentação é insuficiente. Alguns deles sofriam violência doméstica e, nesse momento de isolamento, são obrigados a conviver mais tempo com seu agressor. Alunos com deficiência se sentem mais excluídos, pois na maioria dos casos, faltam atividades voltadas para eles. Portanto, o risco de defasagem é ainda maior quando falamos de crianças em situação de vulnerabilidade social.

Formação  dos professores

Grande parte dos professores de escolas públicas têm dificuldade em lidar com a tecnologia. A formação docente brasileira não os prepara para utilizarem formatos digitais de ensino. Se de um lado, os alunos têm problemas com a falta de estrutura tecnológica, muitos professores não conseguem fazer o uso adequado desses recursos. (Com informações do blog Portabilis) 

Artigo: "É preciso planejar o imprevisível"

Por Yan Navarro*

Ao analisarmos os cenários possíveis dentro do segmento de educação este ano, constatamos que será preciso planejar o imprevisível. A gestão do retorno seguro à aprendizagem presencial para os alunos e professores, por exemplo, que parecia sob controle com os protocolos sanitários já estabelecidos, tornaram-se incertos à medida em que a variante Ômicron avança em todo o país. 

No entanto, mesmo nesse quadro de incertezas, alguns pontos podem ser destacados. O primeiro deles é o que chamo de apoio à aprendizagem socioemocional, que já vem sendo foco de atenção importante nas escolas e que continuará este ano. 

A defasagem do aprendizado, consequência da pandemia do Covid-19, é difícil de ser mensurada e, dessa forma, cabe aos gestores de instituições de ensino estarem atentos à realidade de sua comunidade escolar para atuar de forma certeira a fim de reduzir essa perda. A boa notícia aqui é que existe uma enorme vontade de todos em apoiar os alunos e também uma vasta comunidade de empresas de educação que oferecem as ferramentas e os recursos para ajudar os educadores nessa retomada dos processos de aprendizagem. 

A retenção de bons professores e outros funcionários da escola é um tópico que recebe pouco destaque, mas que requer muita atenção dos gestores da área da educação. Desenvolver estratégias para reter esses profissionais vai muito além da questão salarial e deve ser uma prioridade dos líderes educacionais neste ano.

É importante destacar que uma infraestrutura de trabalho adequada, a possibilidade de desenvolvimento individual e também o reconhecimento das melhores práticas implementadas são fundamentais para manter o corpo docente engajado. 

A interrupção das aulas no seu formato presencial e o ensino híbrido nos dois últimos anos resultou em um aumento no envolvimento dos pais que tiveram a oportunidade de acompanhar como seus filhos estavam aprendendo, a maneira que estavam sendo ensinados e como estavam sendo avaliados.

Esses mesmo pais agora têm a oportunidade de continuar esse acompanhamento, de maneira mais participativa no aprendizado do filho e, desta forma, outro desafio dos líderes educacionais e professores será também o de envolvê-los em todo o processo de retorno para o presencial. 

Não há como saber ao certo os efeitos a longo prazo de todas as mudanças que ocorreram na educação durante a pandemia gerada pelo Covid-19, mas é preciso sair do modo de sobrevivência e começar a planejar e a olhar para o futuro novamente. Estou esperançoso, embora não especialmente otimista, que comecemos a ver isso em 2022.

*Yan Navarro é doutor em didáticas específicas pela Universidade de Valência (Espanha), e doutor em Geografia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

 

 

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