Desde o último domingo, 24, até a próxima segunda-feira, 31, Nova Friburgo comemora a Semana da Reforma Protestante, para lembrar a história do importante evento, ocorrido na Alemanha, em meados do século 16. Aqui foi fundada a primeira Igreja Protestante, da América Latina: a Igreja Luterana.
As atividades festivas acontecem na altura da sede da prefeitura, na Avenida Alberto Braune, na Igreja Luterana, e na Praça Dermeval Barbosa Moreira, todas no centro da cidade. Da programação constam uma Mesa de Conversação sobre tema da semana especial, música ao vivo, tour guiado, teatro e domingo de lazer.
Um dos destaques é a apresentação do Concerto da Reforma, com a Banda Euterpe Friburguense e Comunidade Luterana Friburguense, para celebrar o 505° ano do protestantismo, que, por sua vez, também dá início à programação do Bicentenário da Imigração, em 2024, movimento ocorrido em maio de 1824.
Em 31 de outubro de 1517, o monge professor Martinho Lutero lançou as 95 teses, propondo reformar a religião católica e, consequentemente, implantando o luteranismo no mundo. Nova Friburgo tem forte ligação histórica com esse episódio por ter se tornado — 307 anos depois — o berço do protestantismo na América Latina, com a vinda dos primeiros imigrantes, liderados pelo pastor Friedrich Oswald Sauerbronn (1784-1864).
A convite do pastor Gerson Acker, a Banda Euterpe Friburguense, sob a regência de seu maestro titular Nelson José da Silva Neto, apresentará o Concerto da Reforma, nesta sexta-feira, 28, às 19h30, no Templo Pedro e Paulo, localizado na Avenida Galdino do Valle Filho, 7, com participação especial do tenor argentino Martín Fernandez.
O público terá a oportunidade de ouvir um repertório especial, com composições de Johann Sebastian Bach, Giuseppe Verdi, bem como o ‘Hino de Lutero’ (Castelo Forte), que integram o repertório que promete uma apresentação sinfônica emocionante.
A Igreja Luterana vai desenvolver pelos próximos dias, um amplo calendário com o lançamento das atrações do Bicentenário da Imigração, a ser comemorada daqui a menos de dois anos. A entrada para o concerto é franca, sujeita à limitação de capacidade de público no interior da Igreja.
Programação
Sexta-feira, 28
Igreja Luterana, 10h às 12h – Tour guiado pela Igreja Luterana (agendamento prévio pelo telefone (22) 2543 - 6307. As vagas são limitadas)
Avenida Alberto Braune, a partir das 18h30
● Um. Sound
● Ana Nóbrega
Sábado, 29
Igreja Luterana, 10h às 12h – Tour guiado pela Igreja Luterana (agendamento prévio pelo telefone (22) 2543 - 6307. As vagas são limitadas)
Avenida Alberto Braune, a partir das 18h30
● Abraão Alencar
● Gabriel Guedes
Domingo, 30
Avenida Alberto Braune
● 9h às 13h – Domingo de Lazer
● 14h às 16h – Apresentação de Teatro Jeová Nissi – O Tribunal
● 16h às 17h30 – Carlinhos DJ
Segunda-feira, 31
Avenida Alberto Braune, a partir das 18h30
● Celebração da Reforma Protestante
Lutero para tempos sombrios
Por Pastor Gerson Acker*
Guerras, fome e peste negra. Três grandes estigmas que caracterizaram a Idade Média e que a fazem ser conhecida como “Idade das Trevas”. Nesse contexto, não é de se surpreender que uma religiosidade cheia de crendices e superstições, uma população com medo da morte e a imagem de um Deus carrasco fossem um terreno fértil para o desenvolvimento da venda de cartas de Indulgências. Tais documentos, davam aos seus possuidores a certeza da salvação e um lugar garantido nos Céus e garantiam o poder econômico e político da maior Senhora feudal da época — A Igreja Católica.
Às vésperas do 31 de outubro, rememoramos o protesto do então padre alemão Martin Lutero, que no ano de 1517, pregou na porta da igreja do castelo de Wittenberg, suas famosas teses questionando a venda de
indulgências e a infalibilidade papal. Através dos seus estudos teológicos, seus escritos e suas composições musicais, Lutero convidou seus contemporâneos a retornar à fonte primeva do Cristianismo: a Sagrada Escritura.
Através da Palavra — que sempre aponta para o Cristo — lançar luz sobre as trevas. Desde que os exércitos russos invadiram o território ucraniano, a palavra “guerra” voltou ao nosso cotidiano. Porém, cerca de 59 conflitos seguem acontecendo em diferentes partes do planeta. Tais tragédias humanitárias continuam matando e matando de fome milhões de pessoas.
O ano de 2022 marca um retrocesso da segurança alimentar em nosso país, atualmente cerca de 33 milhões de pessoas passam fome no país. Passada a pandemia de Covid-19, lidamos com os resíduos deixados por essa “peste”. Mesmo ouvindo o chavão popular que tal experiência nos tornaria “pessoas melhores”, assistimos o crescimento de correntes anti-vacina e, como efeito, doenças outrora extintas, voltam a nos assombrar. Nesse contexto, não é de se surpreender que uma religiosidade baseada na “teologia da prosperidade” tenha terreno fértil. Acredite, insistimos em dizer que estamos no século XXI e não na “Idade das Trevas”.
Como lançar luz sobre isso? Busco em Lutero alguns insights nesse tempo sombrio. Quando o reformador insistiu na centralidade da Palavra, impreterivelmente advogou para que toda e qualquer pessoa tivesse acesso à Bíblia. Para tanto, escreveu às autoridades de seu tempo exigindo que estas construíssem e mantivessem escolas públicas. Não se tratava apenas de traduzir a Bíblia, era preciso ensinar as pessoas a ler, a escrever e a pensar!
Famosa é a frase de Lutero: “A cada um florim gasto com guerra, cem deveriam ser investidos em educação”. Precisamos resgatar o mote reformatório de que a maior força de uma nação é ter muitos cidadãos
instruídos. Por isso, um governo que sucateia a educação está muito longe do Evangelho.
As ideias reformatórias se espalharam com muita rapidez pela Europa graças à invenção da imprensa, isto é, a máquina de impressão tipográfica inventada pelo alemão Johann Gutenberg. Onde reinava a desinformação e a manipulação de conteúdos da fé, agora era possível ler material de qualidade.
Atualmente, as informações estão a um ‘click’ dos nossos smartphones, embora tenhamos que lidar com fake news, “bolhas de conteúdo” e discurso de ódio. O conhecimento deveria nos tornar pessoas mais dialogais, mais sensatas e prudentes na avaliação dos conteúdos aos quais temos acesso. A fé evangélica está arraigada ao compromisso com a Verdade, pois ela que liberta (João 8.32).
Popularmente diz-se que para conhecer alguém de verdade, basta lhe dar poder. Em sua crítica ao papado, a Reforma Protestante lança luz sobre o poder que se corrompe quando é desassociado do servir. Governo que não serve a população, garantindo paz, saúde, educação e comida, não serve!
Lutero vai dizer que “muitas pessoas têm considerado a fé cristã como algo fácil; elas pensam assim por que nunca a experimentaram”. Enquanto nossa fé não fizer frente às guerras, pestes e fomes do nosso tempo, lamentavelmente seguiremos mergulhados nas trevas — porque há reformas que dependem de nós.
(*P. Gerson Acker, da Igreja Luterana de Nova Friburgo / Reforma Protestante, 2022)
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