Loteamento Tiradentes: serviço de van é interrompido em meio a questionamentos

Ex-vereador, que fazia condução do veículo, responsabilizou moradores, que procuraram a imprensa, pela interrupção
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Loteamento Tiradentes: serviço de van é interrompido em meio a questionamentos

Na tarde da última quarta-feira, 29, a equipe de A VOZ DA SERRA produziu uma reportagem sobre a difícil situação dos moradores do distrito de Amparo, abordando, entre outros pontos, a falta de transporte público no Loteamento Tiradentes, há quase 40 dias. Moradores que mantinham contato com a redação começaram a nos enviar relatos de áudios e mensagens de texto do subsecretário de Estradas de Rodagem, da prefeitura, Aylter Maguila, a um grupo de Whatsapp da Associação de Moradores de Amparo, incomodado com os questionamentos dos moradores sobre a demora no andamento das obras de recuperação dos estragos das chuvas no distrito. Maguila, é atual suplente do vereador Christiano Huguenin (MDB), e exerceu o cargo de vereador, pelo MDB, entre 2017 e 2018 e foi líder do governo Renato Bravo, na Câmara de Vereadores, durante parte desse período.

A reportagem de A VOZ DA SERRA abordou algumas obras realizadas pela prefeitura para reconstruir o que havia sido destruído pelo temporal de 22 de dezembro de 2019, em Amparo. Também foi incluída na reportagem a reclamação dos moradores quanto a demora para concluir os reparos em algumas vias, na Estrada do Toledo e de uma rua que cedeu na Curva da Morte. Outro ponto abordado foi com relação a circulação dos ônibus que não estão atendendo aos moradores do Tiradentes devido a queda de parte da rua de acesso ao loteamento. 

A prefeitura disponibilizou uma van para levar os moradores do Tiradentes até o centro do distrito para que os moradores pudessem então, embarcar nos coletivos em direção ao centro da cidade. Esse mesmo transporte alternativo garantia a volta dos moradores, do centro de Amparo ao loteamento. A van, segundo os moradores, era dirigida pelo subsecretário Aylter Maguila. Poucos dias após o início do serviço o veículo quebrou e o serviço ficou paralisado. A van foi consertada e entregue quarta-feira, 29, para retomar as viagens na localidade.

Diante dessas informações, a redação entrou em contato com a Subsecretaria de Comunicação da prefeitura (Secom) para pedir esclarecimentos, entre outros pontos, a respeito dos serviços prestados por Maguila. O ex-vereador, ao tomar ciência dos questionamentos, expôs a mensagem que A VOZ DA SERRA enviou à Secom (um canal direto e privado entre os órgãos de imprensa e a prefeitura) em um grupo de Whatsapp, e logo depois enviou um áudio de cerca de dois minutos informando que, diante dos questionamentos feitos pelo jornal, e por conta de alguns moradores estarem em contato com A VOZ DA SERRA, o serviço de van seria suspenso até que fosse, então, contratado  um motorista.

 O áudio de Aylter Maguila

“Acabei de receber essa mensagem da Subsecretaria de Comunicação (Secom). Moradores procuraram A VOZ DA SERRA para fazer esses questionamentos, primeiro falando uma mentira dizendo que nada foi feito. Nada foi feito, não! Não foi feito o muro. A gente está fazendo os reparos que tem que ser feitos, mas tudo bem. Agora esses questionamentos com o meu nome... então, nós vamos fazer o seguinte: a van tá aqui. Vai na prefeitura quem ligou para A VOZ DA SERRA, procura um motorista habilitado, porque eu sou habilitado. Quando achar (um motorista), a van volta a rodar, vai ter que ser assim. Porque eu estou,  a partir de 16h, fazendo um serviço voluntário por conta da situação das pessoas que moram com crianças, idosas. Não estou fazendo um serviço para me prejudicar. Então, sinceramente, se parar isso aqui vai ser até bom porque eu vou ter mais sossego. Agora... não dá pra ficar passando por isso aí que vocês vão ler o que eu mandei”.

Maguila se referiu ao conteúdo privado e que ele expôs, enviado pelo jornal à Secom. Às 15h30 de quarta-feira, 29, o ex-vereador enviou outro áudio informando que já estava próximo à prefeitura para devolver a van. O áudio causou revolta em alguns moradores de Amparo. Ao adotar tal postura o ex-vereador também atribuiu a culpa da paralisação do serviço da van aos voluntários que têm dado diversas entrevistas ao jornal, preocupados com a situação do distrito após as chuvas.  

“Os moradores entenderam que por conta da reportagem e dos questionamentos, o serviço de van parou. Ele (Maguila) se aborreceu e parou com o serviço. Os moradores realmente estão achando que foi nossa culpa. Nossa intenção é apenas solicitar a obra e o transporte”, disse Gilssara Coelho, que foi alvo pela manhã desta quinta-feira, 30, de reclamações por parte de um morador que a responsabilizava pelo ocorrido.

 Durante toda a tarde e noite da última quarta-feira, Maguila continuou a mandar áudios no grupo responsabilizando os voluntários pela interrupção do serviço. “Infelizmente a boa notícia sucumbiu diante da inconsequência e da falta de espírito público de algumas pessoas que insistem em achar que essa onda de denuncismo leva a algum lugar ou ajuda em alguma coisa. A van está sendo devolvida agora, já estou chegando à prefeitura para devolver”.

 Em outro áudio, Maguila voltou a emitir opinião a partir da exposição do conteúdo privado. “A imprensa quer dar notícia. A notícia ruim sempre pesa mais. A notícia ruim sempre vem da minoria. Às vezes crucificar alguém dá Ibope. Infelizmente é a realidade. A van voltou. Vocês viram lá o que eu postei, os questionamentos de A VOZ DA SERRA. Agora eu só quero que vocês reflitam um pouquinho e se coloquem no meu lugar”.

 “Só deixo um questionamento: vai achar funcionário para dirigir van 5h da manhã? Vai achar funcionário para dirigir van depois de 17h? Só isso”, continuou o ex-vereador.

“Essas pessoas estão igual a Alice, vivem no País das Maravilhas. Tudo pode e tudo acontece do jeito que elas querem. Quem paga o pato é quem não tem nada a ver com a coisa”, ironizou Maguila, se referindo a um dos entrevistados.

Em áudio posterior, Maguila voltou a falar de sua dedicação ao distrito. “Desde o dia 22 de dezembro eu só deixei de trabalhar cinco dias, do dia 28 ao dia 2 de janeiro. Nos outros dias eu trabalhei em tempo integral em Amparo, mas agora eu vou cumprir com a minha função de subsecretário e vou dar atenção à outras localidades, também. Porque infelizmente toda atenção dispensada não está sendo suficiente para as pessoas acreditarem que a gente trabalha em prol da comunidade. Não vou deixar de trabalhar, claro. Vou estar acompanhando aqui, mas tenho, também, que cumprir o meu papel, já que eu fui cobrado que eu sou subsecretário de obras e não podia estar dirigindo a van, então eu vou cumprir o meu papel nas outras localidades”. 

A VOZ DA SERRA ressalta que em nenhum momento fez cobrança alguma ao ex-vereador. Somente foi enviada à Prefeitura uma solicitação para confirmar que Maguila era o condutor do veículo, bem como se ele era habilitado e a confirmação de que ocupava um cargo na prefeitura.

“A prefeitura já fez a parte dela em relação ao muro. A questão é que precisa ser liberado lá pelo Ministério do Desenvolvimento. A secretaria mandou para a Defesa Civil que mandou para o Ministério e eles é que dão o aval tanto das obras quanto da verba. Não adianta a gente achar que vai estalar o dedo e aparecer um muro ali. A estrada do Toledo, não adianta. Podem falar, podem pressionar, não adianta mexer na estrada com tempo de chuva... A imprensa quer vender jornal e o que vende jornal é notícia ruim”, encerrou o ex-parlamentar.

Em nota, o Núcleo de Proteção e Defesa Civil de Amparo informou que os áudios de Aylter Maguila causaram uma “sensação de intimidação”. A nota também afirma que durante a entrevista para outra emissora, os membros do Nupdec foram hostilizados por um morador que disse "Este pessoal que tirou a van". “Podemos, sim, questionar as ações do poder público como qualquer cidadão e trabalhando como voluntários quando solicitado pela comunidade seguindo os protocolos baseado na lei federal 12608/2012 que institui a política Nacional de proteção e defesa Civil”, terminou a nota.

Procuramos a prefeitura e o subsecretário de Estrada de Rodagem para comentar sobre o caso, mas até o fechamento desta edição não obtivemos resposta. A VOZ DA SERRA deixa o espaço aberto para o pronunciamento das partes envolvidas. 

 

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