É uma honra ocupar este espaço, apesar da inevitável tristeza do momento. Afinal, nosso querido amigo Beto Meyer acabou de nos deixar, muito antes do justo e razoável. Mas o que vou tentar aqui é contrariar esse desfecho.
Quero falar de alegria. Do chope dourado da felicidade, por exemplo. Mais de uma vez fui a Friburgo para isso, e bebemos maravilhosas tulipas no garboso Bar América, patrimônio gastronômico e etílico da cidade. Eu, Beto, Gustavão e a turma. Maravilha plena. E o Beto estava em todas as paradas tricolores, de apresentador de TV a folião roqueiro nos maravilhosos desfiles de carnaval da Fluburgo.
Se os bares de ida eram em Friburgo, a volta era no Centro do Rio em ambientes clássicos como a Leiteria Mineira. Tudo, claro, ligado ao nosso Fluminense: a turma descia a serra, a gente almoçava, batia um papo no Sebo X e depois partia para o Maracanã, com novos drinques antes do jogo propriamente dito.
Acontece que Beto Meyer é um patrimônio de Friburgo, mas também da torcida tricolor em todo o Brasil. Colonizador da internet do Fluminense, promoveu os primeiros debates digitais quando mal havia telefone celular. Seu portal Torcida Tricolor é uma referência no ramo e, para completar, deu pleno suporte a um dos projetos mais legais que já se viu sobre futebol e música no Brasil: o Rock Flu, que mistura entrevistas com rock n’ roll de um jeito que só se viu antes na Rádio Fluminense, iniciativa dos heróis Gustavo Valladares e Sérgio Duarte. E com tanto estofo de Fluminense, Beto virou o que poucos conseguem de verdade: ser um influencer, no sentido de realmente influenciar pessoas no senso crítico. Durante anos reinou no X (ex-Twitter) e foi uma voz absolutamente necessária para se entender o clube das Laranjeiras e sua lida, digamos, atribulada. Tudo com a elegância de um lorde, muita educação e lucidez, numa espécie de antítese do perfil padrão dos ex-tuiteiros, quase sempre dados a uma hostilidade.
A gente era do rock. Quando era Black Sabbath, tava junto: vimos o primeiro show histórico da banda com uma galera da pesada na Apoteose. Mas nem tudo eram flores: na hora do Pink Floyd, cada um ia para um lado - eu, dos torcedores; ele, dos haters, mas é só modo de dizer porque ele não detestava nada nem ninguém. E era ótimo quando divergimos, porque o amigo diverge sempre de alguma coisa - quem concorda com tudo é bajulador…
Voltando à bolha tricolor do X, Beto foi um dos maiores incentivadores e divulgadores do meu trabalho como escritor de futebol. Tantos e tantos faziam questão de me boicotar e invisibilizar; ele via, me retuitava com elogios e quebrava meus adversários no ato. Fica a minha gratidão eterna.
Caem as últimas folhas do calendário de 2024. O desfecho não era o que eu queria, nem de longe. Perder um amigo não tem preço, mas uma coisa é certa: enquanto esteve por aqui, Beto Meyer viveu no ritmo de dez anos a mil. Abraçou os amigos, passou e recebeu a bola, trabalhou muito, fez uma linda família, botou pra quebrar em Friburgo e foi um dos tricolores mais importantes do século XXI, com muito pó de arroz e rock n' roll no volume máximo.
A ficha caiu, a dor é grande, parece inacreditável e é, mas assim é a vida. O que importa é que eu tive de ser amigo de Beto Meyer, um cara genial e imenso que muito me ajudou. Nossa amizade continua de algum jeito. Ele é uma força, uma presença e está por aqui de alguma forma. Posso sentir de várias maneiras, mas todas cabem numa só palavra: Nenseee!
Dedicado a Gustavo Valladares e Sérgio Duarte
Beto Meyer faleceu no último sábado, 14, aos 58 anos, vítima de um infarto. Deixou viúva e três filhos. A VOZ DA SERRA manifesta o seu pesar à família enlutada.
(*) Paulo-Roberto Andel é jornalista e escritor, autor de 30 livros sobre o Fluminense
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