Nova Friburgo possui mais de sete mil famílias em situação de extrema pobreza. A informação foi confirmada ao jornal A VOZ DA SERRA, com exclusividade pela prefeitura. Segundo dados da Secretaria Municipal de Assistência Social, até o último dia 21 de maio, a pasta registrou 7.109 famílias que possuem renda per capita até R$ 89. Se considerarmos uma família composta por no mínimo três pessoas (casal e um filho), pode-se afirmar que ao menos 14 mil pessoas vivem abaixo da linha da miséria no município, o que corresponde a 7,5% da população friburguense.
De acordo com o último Censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), há mais de dez anos, o município, na ocasião, possuía 237 famílias que ganhavam até R$ 65, ⅛ do salário mínimo, na época (R$ 520). Isso significa dizer que o número de pessoas em situação abaixo da linha da pobreza aumentou em cerca de 13.700 pessoas no município.
O IBGE, no entanto, não confirma estes dados, uma vez que o censo que seria realizado este ano, foi suspenso pelo Governo Federal e, por isso, fica difícil precisar os números atuais. Segundo o secretário da Fazenda, Waldery Rodrigues, "Não há previsão orçamentária para o censo". O levantamento foi cancelado devido aos cortes realizados – a contagem populacional perdeu 96% do orçamento, que foi reduzido de R$ 2 bilhões para R$ 71 milhões.
Risco de “apagão estatístico”
Especialistas avisam que faltarão dados e referências para comprovar se as políticas aplicadas nos últimos dez anos surtiram efeito, e apontam que não haverá informação para formular ações para o futuro. A ex-presidente do IBGE, Susana Guerra e o atual substituto, Eduardo Rios Neto, emitiram uma carta aberta, publicada no jornal O Globo, em abril deste ano, defendendo a realização do censo. "Além de ser um instrumento fundamental para o pacto federativo e a calibragem da democracia representativa, a contagem da população permite a determinação dos públicos-alvo de todas as políticas públicas nos âmbitos federal, estadual e municipal", escreveram.
É por meio dos dados do censo que se distribuem os recursos para educação, saúde, assistência e todas políticas públicas. Para as mais de sete mil famílias friburguenses que vivem em extrema miséria, a realização é de suma importância. Só assim, o Governo Federal poderá saber as principais prioridades, onde e como agir, estancando o abismo socioeconômico cada vez maior, impulsionado pela pandemia do coronavírus.
O censo
O censo é uma pesquisa realizada a cada dez anos pelo IBGE. O levantamento faz uma ampla coleta de dados sobre a população brasileira e permite traçar um perfil socioeconômico do país. Nos dados sobre Educação, por exemplo, o censo mapearia o analfabetismo, indicando quantas pessoas não sabem ler em cada bairro, por exemplo. Também captaria informação sobre a escolaridade, cruzando dados com a idade da população, indicando quantos adultos em cada cidade não concluíram os estudos. Além disso, poderia apontar o número de crianças fora da escola, indicando a demanda de vagas por creches.
O censo traz ainda informações mais consolidadas com informações sobre a família, a residência, além da vida escolar — e tudo isso ajuda a definir as políticas públicas de educação. Por conta do cancelamento do concurso público, o Brasil deixou de gerar 200 mil empregos temporários necessários para visitar os mais de 70 milhões de domicílios brasileiros. Para André Lázaro, da Santillana, haverá consequências para a falta de dados. "A ausência de um censo neste início da terceira década do século 21 traz graves e nefastas consequências para o país e pune com mais severidade a população mais pobre", afirma. A defasagem do censo, que já dura 11 anos, dizem especialistas, pode minar políticas públicas para os próximos anos.
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