Denúncia: faltam medicamentos, materiais e equipamentos no Raul Sertã

Em carta aberta à população, enfermagem diz sofrer perseguição e assédio moral por reivindicar piso nacional para todos
terça-feira, 17 de outubro de 2023
por Christiane Coelho (Especial para A VOZ DA SERRA)
(Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Os profissionais da enfermagem, que atuam no Hospital Municipal Raul Sertã, divulgaram ontem, 17, uma carta aberta à população informando sobre a falta de condições básicas para exercerem suas funções e tratar dignamente os pacientes. O documento cita que “A saúde não é prioridade em nosso município. Por isso, nós, profissionais da enfermagem, queremos compartilhar, especialmente com você, que usa o serviço público de saúde e sabe exatamente o cenário precário que enfrentamos, que falta o básico: materiais, medicamentos e equipamentos. Infelizmente, a ausência de comprometimento da prefeitura não nos permite trabalhar com dignidade para cuidar de você, da sua família e de todos que precisam do nosso atendimento e atenção.”

De acordo com uma técnica de enfermagem, que conversou com a reportagem de A VOZ DA SERRA e preferiu não se identificar, a falta do básico é visível a todos. “Faltam papel higiênico, sabonete para lavar as mãos e toalha de papel para secá-las. Isso para todos: pacientes, acompanhantes e profissionais. Para os profissionais, a lavagem das mãos é a primeira regra para evitar contaminação cruzada e temos que trazer de casa esses itens, assim como passamos pelo constrangimento de pedir aos pacientes e seus acompanhantes que também os tragam”, relatou ela.

Ela também disse que o uso de soro glicosado, um insumo básico para atendimento no Hospital Raul Sertã, aplicado na maioria dos pacientes, está racionado, devido ao baixo estoque. “Estamos tendo que escolher qual paciente vai usar o soro para que não falte para os casos mais graves, enquanto não chega novo estoque, que não temos previsão de quando virá. A gente está lá para ajudar a pessoa num momento de sofrimento e de dor. Como não se indignar ao ver a prescrição médica do soro glicosado e não poder usar porque não tem? ”, denunciou ela.

A técnica de enfermagem informou ainda a falta do medicamento analgésico Dipirona, durante um tempo na unidade. “Pacientes chegavam com dor e não havia esse remédio básico no tratamento. Como trabalhar assim?”, questionou ela.

Assédio moral

Na carta aberta à população, assinada por enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem do Raul Sertã, eles dizem que não são mais tratados como heróis, como acontecia durante a pandemia da Covid-19. “Hoje, não somos tratados com respeito e enfrentamos perseguições e assédio moral, por reivindicar o que é nosso por direito: o piso nacional da enfermagem. Importante enfatizar que o reajuste provém de verbas federais e a ineficiência da prefeitura tem nos privado do devido recebimento desses recursos. Nós, que somos o coração de uma equipe de saúde, dedicamos nossos esforços no Hospital Raul Sertã, ao lado dos pacientes que estão sob nossos cuidados, estamos sofrendo com o descaso”, disse a profissional de enfermagem. 

A VOZ DA SERRA entrou em contato com a Prefeitura de Nova Friburgo, mas até o fechamento desta edição, não obtivemos resposta. 

Ação coletiva pelo não pagamento do piso salarial

Na segunda-feira, 16, os profissionais de enfermagem, que fazem parte da comissão que lidera o movimento, estiveram no escritório de Direito de uma universidade de Nova Friburgo para ingressar com ação trabalhista coletiva contra a prefeitura. “São 180 profissionais na ação lutando por um direito que é nosso e que jamais deveríamos precisar nos desgastar para tê-lo em nossas contas. Mas, além da falta de estrutura, medicamentos, equipamentos e a perseguição que estamos sofrendo, estamos há quase um mês sem a complementação do pagamento do piso salarial da classe, referente aos meses de maio a agosto, repassado pelo Ministério da Saúde aos municípios. E o pior, a cada dia nos é dada uma nova desculpa ”, desabafou a técnica de enfermagem.

Mais de 200 não receberam, mesmo depois de protestos

Alguns profissionais de enfermagem que atuam no município por concurso ou contrato e que não haviam recebido a complementação do pagamento do piso salarial da classe, referentes a maio a agosto, no dia 22 de setembro, tiveram os depósitos feitos em conta na última quarta-feira, 11.

Questionamos a prefeitura sobre o número de profissionais contemplados, mas, em nota, ela respondeu que “todos os servidores que constam como aptos pelo sistema do Ministério da Saúde já receberam o pagamento, inclusive o retroativo de maio a agosto.”

Em reportagem do tele-jornal RJTV, da InterTV, exibida na noite anterior, 10 de outubro, os dados passados pela prefeitura à emissora mostram que não chega a 310 o número de profissionais na lista de recebimento. E, 213 não foram contemplados pelo pagamento no dia 11.

Entre os que não receberam, estão vários que fazem parte da comissão que procurou a prefeitura, em nome dos demais para esclarecer sobre os motivos do não recebimento.

Não foi a primeira vez que prefeito descumpre promessa de pagamento

A promessa do prefeito Johnny Maycon era de que os profissionais que estavam na lista de inaptos receberiam o acumulado até o dia 6 de outubro.  Por volta das 20h do mesmo dia, os profissionais que fazem parte de uma comissão que está em diálogo com a prefeitura receberam mensagem pelo aplicativo Whatsapp, dando conta que “infelizmente, não foi possível processar o pagamento em tempo”.

A categoria lamentou e se indignou com a atitude do prefeito. “Mais uma vez, o prefeito deixou a gente na expectativa, até os 45 minutos do segundo tempo. Passamos a sexta-feira inteira contando com o pagamento e às 20h ele nos enviou a mensagem, da mesma maneira que fez no dia 22 (de setembro), quando os outros profissionais tiveram seus depósitos e a gente não”, relatou uma técnica de enfermagem.

A mensagem enviada pelo prefeito informava que o pagamento havia sido processado porque os servidores tiveram que fazer o filtro individualizado dos 899 profissionais que constam na lista. A mensagem ainda dizia que “além disso, a prefeitura teve alguns problemas em relação à rede do município por dois dias, o que dificultou muito para processar no sistema o arquivo da folha de pagamento que é enviado para o banco. Diante da situação, pedimos desculpas por não termos conseguido concluir o processo dentro do tempo esperado por todos nós e nos comprometemos a efetuar o pagamento no início da próxima semana, considerando o pagamento de todos os que estão registrados aptos pelo sistema relativo a setembro e o retroativo daquela listagem que vocês tiveram acesso na primeira vez que foram ao gabinete que fazia referência ainda a agosto, em que no primeiro momento estava registrado como inapto no sistema do Ministério da Saúde e posteriormente apareceu com as pendências saneadas”, informa a mensagem de texto enviada aos profissionais da enfermagem.

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