Em um intervalo de apenas um ano, o fluxo de turistas brasileiros para a Argentina sofreu uma significativa queda. Segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), o número de viajantes que desembarcaram nos aeroportos internacionais de Ezeiza e Aeroparque caiu 6,8% entre novembro de 2023 e novembro de 2024. Esse cenário é ainda mais impactante quando se considera a redução de 25,5% na média de dias de estadia, que também acompanhou o período, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas e Censos.
A diminuição nos números pode ser atribuída a diversos fatores, entre eles as mudanças nas condições econômicas de ambos os países. A desvalorização do real frente ao dólar e ao peso argentino tem encarecido os custos de viagem, afetando diretamente o público brasileiro, que tradicionalmente compõe uma das maiores fatias do turismo receptivo na Argentina. Além disso, a inflação persistente em solo argentino eleva os preços de hospedagem, alimentação e transporte, desestimulando estadias prolongadas.
Beatriz Fialho, estudante de medicina brasileira que reside em Buenos Aires, compartilha sua experiência e percepções sobre as mudanças no turismo e no custo de vida na Argentina.
Em que ano você foi morar na Argentina? De lá para cá, você percebeu um aumento no custo de vida lá?
"Fui morar na Argentina em 2022. Sim, houve um aumento, e mais exacerbado a partir de 2024 com o governo Milei."
O preço das passagens aéreas variou muito ao longo desses anos?
"Sim, houve um aumento em torno de 100% nesse período (2021-2024)."
Você notou mudanças no fluxo de turistas entre Brasil e Argentina?
"Atualmente, percebo um aumento na quantidade de turistas argentinos no Brasil e uma diminuição de turistas brasileiros na Argentina. Isso ocorre devido ao câmbio desfavorável para os brasileiros e favorável para os argentinos."
A queda no turismo brasileiro é visível para você no dia a dia?
"Para mim, a queda não é tão visível porque meu dia a dia é mais voltado para a faculdade, não circulando em áreas turísticas."
Outras opções para os brasileiros
Outro fator que contribui para a queda é a diversificação dos destinos internacionais acessíveis aos brasileiros. Com promoções em passagens aéreas para outros países sul-americanos, como Chile e Colômbia, muitos turistas têm optado por novas experiências de viagem.
Por outro lado, os brasileiros também estão se adaptando a esse novo cenário. A estratégia tem sido reduzir a estadia em grandes centros urbanos e explorar destinos menos conhecidos, mas igualmente atraentes, como Mendoza e Salta.
Além da desvalorização do real frente ao dólar e ao peso argentino, que tem sido um fator preponderante na redução do número de turistas brasileiros na Argentina, outros elementos também influenciam essa queda. A mudança no governo argentino, com a chegada de Javier Milei à presidência, trouxe consigo uma série de reformas econômicas que, embora busquem estabilizar a economia, ainda geram incertezas tanto para os argentinos quanto para os turistas estrangeiros. A expectativa de um aumento nos preços de diversos serviços e a possível liberalização do câmbio tornaram o cenário ainda mais volátil, afetando a confiança dos turistas brasileiros.
Ainda assim, a Argentina continua sendo um destino importante para os brasileiros, principalmente para aqueles que buscam uma experiência cultural rica, com sua culinária, vinhos e paisagens naturais. O turismo é uma indústria resiliente, e muitos operadores acreditam que, com o tempo, o fluxo de turistas poderá voltar a crescer, à medida que as condições econômicas no Brasil e na Argentina se estabilizem.
Ainda assim, a capacidade de adaptação dos turistas brasileiros, aliada ao potencial de recuperação do setor, dá esperança para uma retomada gradual nos próximos anos. Com medidas adequadas, o país poderá reconquistar os turistas brasileiros e manter sua posição de destaque no turismo da América do Sul.
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