As portas da Clínica Santa Lúcia não serão mais abertas para pacientes psiquiátricos. A prefeitura encerrou as atividades da unidade de saúde, no distrito de Mury, na terça-feira, 31 de outubro, depois de promover a intervenção em maio de 2021 e assumir a administração em abril do ano seguinte. Dos 118 internos na clínica, quando houve a intervenção, 51 eram de Nova Friburgo e 67 de outras cidades da região. Do total de pacientes friburguenses, 29 foram para as residências terapêuticas e 22 voltaram para suas casas.
De acordo com a prefeitura, o município têm hoje quatro residências terapêuticas (RTs), uma inaugurada em dezembro de 2022, no bairro Olaria, outras três inauguradas na última segunda-feira, 30, duas delas na Chácara do Paraíso e a outra no bairro Lagoinha. De acordo com publicação nas redes sociais do prefeito Johnny Maycon, as três últimas RTs foram adquiridas com recursos provenientes de um processo movido pelo Ministério Público do Trabalho (MPT).
Em nota, a prefeitura informou que “as residências terapêuticas são espaços que acolhem pessoas que estavam institucionalizadas ou pacientes que necessitam esse tipo de assistência. Essas são casas localizadas em espaços urbanos, que visam a reintegração em sociedade, e possuem atendimento médico e acompanhamento 24 horas de profissionais de saúde, como enfermeiro, técnicos de enfermagem e acompanhantes terapêuticos.”
Ainda de acordo com a prefeitura, os imóveis têm salas de estar, cozinhas, quartos, banheiro, espaço de lazer e jardim. Neste ambiente todos os pacientes convivem em espaços mútuos, como uma casa, realmente. A nota da prefeitura informa também que “os pacientes ainda recebem uma verba do Governo Federal que possibilita o custeio de bens individuais que são necessários e indispensáveis no dia a dia, como itens de higiene pessoal, por exemplo.”
A prefeitura informou também que os pacientes que foram para suas casas, estão recebendo acompanhamento psicológico e tratamento nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), em Nova Friburgo ou em suas cidades de origem.
Questionada se algum paciente desinstitucionalizado foi encaminhado para a enfermaria psiquiátrica do Hospital Municipal Raul Sertã, a prefeitura informou que os leitos disponíveis são de urgência, disponíveis para pacientes ou não oriundos do Santa Lúcia, que entram em surto psicótico, e que nenhum deles foi diretamente para lá.
Estado traçou perfil dos internos em junho de 2021
Realizado entre 15 de junho e 1º de julho de 2021, o Censo Psicossocial da Clínica de Repouso Santa Lúcia, elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) e apresentado pelo Ministério Público Estadual, traçou um perfil inédito de 110 internos e indicou o planejamento inicial para desinstitucionalizá-los, como pretendia a Prefeitura de Nova Friburgo.
Entre as conclusões e o planejamento da Coordenação de Atenção Psicossocial da SES, a orientação sugerida pela equipe que elaborou o censo é encaminhar pelo menos 52 dos 110 internos a uma RT; dar alta e acompanhamento na Atenção Básica a 31; e encaminhar seis de volta para casa, em seus municípios de origem, com cuidados intensivos.
Na ocasião, o perfil médio dos pacientes internados na Clínica Santa Lúcia era homens brancos, solteiros, entre 39 e 48 anos, com alguma renda e primeiro grau incompleto. Os homens eram maioria (75%), contra 25% de mulheres. Do total de internos, 43,39% tinham alguma renda, contra 34,31% que não possuíam qualquer rendimento. Sobre os demais 33,30% não havi a informações. .
O censo revelou ainda que a Clínica Santa Lúcia, diferentemente do que muitos pensam, não era um lugar de idosos. A maior parte dos internos (35 deles) tinham entre 39 e 48 anos; 26 tinham entre 49 e 58 anos, 22 entre 59 e 68 anos. Somente sete tinham mais de 68 anos e outros sete tinham entre 18 e 28. Treze tinham de 29 a 38 anos.
A grande maioria (58), ou quase 60%, não tinham onde morar fora da clínica. Outros 33 disseram ter onde ficar. E apenas cinco disseram ter moradia regular fora da Santa Lúcia. Entre os entrevistados não havia ninguém albergado em abrigo público nem em situação de rua.
O estudo revelou também que a esmagadora maioria (73) era de solteiros, contra apenas 16 separados, sete casados e três viúvos. As redes de apoio com que contavam eram sobretudo de familiares (66). Quatro disseram que contavam com um amigo. Mas 22 disseram não ter ninguém com quem contar.
Sobre visitação, 22 não recebiam ninguém e 65 eram visitados por familiares. Quanto à situação jurídica, a maioria dos internos (52) era de curatelados, enquanto 31 respondiam pelos próprios atos. A maior parte (56) foi internada sem ordem judicial, mas 35 estavam lá por decisão de um juiz.
A maioria (62) não saía da clínica, enquanto 24 saiam somente acompanhados. Apenas dois tinham autorização para saírem sozinhos.
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