Aumenta o número de internações e mortes de infectados abaixo de 60 anos

Até a última quinta-feira, 28 pessoas entre 0 e 59 anos morreram vítimas do coronavírus em Nova Friburgo, o que corresponde a cerca de 25% de todas as mortes nessa faixa etária, desde o início da pandemia
sábado, 17 de abril de 2021
por Christiane Coelho (Especial para a A VOZ DA SERRA)
(Fotos: Pexels)
(Fotos: Pexels)

Treze meses depois dos primeiros registros de casos de Covid-19 no Brasil, Nova Friburgo chegou ao pior momento da pandemia. Além de números recordes de infectados e de internações, com a ocupação dos leitos destinados aos doentes passando sempre de 90%, com recorde também de mortes, a nova onda da Covid-19 está atingindo com mais frequência e gravidade uma faixa etária até então menos afetada: as pessoas com até 60 anos. Só na primeira quinzena deste mês, 40% das mortes causadas pela Covid-19 foram de pessoas entre 0 e 59 anos, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Esse cenário vem se repetindo em todo o país, não só em Nova Friburgo. 

Para a infectologista Danyelle Cristina de Souza, esse índice maior de infecções em jovens e adultos em detrimento dos idosos pode ser atribuído à vacinação. Vários estudos mostram que as pessoas vacinadas com as duas doses, passando o intervalo de resposta imunológica, se forem infectados, tendem a manifestar  formas mais leves e moderadas da doença. Como as vacinas tem em seu grupo prioritário pessoas acima de 60 anos, essa pode ser uma questão considerada. “ Todas as pesquisas mostraram que as pessoas vacinadas tendem a ter menor taxa de mortalidade, uma melhor morbidade e menos internações”, esclarece ela.

Dos 28 mortos por Covid-19 entre 0 e 59 anos em Nova Friburgo, a maioria tinha entre 50 e 59 anos: 18 pessoas. Entre 40 e 49, foram nove e entre 30 e 39 anos, um morto. Nesse período não foi registrada morte de pessoas com menos de 30 anos em Nova Friburgo. De acordo com a Secretaria estadual de Saúde, desde o início da pandemia, não houve nenhuma morte por Covid-19 entre crianças e jovens entre 0 e 19 anos em Nova Friburgo. 

“Vários estudos feitos durante o ano passado demonstram que a manifestação da Covid-19 na criança é diferente do adulto. Internações com formas graves da Covid-19 e mortes são raras e acometem mais as crianças que tem fator de risco e comorbidades. No meio do ano, começou a haver casos de Síndrome de Doença Inflamatória Multissistêmica, que acontece no pós Covid-19. É um quadro imunológico, desencadeado pela Covid-19, mas que já acontecia antes por exposição a outros vírus, que sempre existiu, como por exemplo, o citomegalovirus”, explica Danyelle.

Desde o início da pandemia até o último dia 15, segundo dados da Secretaria estadual de Saúde, Nova Friburgo registrou 924 pessoas entre 0 e 19 anos com Covid-19, o que corresponde a 6,6% dos infectados no município. Desses 68 tinham menos de um ano, 86 entre 1 e 4 anos, 124 entre 5 e 9 anos e 646 com idade entre 10 e 19 anos. 

“Em Nova Friburgo não houve nenhum caso de criança que precisasse de internação e tenha chegado a morte. As crianças infectadas durante 2020, tiveram poucos sintomas, as enfermarias infantis ficaram fechadas, com poucas manifestações de gravidade. Com o surgimento das novas variantes, elas tendem a ficar mais sintomáticas, com febre, coriza, sintoma gripal..  Mas, não com formas graves, como acontece com o adulto. As crianças ainda não estão circulando nas ruas, estão fora das escolas, onde é um ambiente seguro para elas, e acabam sendo expostas aos próprios pais, que estão trabalhando e levam o vírus para dentro de casa”, explica a infectologista.

 

Ainda não há confirmação de novas variantes em Friburgo

De acordo com a Secretária Municipal de Saúde, ainda não há notificação de novas variantes da Covid – 19, em Nova Fribiurgo, como a P1, da Amazônia e a B11.17, do Reino Unido. Ambas com maior poder de transmissibilidade e de agravamento mais rápido. De acordo com os dados da Semana Epidemiológica 13 (de 28 de março a 3 de abril de 2021) do Ministério da Saúde, no Estado do Rio de Janeiro, foram registrados 161 casos das novas variantes, sendo 154 da P1 e sete da B11.17. 

“Embora a gente ainda não tenha esse dado oficial, acredito que já possa ter introduzido a variante em Nova Friburgo. Acredito que seja atribuído também as essas novas variantes. Depois do primeiro surto em Manaus, quando foi descoberta a P1, foram descobertas várias variantes, em vários estados brasileiros. Há pouco tempo teve confirmação, na Região Serrana, em Teresópolis e Petrópolis da presença da P1. Em todas as comunidades em que os casos estavam estáveis e houve um disparo em internações e óbitos, a maioria foi provocada pelas novas variantes”, acredita a infectologista.

A avaliação para saber se o doente está infectado por uma nova variante não é feita em todos os exames positivos para Covid-19. Uma nota técnica do Governo do Estado determina como o rastreio deve ser feito. Só são enviados materiais de pacientes que estiveram presentes em estados ou municípios onde as novas variantes estão presentes ou daqueles que tiveram contatos com doentes infectados por elas. 

O laboratório da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) é um dos três brasileiros definidos pelo Ministério da Saúde a fazer o monitoramento das novas cepas. São enviadas para lá as amostras coletadas pelo exame Swab com esses critérios, que devem ter carga viral alta, para que se possa isolar o vírus e fazer o sequenciamento genético de forma eficaz.  

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, várias amostras de casos suspeitos dessas novas variantes em Nova Friburgo já foram para análise, mas ainda não saíram os resultados. “O comportamento das novas variantes é um pouco diferente em relação ao vírus que estava circulando ano passado, quando houve o início da pandemia. Essas novas variantes tem uma capacidade maior de burlar o sistema imune. Então ele acaba podendo ser mais agressivo, e mostrando formas mais graves em jovens e, principalmente, jovens obesos. A obesidade, com índice de massa corpórea (IMC) acima de 40, tem sido um fator importante nos óbitos”, esclarece Danyelle.

Ela ainda explica que as pessoas com menos de 60 anos, que apresentam comorbidades, como cardiopatia, pneumopatia, pessoas com doenças hematológicas, que estão em processo de quimioterapia, por doenças oncológicas, tendem a ter as formas mais graves. “Nos pacientes que não têm fatores de risco, a obesidade tem sido um fator observado na evolução de formas mais graves”, explica a infectologista.

“Contra a Covid-19, o atendimento imediato salva vidas”            

O Ministério da Saúde lançou uma campanha na última segunda-feira, 12, alertando sobre a importância de procurar assistência médica nos primeiros sintomas da Covid-19. Com as novas variantes, o agravamento da doença pode acontecer mais rápido. “Antes, havia um marco, em que a partir do sétimo dia de doença , quando termina a fase viral e entra na fase imune, havia maior risco de agravar. Hoje, o agravamento é mais precoce. Às vezes paciente no quarto, quinto dia, já começa a evoluir mal. Tem que ter observação e acompanhamento desde o início” observa a Danyelle.

Com o slogan “Contra a Covid-19, o atendimento imediato salva vidas”, a campanha do Ministério da Saúde veiculada nas principais redes de TVs, alerta os brasileiros sobre a importância de procurar ajuda médica, assim que surgirem os primeiros sintomas, atitude que pode fazer a diferença em um cenário de aumento de casos e internações em todo o Brasil.  

“A recomendação é não esperar a infecção se agravar para procurar ajuda médica. O avanço da pandemia tem mostrado que o agravamento da doença tem impactos significativos na saúde pública e até mesmo no crescimento de óbitos”, pontua o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.

Alguns dos primeiros sintomas da Covid-19 são tosse, febre, dor de garganta ou coriza e perda do olfato ou do paladar – ao primeiro sinal, a recomendação é buscar um posto de saúde. A campanha do Ministério da Saúde explica que o atendimento imediato possibilita que o médico adote a melhor conduta, faça o acompanhamento do paciente e oriente sobre o controle da transmissão do coronavírus para outras pessoas. O diagnóstico rápido aumenta as chances de cura e reduz a necessidade de internação e tratamentos intensivos.

Importância da detecção rápida e isolamento imediato dos doentes

A base de controle de epidemia de doenças infecciosas parte da identificação do caso, isolamento e, quando possível, imunização. Nesse momento da epidemia não só em Nova Friburgo, mas em todo o Brasil, não há vacinas suficientes para fazer uma vacinação ampla, em massa para ter uma taxa de imunização efetiva. Com esse cenário, o ideal é fazer o básico, que é a identificação precoce e o isolamento do caso. 

Hoje, há na cidade o Centro de Triagem, na Via Expressa, no bairro Olaria, e os hospitais particulares que fazem a detecção da Covid-19 nos atendimentos de urgência e emergência. Para a infectologista, essa realidade não é a ideal para a busca ativa e isolamento precoce. O exame de RTPCR não é feito em Nova Friburgo. Ele é coletado e vai para o Lacen, no Rio de Janeiro, e leva, em média, quatro dias para ser expedido o resultado. “O melhor teste é o que tem o resultado mais rápido, feito através da pesquisa de antígeno. A técnica é diferente e o resultado sai em uma, duas horas”, explica Danyellle, acrescentando que “é necessária uma política pública de ampliação de testagem com resultados rápidos. Assim é possível isolar o doente imediatamente.”

Epidemiologicamente, se sabe qual bairro da cidade está tendo mais caso. De acordo com a infectologista, o ideal é colocar uma equipe trabalhando nesse local, fazendo busca ativa e isolamento precoce. Além disso, é importante ter uma equipe que possa fazer um acompanhamento ambulatorial ou o acompanhamento por teleconsulta, ajudando a monitorar os pacientes positivos da cidade de forma que possa intervir mais precocemente, diminuindo a procura nos pronto socorros, geralmente, com quadros mais avançados, quando é preciso a internação em terapia de semi intensiva ou terapia de UTI. 

“O investimento em recursos que priorizam a busca ativa e detectam esses casos mais precoces é muito mais barato e muito mais efetivo que investir em UTI, com gastos em recursos de alta complexidade, que envolve, além do médicos e enfermeiros capacitados, equipamentos caros e outros especialistas como fisioterapeutas e nutricionistas. Além disso, há todo o custo de internação do paciente, com medicamentos caros e o tempo maior”, esclarece ela.

Prevenção ainda é o melhor remédio

A prevenção através da adoção dos protocolos para não ser infectado pela Covid-19 ainda é o método mais eficaz, antes da vacinação em massa. Entre eles, está o uso adequado das máscaras de proteção. “A máscara deve cobrir o nariz, o queixo, a boca, sem folgas nas laterais”, explica Danyelle. Também é fundamental manter a mão sempre higienizada, lavando com água e sabão ou usando o álcool em gel. 

Os ambientes devem estar bem ventilados, com janelas e portas abertas para a circulação do ar. Outro protocolo é o distanciamento social, com 1,5 metro entre as pessoas. “As pessoas precisam se conscientizar que não pode haver aglomeração, que a disseminação do vírus é oral e que quanto mais pessoas se juntam e houver uma contaminada, todos podem se contaminar”, finaliza a infectologista.

 

Jovens aglomeram em festas clandestinas em todo o Brasil

Em pleno agravamento da pandemia, quando o isolamento social tornar-se ainda mais indispensável, as festas clandestinas, com aglomerações ploriferam por todo o Brasil, e, com elas o coronavirus. Alguns perfis no Instagram foram criados para denunciar esses eventos. Um deles é o Brasil Fede Covid, que tem mais de 400 mil seguidores, onde vídeos e fotos de várias festas são mostrados, com jovens se divertindo, bebendo, sem máscaras e sem o distanciamento social.

Em Nova Friburgo, as redes sociais também  denunciam festas clandestinas. No último fim de semana, por exemplo, foi postado vídeos e fotos de uma festa, com carros de som, no platô do Bairro Suíço. No município do Rio de Janeiro, somente no último fim de semana, a prefeitura interrompeu quatro eventos irregulares no centro da capital e também nos bairros Botafogo, Recreio dos Bandeirantes e Bento Ribeiro. Todos com cerca de 70 pessoas aglomeradas. Da sexta-feira, 9, ao último domingo, 11, a Prefeitura do Rio registrou 2.596 autuações, com 105 multas aplicadas a bares, restaurantes e ambulantes e 65 estabelecimentos fechados.

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