A saúde começa pela boca. E não se trata apenas de ter uma alimentação saudável, mas de cuidado e atenção especiais com esse órgão que faz parte do sistema digestivo e do sistema respiratório. Nesta segunda-feira, 25, é celebrado o Dia Nacional da Saúde Bucal e do Dentista, data comemorativa, que tem o objetivo de chamar atenção para a importância da saúde bucal.
Nova Friburgo passou a ser referência em Odontologia no interior fluminense, desde a fundação da Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo (Fonf), em 1971. Com a criação do curso na cidade, a saúde bucal passou a ter uma nova perspectiva e atenção. Muitos friburguenses se formaram na Fonf e passaram a trabalhar aqui. Em 2007, a Fonf passou a ser gerida pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
Volta dos atendimentos na universidade
Apesar de, segundo o Conselho Federal de Odontologia, 85% dos profissionais da área continuarem o atendimento durante a pandemia, há uma demanda reprimida no período, pois houve interrupções de tratamentos, devido ao medo dos pacientes de contraírem o coronavírus. Mas, com o avanço da vacinação e com os dentistas seguindo todas as recomendações dos protocolos de segurança, está na hora de voltar aos tratamentos e às consultas periódicas.
O campus de Nova Friburgo da UFF iniciou o segundo semestre na última quinta-feira, 21. E, a partir do dia 3 de novembro começará a oferecer o ensino na modalidade híbrida. Entre as atividades dos alunos, está a clínica, que voltará ao atendimento dos pacientes. De acordo com coordenadora da Odontologia da UFF, Maria Carolina Monteiro Barki (foto acima), o retorno será feito de forma gradual. “Inicialmente, teremos em torno de 70 atendimentos por dia, já que a ocupação do espaço está sendo em torno de 30%. No entanto, não são todos os dias que teremos atendimento, já que há dias em que os alunos terão apenas aulas teóricas e laboratoriais. Começaremos com atendimento uma vez por semana, que poderá ser expandido gradualmente”, explicou ela.
O atendimento na Clínica de Odontologia da UFF é gratuito e feito pelos alunos, com a supervisão dos professores. “O paciente que se habilita a tratar na UFF tem que estar ciente de que são alunos, mas muito bem acompanhados e supervisionados. E quando o aluno tem limitações, o professor conduz o tratamento”, esclareceu a vice coordenadora da Odontologia da UFF Friburgo, Renata Ferraiolo (foto abaixo).
Na clínica, são oferecidos tratamentos básicos, como raspagem, limpeza e restaurações diretas. “Temos também as restaurações metálicas, os chamados blocos. Fazemos alguns tipos de tratamento de canal, próteses removíveis em estrutura de resina, que são as dentaduras e alguns tratamentos estéticos, com resina em dentes da frente”, enumerou a vice coordenadora de odontologia da UFF.
Hoje, a clínica da universidade tem um banco de dados com os pacientes que haviam começado os tratamentos antes do início da pandemia. “Agora com o retorno híbrido, começamos a fazer contato com essa lista de pacientes, porém muitos se perderam, trocaram de telefone ou trataram em outro lugar”, explicou Renata. Para quem tem interesse em fazer o tratamento na UFF, a inscrição é feita na guarita da Universidade,na Rua Sylvio Henrique Braune, no Suspiro.
Atendimento dentário nos postos
Além da UFF, há também o atendimento dentário nas unidades básicas de Saúde (UBS) e nas Estratégias de Saúde da Família (ESFs), que atendem a população. “São oferecidos serviços de profilaxia, ou seja, ações preventivas e de conscientização em saúde bucal, restaurações, cirurgia oral, periodontia (tratamento de gengiva) e odontopediatria. Temos também serviço de prótese total removível no consultório que funciona na prefeitura e o de patologia e estomatologia oral, que funciona às quintas-feiras pela manhã no Centro de Saúde Sylvio Henrique Braune, no Suspiro”, explica a coordenadora do Programa de Saúde Bucal da Secretaria Municipal de Saúde, Luciane Boechat, acrescentando que “a saúde bucal de Nova Friburgo conta com mais de 50 profissionais.”
Ainda de acordo com a prefeitura, tanto a UPA de Conselheiro Paulino, como as unidades de atenção primária, estão capacitadas para prestar atendimentos de emergência clínica odontológica. Já o Hospital Municipal Raul Sertã realiza procedimentos de emergência hospitalar bucomaxilofacial e odontológica.
Além do tratamento, de acordo com Luciane, algumas ações de prevenção e conscientização sobre higiene bucal vem ocorrendo no Centro de Saúde Sylvio Henrique Braune e já está sendo planejada também a ampliação dessas ações para mais unidades de saúde, bem como nas escolas, através do PSE (Programa Saúde nas Escolas). “A Saúde Bucal poderá agora, com o abrandamento da pandemia, estabelecer cada vez mais ações eficientes e amplas para prestar um atendimento digno a toda população friburguense”, disse ela.
Saúde bucal além dos dentes
A saúde bucal, ao contrário do que muitos imaginam, não se restringe aos cuidados somente com os dentes. “A cavidade bucal tem também as estruturas que são os tecidos moles, a língua, o céu da boca, a entrada da garganta, a parte embaixo da língua, a parte de dentro da bochecha, o lábio, tanto por dentro, quanto por fora, além da estrutura óssea maxilar e mandibular. E todas essas estruturas também podem ser acometidas por alterações patológicas. É nesse campo que atua a estomatologia”, explica Rebeca de Souza Azevedo (foto abaixo), professora das áreas de Patologia Oral e Estomatologia da UFF.
De acordo com a professora, além de lesões mais comuns, como as aftas e candidíase, conhecida popularmente como sapinho, existem as lesões potencialmente malignas, que são alterações com chance maior de se transformarem em um câncer da boca. Segundo ela, em Nova Friburgo, tem uma lesão muito comum, a queilite actínica, que atinge o lábio inferior, causando perda de definição, endurecimento e manchas vermelhas.
“Mais claro ainda é o grupo de paciente que ele acomete, por isso é muito comum acontecer aqui: em sua maioria, pacientes de cor de pele clara, olhos claros, com exposição à radiação solar, que vão incidir no lábio”, explicou ela, acrescentando que “Muitas pessoas já têm consciência da importância do uso diário do protetor solar facial, mas se esquecem do protetor solar labial.”
Dentro da boca, segundo a professora, a lesão cancerígena é diferente. “Ele pode começar com a mancha branca, uma manchinha vermelha, mas mais comumente, aparece como ferida aberta. Ele vai acontecer principalmente na língua, no assoalho da boca. Mas também pode acontecer no céu da boca, na gengiva, na campainha. E o principal fator de risco é o uso crônico do tabaco, que se potencializa com o uso do álcool”, esclareceu ela.
Esse tipo de patologia, segundo Rebeca, acontece mais frequentemente em pacientes mais velhos e do sexo masculino. “Geralmente, são homens que fumam há 20, 30 anos e bebem diariamente. Mas tem tido um acréscimo de mulheres, que também têm o mesmo hábito. Porém, tem surgido um novo grupo, o de pacientes jovens até 30 anos. Estudando esses casos, o que tem se identificado é a infecção pelo papilonavirus, o HPV”, informou ela.
O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento, nesses casos. “Infelizmente a gente tem o diagnóstico muito tardio dessas lesões, as pessoas negligenciam muito o cuidado com a boca. As pessoas se constrangem, tem vergonha de mostrar. E, muitas vezes, chegam lesões muito extensas. Importante lembrar que a ferida do câncer não é aquela que aconteceu ontem, ela é de longa duração, pelo menos duas semanas sem cicatrizar”, salientou ela.
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