Exploração infantil nas redes sociais acende alerta

Leis específicas são fundamentais para impedir a exploração infantil e garantir um ambiente digital seguro
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
por Laís Lima
(Foto: Freepik)
(Foto: Freepik)

O uso das redes sociais por crianças e adolescentes e a circulação de conteúdos que exploram a imagem de menores de idade ganharam destaque no debate público nas últimas semanas. 

A discussão se intensificou após denúncias do influenciador digital Felipe Bressanim, conhecido como Felca, que expôs perfis com milhões de seguidores compartilhando vídeos de crianças e adolescentes em situações de sexualização, como coreografias sensuais e conversas sobre temas sexuais em programas online.

Segundo Felca, os próprios algoritmos das plataformas estimulam a disseminação desses conteúdos, ampliando o alcance e, consequentemente, o risco de exploração de abusos digitais.

Risco crescente

Pesquisadores e profissionais de tecnologia afirmam que o modelo de negócios das plataformas, focado no lucro e na maximização do tempo de tela, incentiva a exposição da vida pessoal sem assumir responsabilidades pelos danos causados. Para eles, leis específicas são fundamentais para impedir a exploração infantil e garantir um ambiente digital seguro.

(Foto: Thatiana Erthal / Arquivo Pessoal)

A psicóloga Thatiana Erthal explica que o fenômeno da “adultização” é um processo de antecipar papéis e responsabilidades para os quais crianças e adolescentes ainda não estão preparados. “Essa inserção precoce retira a possibilidade de vivenciar plenamente as descobertas da infância e adolescência, fases curtas e essenciais para a formação de identidade e caráter. É nesse período que a janela do desenvolvimento está aberta para experiências que moldarão a forma como o indivíduo vê o mundo”, afirma.

Para a especialista, a recente polêmica envolvendo influenciadores apenas expôs uma realidade já conhecida: a naturalização da vivência sexual precoce e a exposição infantil a conteúdos adultos. “Isso cria formas disfuncionais de compreender e experienciar a sexualidade, banaliza condutas e compromete a saúde emocional. Esses conteúdos só existem porque há incentivo financeiro e consumo ativo”, reforça.

Entre os impactos dessa exposição precoce, a psicóloga cita distorções na percepção sobre sexo e relacionamentos, dificuldade em estabelecer vínculos afetivos saudáveis, aumento da vulnerabilidade à ansiedade e depressão, além do encurtamento da vivência infantil. 

“Também se abre uma perigosa porta de entrada para adultos mal-intencionados que se aproveitam de momentos de vulnerabilidade para abusar ou explorar crianças e adolescentes”, alerta.

O papel da família

A especialista ressalta que a responsabilidade pela proteção começa dentro de casa. “Ser pai e mãe sempre foi uma tarefa desafiadora, mas, no mundo conectado, essa missão ficou mais complexa. Muitas famílias acreditam que os filhos estão seguros em seus quartos, quando, na realidade, nunca estiveram tão expostos”, avaliou.

Segundo Thatiana, é essencial que os pais reflitam sobre a real necessidade de inserir crianças tão cedo no universo digital. “Às vezes, usamos a tecnologia para preencher lacunas emocionais nossas, sem perceber os riscos que isso traz. É comum ver bebês em restaurantes manuseando celulares e famílias inteiras almoçando em silêncio, cada um imerso em sua própria tela, apenas interrompendo para tirar uma foto para as redes sociais”.

A psicóloga defende o diálogo como principal ferramenta de prevenção. “Conversar com os filhos, não para dar sermões, mas para ouvir o que pensam e sentem. É preciso se aproximar com humildade para conhecer de verdade quem está em formação. Podemos nos surpreender positivamente”.

Outro ponto que ela destaca é o equilíbrio. “Não se trata de isolar a criança do mundo virtual, mas de criar regras e limites claros, acompanhar o que ela consome e posta, e cultivar um olhar crítico sobre o conteúdo. Limites familiares ajudam não só a proteger os filhos, mas também a reconectar todos com o que realmente importa”, completou.

Proposta de regulamentação

Diante da repercussão do caso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao Congresso Nacional, na última quarta-feira,13, um projeto de regulamentação das redes sociais. A proposta busca criar dispositivos legais que responsabilizem as plataformas pelo conteúdo divulgado e pelos riscos aos usuários, especialmente no caso de menores de idade.

A medida deve prever mecanismos para remover rapidamente conteúdos prejudiciais, identificar perfis que promovam exploração e exigir maior transparência no funcionamento dos algoritmos. “O objetivo é reduzir a exposição de crianças e adolescentes a situações de vulnerabilidade e garantir que as empresas de tecnologia não se eximam de suas responsabilidades”, informou o governo.

Pesquisadores avaliam que, se aprovada, a legislação poderá representar um avanço no combate a abusos online, embora seja necessário equilibrar liberdade de expressão, entretenimento e proteção da infância.

Desafio coletivo

O caso exposto por Felca reacende a urgência de ações conjuntas entre governo, sociedade civil, famílias e as próprias plataformas para criar um ambiente digital mais seguro. “A responsabilidade não é apenas das redes sociais ou dos pais. É um trabalho coletivo, que exige vigilância constante e, acima de tudo, consciência de que cada clique pode impactar diretamente a vida de uma criança”, concluiu a psicóloga.

 

* Reportagem da estagiária Laís Lima com supervisão de Ana Borges

 

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