A história do Brasil é marcada por uma intensa diversidade cultural, resultado da interação entre povos indígenas, europeus e africanos ao longo de séculos. Dentre esses grupos, os africanos e seus descendentes desempenharam um papel central na construção da identidade nacional, seja no âmbito social, cultural, econômico ou político.
(Foto: Carla Ornelas Governo-da-Bahia)
A cultura afro-brasileira, apesar de historicamente marginalizada, é uma das principais fundações que sustentam a brasilidade como a conhecemos hoje.
Após a abolição da escravidão em 1888, a população negra no Brasil foi deixada à margem da sociedade, sem acesso a políticas de inclusão que pudessem reparar os danos de séculos de escravidão. Sem terras, educação ou oportunidades de trabalho dignas, muitos ex-escravizados e seus descendentes foram relegados a condições de extrema pobreza e exclusão social.
Além disso, a ausência de iniciativas governamentais para integrar os negros ao mercado de trabalho formal e à vida cidadã contribuiu para a perpetuação das desigualdades raciais. Essa lacuna histórica gerou um ciclo de marginalização que se reflete ainda hoje nos baixos índices de representatividade da população negra em espaços de poder, educação e economia.
Pela primeira vez desde 1872, a maioria da população brasileira se reconheceu como preta ou parda, segundo os dados do Censo 2022 divulgados pelo IBGE. O levantamento revelou que 55,5% dos brasileiros se identificam nessas categorias, sendo 45,3% pardos e 10,2% pretos. A proporção de pessoas que se consideram pretas mais que dobrou desde 1991, evidenciando uma transformação significativa na autoidentificação racial no país.
Esses dados refletem não apenas mudanças demográficas, mas também fenômenos sociais. A autodeclaração de cor ou raça está relacionada à percepção pessoal e ao contexto socioeconômico e inter-racial em que as pessoas vivem. Essa tendência sugere um aumento do orgulho e da aceitação da identidade afrodescendente no Brasil.
O aumento do orgulho e da aceitação da identidade negra é um reflexo do crescente engajamento de movimentos negros, como o Movimento Negro Unificado e o Movimento Negro Empoderado, que se preocupam em resgatar o legado cultural dos afro-brasileiros, buscam igualdade de condições para brancos e negros, combatem o racismo e lutam pelo respeito e valorização à cultura e à herança histórica.
A chegada de africanos ao Brasil, durante o período colonial, ocorreu sob o sistema escravagista que durou mais de 300 anos. Milhões de homens e mulheres foram trazidos de diferentes regiões da África, como Angola, Congo, Moçambique e Costa da Mina. Embora tivessem línguas, religiões e costumes distintos, essas populações encontraram formas de preservar e reconfigurar suas tradições em solo brasileiro.
A resistência cultural dos afrodescendentes é um dos aspectos mais marcantes desse legado. A preservação de práticas religiosas, como o candomblé e a umbanda, demonstra a capacidade desses povos de manter viva sua espiritualidade, mesmo sob condições adversas. Esses cultos, que misturam elementos africanos, indígenas e cristãos, são símbolos de resiliência e representam uma das faces mais autênticas da cultura nacional.
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