Prejuízo de mais de R$ 2 bi com descarte de resíduos que poderiam ser reciclados

Nova Friburgo recicla apenas 0,11% dos resíduos coletados, percentual bem abaixo ao do estado que dá destinação correta a 1,3%
sexta-feira, 20 de outubro de 2023
por Christiane Coelho (Especial para A VOZ DA SERRA)
(Foto: Vinicius Magalhães)
(Foto: Vinicius Magalhães)

Em 2021, mais de dois milhões de toneladas de resíduos sólidos pós-consumo, com potencial de reciclagem, foram enviados para aterros no Estado do Rio de Janeiro. Esse volume representa mais de R$ 2 bilhões em recursos, literalmente enterrados, ou seja, que foram parar no lixo. A separação de resíduos sólidos urbanos, representada pelo percentual de coleta seletiva, permanece tímida em todo o território fluminense: 1,3% do total. 

Os números fazem parte do Mapeamento de Recicláveis Pós-Consumo no Estado do Rio de Janeiro 2023, elaborado pela Federação das Indústrias do Estado (Firjan) e que está em sua segunda edição com recorte estadual.

E os dados do estudo demonstram que a coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos em Nova Friburgo é incipiente. O município recicla apenas 0,11% dos resíduos coletados. Em 2021, foram recolhidos mais de 78 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos e apenas 90 toneladas foram resíduos recicláveis coletados seletivamente, o que corresponde a apenas 0,11% do total.   

“O mapeamento identifica os pontos de geração e destinação desses resíduos e indica oportunidades de fortalecimento de toda a cadeia da indústria da reciclagem no estado”, explica Isaac Plachta, presidente do Conselho Empresarial de Meio Ambiente da Firjan.

Sem cooperativas, sem reciclagem

O mapeamento feito pela Firjan também identificou a ausência de cooperativas atuando no setor não só em Nova Friburgo, mas também na região Centro-Norte. Isso deve-se à informalidade dos trabalhadores da área, de acordo com o estudo. O que se identificou no mapeamento foi a atuação de sete empresas formais, operadores que recebem e destinam resíduos sólidos não-perigosos, no município. Duas empresas atuam na prestação de serviços de gerenciamento de resíduos, duas indústrias recebem resíduos de outras empresas e internalizam como matéria-prima na produção e três empresas são atacadistas de materiais recicláveis. 

Essas são empresas que, em 2019, receberam resíduos não perigosos de maneira formal, ou seja, registrando adequadamente no sistema de controle de resíduos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea).

De acordo com a presidente da representação regional da Firjan no Centro-Norte fluminense, Márcia Carestiato, as empresas são as responsáveis pelo maior volume de coleta seletiva da região . "No mapa de atores formais da reciclagem da nossa região não visualizamos cooperativas de reciclagem. Por outro lado, nossa região tem o melhor resultado de separação de recicláveis pós-consumo nas empresas: 44,6% do volume gerado saem separados por tipo das empresas, um número bem acima da média estadual. Isso demonstra o engajamento das empresas do Centro-Norte com relação ao tema. Temos potencial para transformar lixo em recursos e existe campo para melhor aproveitamento desse material. Acreditamos que a solução está no fortalecimento e desburocratização do encadeamento produtivo da reciclagem”, disse ela.

O estudo mostra um avanço na separação dos resíduos pós-consumo gerados por empresas, que saltou para 35,8% do fluxo, abaixo do registrado somente na região Centro-Norte, mas um percentual mais expressivo do que os 20,9% encontrados em 2019, indicando um avanço na recuperação de resíduos pós-consumo no estado.

“Não houve mudança representativa do regramento de gerenciamento de resíduos desde 2019 que tenha determinado uma maior segregação dos resíduos nas empresas. O avanço observado foi provavelmente induzido pelo mercado e pelas práticas ESG. A gestão de resíduos é o critério ambiental de ESG mais aplicado pelas empresas em suas operações”, afirma Jorge Peron Mendes, gerente de Sustentabilidade da Firjan.

Potência de geração de renda e emprego desperdiçada

Desde a triagem até a sua efetiva incorporação em novos produtos acabados, os resíduos têm potencial de gerar emprego, renda e arrecadação de impostos. A recuperação de mais de dois milhões de toneladas de resíduos sólidos não aproveitados seria capaz de encadear nas indústrias de fabricação de papel e papelão, de plástico e na metalurgia um investimento produtivo adicional na economia do país em torno de R$ 4,74 bilhões, além do investimento inicial de R$ 2 bilhões. Além disso, outro impacto estimado é a geração de R$ 9,17 bilhões em renda e 31,9 mil novos empregos, sendo 13,8 mil diretos e 18,1 mil indiretos.

“O mapeamento aponta que o fortalecimento do Rio de Janeiro como estado reciclador depende de políticas públicas que acolham a ressignificação dos resíduos, estratégia já incorporada no Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), no conceito de economia circular e no reconhecimento da valorização de resíduos como um mercado. Seria preciso, entre outras medidas, fortalecer o setor, desde a cooperativa de catadores até a indústria recicladora”, ressalta Carolina Zoccoli, especialista em Sustentabilidade da Firjan.

 Na falta de políticas públicas, empreendimento faz papel do município

O Espaço Arp mantém parcerias com diversas empresas friburguenses voltadas à sustentabilidade, reaproveitamento e redução de resíduos. “O ápice dessas iniciativas foi o lançamento do projeto Arp Garten, que é uma área do complexo destinada à convivência, cuidado, lazer, diversão e aprendizado, para todas as idades. Fica localizado em uma área verde contribuindo para a promoção de ações sustentáveis, seja em prol do meio ambiente, da história e cultura locais e do empreendedorismo,” destaca Letícia Pimentel, executiva de Cultura e Sustentabilidade do empreendimento. 

O Espaço Arp em si é um exemplo de reuso, já que antes era uma fábrica de rendas e com a restauração e conservação de prédios e acervos históricos, o apoio à cultura regional e o desenvolvimento de atividades culturais e de lazer, contribui para a sustentabilidade. “Na prática, são feitas aulas ambientais de forma divertida, focadas no público infantil e família”, explica Letícia.

Resíduos que podem ser depositados em totens e coletores 

A iniciativa do Espaço Arp é resultado da gestão de resíduos sólidos urbanos/coleta seletiva, em parceria com a LaSQPol e EBMA (Empresa Brasileira de Meio Ambiente), concessionária responsável pela coleta do lixo doméstico em Nova Friburgo.

- Copos reutilizáveis

- Compostagem de composto orgânico para locatários e composteira das guimbas, em parceria com o Clube do Humus

- Reuso de materiais, como madeira, ferro, PVCs e outros – transformados pelo Estúdio Caá

- Coleta de eletrônicos, seja um controle remoto de TV, um smartphone ou uma TV - Projeto Reciclotron

- Coleta de vidro para reciclagem, no projeto Ciclo do Vidro, em parceria com a Cervejaria Lumiarina e a Ambev

- Coleta de pilhas e baterias, em parceria com a loja Caçula

- Coleta de resíduos tecnológicos e roupas velhas, em parceria com a Reciclotron

- Coleta de banners usados, em parceria com a Ecomodas

- Coleta de óleo de cozinha com Renovaoil

- Descarte apropriado dos botijões de gás de montanhismo, em parceria com a Gear Tips

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