Apesar de ser um dos maiores desastres ambientais da história do Rio Grande do Sul, as enchentes que assolam a região desde o dia 29 de abril, não representam um caso isolado. Em 2023, o Brasil registrou recorde de desastres naturais, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Desastres Naturais), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia. Neste período, foram registradas 1.161 ocorrências, sendo que este número considera os desastres hidrológicos, como transbordamento de rios, e os desastres geológicos, que representam os deslizamentos de terra.
Para Paulo Artaxo, professor titular e chefe do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da USP e membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), o aumento da ocorrência de tragédias ambientais possui relação direta com as mudanças climáticas.
“O que está acontecendo, não só no Rio Grande do Sul, mas no planeta todo, é o aumento dramático na intensidade e frequência dos eventos climáticos extremos. Todos esses efeitos foram previstos pela ciência e todos eles estão associados à aceleração das mudanças climáticas globais”, afirmou o professor.
Segundo as previsões meteorológicas, já no início deste ano, o quadro tende a piorar em todo o país. Dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM) destacaram que durante todo o verão, as temperaturas seriam até 1,5º C acima da média para várias regiões. Em termos de chuva, assinalou tendência de volumes acima da média e eventos de maior intensidade em nível nacional.
Soluções negligenciadas
Mais uma vez essas questões chamam a atenção para a urgência de implementar soluções que possam tornar as cidades mais resilientes e preparadas para um futuro no qual os eventos climáticos extremos serão cada vez mais comuns devido ao processo de aumento do aquecimento global.
Diante do aumento constante das chuvas intensas e dos riscos climáticos, a necessidade de repensar a infraestrutura urbana é incontestável. Segundo o diretor e coordenador da Câmara Técnica de Gestão de Recursos Hídricos, da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-SP), Luís Eduardo Grisotto, investir em uma infraestrutura de drenagem e o manejo de águas pluviais urbanas minimizariam, por exemplo, os riscos de deslizamentos e inundações em grande parte das regiões brasileiras, mas, infelizmente, essas soluções têm sido negligenciadas no Brasil.
De acordo com ele, a ausência de planejamento, investimentos insuficientes e a dificuldade de implantação e gestão desses serviços têm prejudicado sistemas de drenagem urbana por décadas. “Embora a recente aprovação do Marco Legal do Saneamento prometa mudanças significativas, a resolução dos problemas relacionados às inundações, entre outros desastres naturais, ainda está longe de ser alcançada. A ação decisiva hoje garantirá a segurança e o bem-estar das comunidades brasileiras no amanhã desafiador que se avizinha”, avaliou Grisotto.
Situação em Nova Friburgo
Para o secretário de Proteção e Defesa Civil de Nova Friburgo, major Evi Gomes da Silva, “toda tragédia deixa aprendizado, e o que está acontecendo no Rio Grande do Sul será objeto de estudo para poder entender o que falhou na prevenção para ocorrer tamanha destruição”.
Em depoimento exclusivo para A VOZ DA SERRA, o secretário esclareceu: “Infelizmente, não temos uma cultura de prevenção, proteção e Defesa Civil, estamos sempre correndo atrás para minimizar o efeito danoso desses eventos climáticos. Com a chegada do período de estiagem damos início a revisão de nosso plano de contingência, onde verificamos se há a necessidade de melhorar/aperfeiçoar alguma situação que não funcionou conforme o esperado. O risco de inundação em nossa cidade, após a intervenção ocorrida no Rio Bengalas, foi mitigado e estamos aguardando a licitação (Inea/RJ) para o rebaixamento do leito do rio, aumentando a capacidade de vazão e diminuindo ainda mais o risco de inundação.
(Secretário de Proteção e Defesa Civil de Nova Friburgo, Major Evi Gomes da Silva)
Temos 36 sirenes instaladas em nossa cidade, quase todas na região norte da cidade, no distrito de Conselheiro Paulino, no Centro, São Geraldo e Campo do Coelho. Quando acionada a sirene, a população se dirige ao ponto de apoio, conforme treinamentos realizados ao longo dos anos. Quase todos os nossos pontos de apoio são unidades escolares municipais, e se houver necessidade, será utilizado os mantimentos da unidade escolar. Sendo assistidos também, pela Secretaria de Assistência Social.
Em caso de chuvas fortes, faltando energia, a recomendação é que fique em casa, entretanto, se for morador de área de risco, deve ficar atento, já que a sirene pode ser acionada mesmo sem energia no bairro, pois todas são instaladas com redundância de acionamento/funcionamento, sendo acionada de forma manual e funciona com baterias.
Como mencionei anteriormente, desde de 2021, foi criado o plano de contingência e a matriz de responsabilidades, onde cada órgão que compõe o Sistema de Proteção e Defesa Civil da cidade tem conhecimento de suas atribuições.”
Biodiversidade do Brasil — O Brasil ocupa quase metade da América do Sul e é o país com a maior biodiversidade do mundo. São mais de 116 mil espécies animais e mais de 46 mil espécies vegetais conhecidas no país, espalhadas pelos seis biomas terrestres e três grandes ecossistemas marinhos. Suas diferentes zonas climáticas do Brasil favorecem a formação de biomas (zonas biogeográficas), a exemplo da Floresta Amazônica, maior floresta tropical úmida do mundo; o Pantanal, maior planície inundável; o Cerrado, com suas savanas e bosques; a Caatinga, composta por florestas semiáridas; os campos dos Pampas; e a floresta tropical pluvial da Mata Atlântica.
Além disso, o Brasil possui uma costa marinha de 3,5 milhões km², que inclui ecossistemas como recifes de corais, dunas, manguezais, lagoas, estuários e pântanos. A rica biodiversidade brasileira é fonte de recursos para o país, não apenas pelos serviços ecossistêmicos providos, mas também pelas oportunidades que representam sua conservação, uso sustentável e patrimônio genético. (Fonte: observatorio3setor.org.br)
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