O lúdico possibilita o estudo da relação da criança com o mundo externo, pois na brincadeira a criança expõe seu mundo interior, contribuindo na formação da sua individualidade. Por meio da atividade lúdica e do jogo, a criança forma conceitos, seleciona ideias, estabelece relações lógicas, integra percepções. Faz estimativas compatíveis com o crescimento físico e desenvolvimento intelectual e, o que é mais significativo, vai se socializando, aprendendo a conviver em grupo, participar e cumprir regras: daí a importância do lúdico na infância.
Através da ludicidade a criança aprende a conviver, a ganhar e perder, a esperar a sua vez, a lidar com as frustrações, a explorar o mundo. “A atividade lúdica é o berço obrigatório das atividades intelectuais da criança e, por isso, indispensável à prática educativa”, defende o psicólogo suíço Jean Piaget* (1896-1980).
Para ele, o lúdico é uma das maneiras mais eficazes de envolver as crianças nas atividades, pois a utilização de brincadeiras e jogos faz despertar o gosto pela vida e leva as crianças a enfrentarem, “brincando”, os desafios que lhe surgirem.
Vale ressaltar que o termo lúdico vem do latim “ludus” que significa jogo, divertir-se: refere-se à função de brincar de forma livre e individual, de jogar de acordo com regras da conduta social, da recreação.
Contato com o meio social
Para Jean Piaget, o desenvolvimento do jogo está ligado aos processos simplesmente individuais e de símbolos intrínsecos à estrutura mental da criança e que só por ela podem ser esclarecidos. A criança participa ativamente do seu desenvolvimento antes de partir para a aprendizagem. Mas, inicialmente, é necessário que a criança amadureça para que posteriormente ela possa aprender através do contato com o meio social.
Piaget criou uma classificação de acordo com a evolução das estruturas mentais humanas e de como o lúdico se manifesta em cada estágio do desenvolvimento:
Os primeiros símbolos lúdicos surgem a partir do período sensório-motor (0 a 1/2 anos), com jogos simples. A partir do desenvolvimento dos níveis do pensamento verbal e intuitivo (2 aos 6/7 anos), os jogos também vão adquirindo características mais complexas. De acordo com a evolução desses estágios, apresenta as características das estruturas dos jogos infantis classificando-os em jogos de exercício, simbólico e de regra, que se caracterizam pelos movimentos realizados com o próprio corpo, baseado na formação de ações espontâneas.
Construção de conhecimento
O jogo de regras acaba por causar uma aprendizagem de socialização, no respeito às regras e a adaptação a elas, fatos que serão importantes no decorrer da vida da criança e do adulto que estará por vir.
Neste contexto, percebe-se que o jogo é intrínseco à natureza infantil e que o desenvolvimento e a complexidade do jogo em que a criança participa têm ligação direta com o seu desenvolvimento psíquico e motor, apresentando novas vivências à medida que avança nos seus estágios do desenvolvimento. A criança tem o jogo como uma atividade fundamental para o aprendizado não só escolar, mas também para o conhecimento do mundo.
Também é compreendida como conduta livre, espontânea, que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá. Portanto, ao manifestar a conduta lúdica, a criança demonstra o nível de seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos de acordo com seu nível de desenvolvimento.
“O jogo não pode ser visto apenas como divertimento ou brincadeira para gastar energia, pois ele favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral”.
Através dele se processa a construção de conhecimento. Agindo sobre os objetos, as crianças, desde pequenas, estruturam seu espaço e seu tempo, desenvolvendo a noção de casualidade, chegando à representação e, finalmente, à lógica. Ficam mais motivadas para usar a inteligência, pois querem jogar bem, esforçam-se para superar obstáculos tanto cognitivos como emocionais, buscando meios para resolver os desafios e superarem suas dificuldades.
*Psicólogo, biólogo e pensador, o chamado Método Piaget faz parte, até hoje, dos estudos acadêmicos nas áreas da educação e psicologia.
(Fonte: artigo na íntegra em: https://acaoediversao.com/)
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