Enfrentar desafios estimula as funções do cérebro

Confira a entrevista com a pedagoga e gerontóloga Beatriz Rimes
sábado, 07 de novembro de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
(Foto: Arquivo Pessoal)
(Foto: Arquivo Pessoal)

Beatriz Rimes se define como uma pessoa ‘festeira’, que recomenda viver cada dia buscando a felicidade. Por isso, ela é dedicada ao trabalho que exige atenção para com o outro, sempre de bom humor e mostrando que mesmo com as dificuldades naturais da idade, todos podem buscar a felicidade e independência. 

“Na quarentena continuei com alguns atendimentos online, o que foi um grande desafio, pois muitos idosos não sabem mexer em celular. No entanto, consegui manter parte dos atendimentos e até atender pessoas em outros estados. 

A distância física não impediu minha interação com meus pacientes, inclusive tivemos festa junina, comemoração de aniversário e até agradáveis chás da tarde, tudo online. E eu repetia: ‘Você na sua casa e eu na minha’. O que traz muita alegria, descontração e ameniza o distanciamento ‘físico’, botando aquele lindo sorriso no rosto”.  

Essa é a especialidade da pedagoga e gerontóloga Beatriz Rimes, que se dedica a melhorar o dia a dia dos idosos. Confira o trabalho essencial desta profissional do bem-estar. 

Caderno Z: Como podemos melhorar as funções do cérebro?

Beatriz Rimes: Nosso cérebro tem que ser desafiado a todo momento, costumo dizer que o que não usamos cai em desuso. Malhamos o corpo para estimular os músculos, e temos que malhar nosso cérebro para estimular nossas funções cognitivas. Buscar desafios, aprender coisas novas, conhecer lugares diferentes, fazer amizades e coisas que estejam fora da zona de conforto, além de criar reserva cognitiva, proporciona a neuroplasticidade. Eu sempre posto nas minhas redes sociais, exercícios para desafiar o cérebro e trazer diversão para as pessoas no dia a dia.

De maneira geral, de que os idosos mais reclamam?

Em muitos casos o idoso é tratado como incapaz de realizar funções que ele sempre desempenhou ao longo da vida, e muitas vezes é até infantilizado pela família, o que é um grande erro e incomoda muito os idosos. Por outro lado, com o aumento da expectativa de vida, surge uma preocupação com os distúrbios e desgastes degenerativos advindos da idade. Dentre elas as alterações de origem neuropsicológica que estão diretamente ligadas às funções cognitivas, como atenção, concentração, percepção, linguagem e inteligência, e que desempenham um papel fundamental no processo de aprendizagem e memória.

A população idosa no Brasil deve dobrar até 2042. O que deve ser feito para uma convivência respeitosa e saudável entre jovens e idosos?

O que eu sempre digo é que não podemos pensar em nos cuidarmos apenas quando chegarmos aos 80 anos. Alimentação adequada, exercícios físicos e cuidados com a mente nos proporcionará uma vida mais saudável. Todos temos que nos conscientizar de que o jovem de hoje é o idoso de amanhã. Por isso devemos respeitar a história do idoso, suas crenças e costumes. Vamos ouvir suas histórias, incluí-los nas atividades diárias de forma natural e não coibir a sua independência. Cuidar não significa tirar as responsabilidades dos idosos, mas adaptar as funções de acordo com as limitações dessa pessoa que sempre cuidou de você. Agradeça por ouvir a mesma história 20 vezes e escute como se fosse a primeira vez: os idosos têm muito a nos ensinar. Quando o idoso é ativo e tem atenção ele é muito mais feliz.  

O idoso ativo e interessado nas novidades da vida moderna tem mais chance de ser feliz do que aquele que se fecha numa bolha?

O idoso que se isola perde em qualidade de vida. Fica com a sensação de vazio, solidão, baixa autoestima, autoabandono, podendo levá-lo a doenças crônicas graves. Medidas como reduzir estresse, manter amizades e bom humor podem melhorar a saúde em geral, inclusive, cerebral. Vale ressaltar que as capacidades mentais e físicas podem ser estimuladas, mantidas e recuperadas, especialmente quando a perda for causada por fatores extrínsecos, como falta de atividade, e por exercerem atividades pouco desafiadoras à mente e ao corpo. Um bom exemplo são as redes sociais, que aproximam os idosos do mundo. Um dos meus projetos — Ligados nas novas tecnologias — aproxima as pessoas do mundo virtual, aumentando a interação com pessoas distantes e diminuindo o isolamento. É impressionante ver a alegria do idoso quando ele faz uma chamada de vídeo e vê uma pessoa querida do outro lado, ou até mesmo poder mandar ou receber uma mensagem de voz, pois a dificuldade em digitar e até mesmo visual, às vezes é muito grande nessa fase da vida.

 

Projeto Ativa Idade  

“O projeto Ativa Idade foi idealizado na pandemia e nasceu em outubro. Conversando com a psicóloga e neuropsicóloga Katya Lisboa, surgiu a ideia de criar um projeto voltado para as pessoas a partir de 45 anos. Como nós duas já desenvolvíamos um trabalho na Clínica Espaço Memória, voltado para idosos, percebemos que, com a pandemia, muitos médicos passaram a nos encaminhar pacientes com declínio cognitivo e o que nos chamou a atenção foi a idade, cada vez menor dessas pessoas. Foi aí que convidamos outros profissionais para montar o projeto, que é multidisciplinar. Para a parte física contamos com Ricardo Cadão (educador físico), e Priscila Araújo e Amanda Cabral (fisioterapeutas/pilates). 

A qualidade de vida e a autonomia estão diretamente ligadas a bom funcionamento de suas habilidades cognitivas, as quais devem ser estimuladas durante toda a vida, com o intuito de prevenir perdas. O projeto é organizado de forma personalizada, adequando-se às necessidades de cada paciente. Inicialmente a demanda é analisada através de entrevistas e avaliações variadas com o paciente. Construímos um planejamento individual com estratégias, intervenções orientadas pelas metas e objetivos a serem alcançados. 

Os exercícios são subdivididos de acordo com as áreas a serem trabalhadas, sendo aplicadas e supervisionados por profissionais especializados. Tem duração mínima de quatro meses, duas a cinco vezes por semana, com uma hora cada. Ao final de cada ciclo realizamos uma reavaliação do paciente e análise dos resultados alcançados. Caso necessário, será feito um replanejamento e redirecionamento do cliente no projeto/programa.

 A estimulação cognitiva é como se fosse uma poupança que precisamos “poupar” – trabalhar ao longo da vida – para termos uma reserva no futuro. Vamos pensar em envelhecer saudáveis agora para termos bons frutos no futuro.”

 

Projeto LAJE

Meu trabalho no Lar Abrigo Amor a Jesus começou no ano passado. Por conta da minha formação acadêmica, comecei a perceber a necessidade de um envelhecimento saudável, não só na parte física mas também na cognitiva. Foi aí que surgiu um dos meus projetos, o “Memória Ativa”. Como gosto muito da área social e sei da importância de doar um pouco do nosso tempo para outras pessoas, procurei o LAJE e pedi para implantar o projeto lá. Carinhosamente abraçaram minha ideia e juntamente com a Lúbia (psicóloga da instituição) iniciei meu trabalho de estimulação cognitiva com um grupo de idosos lúcidos e alguns com declínio cognitivo. 

Através do projeto, que a princípio deveria ser voltado para atividades pedagógicas, fomos ampliando e personalizando as atividades. Até criamos um bloco de carnaval com os internos. Eles fizeram tudo. O que percebi foi que trazer de volta a funcionalidade do idoso fazendo com que ele fosse um dos responsáveis por escolher as músicas, fazer instrumentos, organizar horários, estrutura do desfile e as fantasias, fez com eles se sentissem úteis e importantíssimos diante de situações que geralmente são impostas a eles. Foi um momento de grande alegria e satisfação pessoal para mim e para eles. 

Uma pena que com a pandemia o trabalho teve que ser interrompido, mas em breve darei continuidade ao projeto. Vale lembrar que algumas atividades, que necessitam de presença física, tiveram que ser suspensas devido a pandemia, mas as necessidades do Lar Abrigo permanecem: quem puder doar material de higiene pessoal, fraldas geriátricas, luvas descartáveis, alimentos entre outros, é só deixar na secretaria da instituição.” 

Endereço do LAJE: Rua Souza Cardoso, 403, Lagoinha, telefone: (22) 2522 5130. Contato com Beatriz Rimes: @beatrizrimest.

 

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