Covid-19: medicamentos que podem salvar vidas chegam a custar R$ 3 mil

Em falta nos hospitais, esses remédios não estão listados no tratamento oficial e famílias organizam até vaquinhas para adquiri-los
quinta-feira, 13 de maio de 2021
por Guilherme Alt (guilherme@avozdaserra.com.br)
Covid-19: medicamentos que podem salvar vidas chegam a custar R$ 3 mil

Combater a Covid-19 tem sido um desafio para a ciência. A força-tarefa incumbida de desenvolver uma vacina capaz de imunizar e atenuar os efeitos da doença que já causou 3,32 milhões de mortes pelo mundo tem mobilizado muitas frentes. Cientistas do mundo inteiro estudam medicamentos que podem ajudar a salvar vidas. Até o momento, não há tanta clareza no que diz respeito a uma medicação específica que seja determinante na recuperação dos enfermos. Apesar da agilidade em obter resultados e da incerteza dos efeitos colaterais, muitos estudos nacionais e internacionais apontam para alguns medicamentos que podem auxiliar no tratamento. No entanto, para adquiri-los o paciente pode precisar arcar com altos custos.

Dos principais medicamentos que auxiliam no tratamento Covid, os mais acessíveis são o Dexametasona – destinado ao tratamento de condições nas quais os efeitos anti-inflamatórios e imunossupressores dos corticosteróides são desejados, especialmente para tratamento intensivo durante períodos mais curtos e Rivaroxabana – indicado para o tratamento e prevenção da trombose venosa profunda (TVP) e embolia pulmonar (EP) recorrentes, em adultos. O Rivaroxabana é também indicado para o tratamento de embolia pulmonar e prevenção de outras embolias.

Já os mais caros são Baricitinibe – vendido sob o nome de marca Olumiant. Ele é indicado para o tratamento da artrite reumatóide em adultos cuja doença não foi bem controlada com medicamentos chamados antagonistas do fator de necrose tumoral e o Tocilizumabe, que é indicado para o tratamento de artrite reumatóide ativa, moderada a grave em pacientes adultos, quando tratamento anterior adequado com, pelo menos, um medicamento antirreumático modificador da doença (DMARD) não tenha trazido os benefícios esperados. Nos dois últimos, o tratamento pode chegar a R$ 3 mil, por cada medicamento.

Mobilização das famílias 

Em Nova Friburgo, diversas famílias com pacientes internados, muitos deles em estado grave, estão se mobilizando para comprar esses remédios. A maior parte não tem condições financeiras, e precisa recorrer aos amigos, vaquinhas online e até empréstimos.  É importante ressaltar que todos os medicamentos só podem ser comprados, sob prescrição médica. Também cabe informar que, apesar de estudos mostrarem reações favoráveis ao tratamento, ainda não há uma recomendação oficial para que o tratamento seja à base desses medicamentos. Portanto, sem a obrigação dos hospitais terem em seu estoque esses medicamentos, cabe às famílias dos pacientes em conjunto com o médico, decidir se seguirá em frente com o tratamento.

“Esses medicamentos, quando usados no tratamento da Covid, são usados na fase inflamatória da doença. O Dexametasona não é um remédio de alto custo, mas é importantíssimo de se ter para prescrever ao paciente no ambulatório e na internação. O Rivaroxabana é um dos anticoagulantes mais prescritos para não haver trombose e é usado por 28 dias. No paciente internado existe a opção de usar um anticoagulante subcutâneo, a Enoxaparina. O Baricitinibe e o Tocilizumabe fazem parte dos medicamentos em que os estudos apontam bons resultados em pacientes com quadro clínico mais grave da Covid”, explicou o reumatologista, Davi Furtado.

Segundo o pneumologista e um dos responsáveis pelo CTI Covid e não Covid do Hospital Municipal Raul Sertã, André Furtado, estabelecer um protocolo para Covid tem sido complicado. Para que um medicamento seja utilizado, é preciso que seja analisado e liberado pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) e constar na bula.

“Em relação à Covid, temos o corticoide que já está bem documentado e o anticoagulante, quando tem sua indicação. Já se usa o Tocilizumabe há um ano e mais recentemente saíram trabalhos sobre a importância dele. O problema é que a Roche, fabricante suíça responsável pela fabricação do medicamento, não está entregando no Brasil e está difícil de encontrar. Quando não podemos utilizá-lo, temos a opção do Baricitinibe. Os trabalhos iniciais mostram que a resposta dos pacientes ao medicamento tem sido boa”, explicou.

Apesar das dificuldades em se obter os medicamentos, o pneumologista reconheceu o esforço do município em obter os medicamentos, que contou com a ajuda do empresariado local. “Quando há um paciente pelo SUS, não temos como passar esse medicamento porque não há uma regulamentação, mas é muito difícil o médico não avisar que há esse medicamento, mesmo que esteja off label, ou seja, que não tenha indicação na bula e fica à cargo da família, comprar ou não. Na gestão do ex-prefeito Renato Bravo, empresários locais realizaram uma doação para a prefeitura e o município conseguiu tratar dez pacientes com Tocilizumabe. A atual gestão conseguiu comprar o equivalente a 50 tratamentos. O que fazemos no Raul Sertã é seguir as recomendações da sociedade médica, por isso existe uma solicitação para adquirir esses medicamentos”, observa André. 

O pneumologista também faz um alerta. Segundo ele, cada caso é analisado de forma específica, cada tratamento é diferenciado. “É preciso saber investir. O corticoide, por exemplo, não pode faltar de jeito nenhum. É barato e funciona. A Heparina, não pode faltar, tem que ter. Tem medicamentos que você entende não ter em estoque porque não há comprovação do auxílio dele no tratamento. Na hora do atendimento, o médico avalia o que acha melhor para o paciente. Existe paciente que tem infecção bacteriana e não pode usar esses medicamentos”, finalizou.

O que diz a prefeitura

A Prefeitura de Nova Friburgo, através da Secretaria Municipal de Saúde, informa que todo hospital trabalha com padronização de medicação. Os medicamentos citados na reportagem, apesar de serem utilizados no tratamento de pacientes com Covid-19, não fazem parte do padrão do Hospital Municipal Raul Sertã. “Apesar disso, a prefeitura tem tentado a compra dos mesmos e já conseguiu ao menos uma vez durante a atual gestão a aquisição do Tocilizumabe, mas o mercado não tem estoque para fornecer neste momento. A Secretaria Municipal de Saúde reforça que tem buscado incessantemente adquirir esse medicamento e, para tanto, fez um novo pedido para a compra, mas ainda não recebeu a medicação. Tendo no hospital, ele fica à disposição dos pacientes internados. Cabe ressaltar que o uso desses medicamentos é apenas sugerido pelos médicos aos pacientes e suas famílias, portanto, não é uma obrigatoriedade para o tratamento”, destaca a nota.  

 

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