Na noite da última segunda-feira, 12, foi realizada na Câmara Municipal a segunda parte da Audiência Pública sobre Diabetes, proposta e presidida pelo vereador Wellington Moreira. Com a presença da secretária de Saúde, Nicole Cipriano, cuja convocação foi aprovada por unanimidade no plenário, a audiência teve o objetivo de levantar problemas relacionados ao diagnóstico e tratamento da diabetes em Nova Friburgo e apresentar propostas para solucioná-los. Na primeira audiência, realizada em 29 de agosto, Nicole Cipriano não estava presente.
Pacientes, familiares, representantes da Associação dos Diabéticos de Nova Friburgo (Adinf), da Associação dos Doentes Crônicos do Brasil (ADCBra), do Conselho Municipal de Saúde, do Sindicato dos Médicos participaram da audiência. Foram levantadas diversas questões, como a falta de um Plano Municipal de Assistência ao Diabetes, que oriente o diagnóstico e o tratamento, de insumos, de cadastro dos pacientes, de preparação e capacitação dos profissionais que atendem os diabéticos, de equipes multidisciplinares para o atendimento dos doentes, de recursos para adquirir insumos mais modernos, de profissionais para trabalhar no Programa Hiperdia, entre outros.
Um único responsável por todos os doentes
A secretária de Saúde, Nicole Cipriano, apresentou Ricardo Klaus Bravo, gerente do Hiperdia de Nova Friburgo, programa do Ministério da Saúde que tem o objetivo de cadastrar e acompanhar todos os pacientes hipertensos e diabéticos a fim de que, com cuidados, se consiga um controle das doenças e a garantia de uma melhor qualidade de vida aos pacientes.
O gerente do Programa Hiperdia, Ricardo Klaus Bravo, é o responsável por todo o cuidado da atenção ao diabetes na rede pública de saúde de Nova Friburgo. Ele, sozinho, faz todo o trabalho do programa: cuida, faz a compra, o cadastro e a distribuição dos insumos necessários para o tratamento do diabetes no município. “Estou há seis anos responsável pelo Hiperdia. Primeiro ponto, ao chegar, foi dar ênfase a não faltar os insumos. Participo pessoalmente das licitações para que pelo menos cinco empresas multinacionais atendam o descritivo, assegurando, com isso, a qualidade nos aparelhos/insumos. Atuo sozinho nesse programa. Há ainda um grupo de coordenadores múltiplos trabalhando no mesmo local. Mas, no programa em si não tem uma secretária ou outro funcionário”, disse ele.
Para o presidente do Sindicato dos Médicos da Região Centro-Norte, Alexandre Dutra, o depoimento do gerente do programa Hiperdia demonstrou absoluta necessidade de se elaborar o Plano Municipal de Assistência ao Diabetes. “Sem o plano e sem equipe multidisciplinar, o trabalho não avança e se concentra nesses esforços pessoais, como o do Ricardo, que é servidor público e trabalha sozinho para atender todas as necessidades dos diabéticos da cidade. É preciso definir o fluxograma de atendimento, fazer o cadastro de todos os diabéticos de Nova Friburgo”, disse ele.
Associações fazem trabalho do SUS
Flávia Lopes, secretária e técnica de enfermagem da Adinf, ressaltou a mudança de papel da associação. “ Sem um serviço público que os abrace, os diabéticos do município acabam recorrendo à associação e fazendo cadastro. A Adinf foi fundada só para orientação e informação, mas cresceu a necessidade do atendimento individual. São 42 voluntários, entre eles, nove médicos endocrinologistas”, relatou ela, acrescentando que “o programa Adinf Doce Vida atende 350 diabéticos tipo 1 (insulino dependentes), com uma equipe multidisciplinar – endocrinologista, nutricionista e psicólogos. Isso tem mudado a vida dos diabéticos do município”, observou Flávia.
Também foi destacada a dificuldade que os pacientes atendidos pela Adinf têm em ser encaminhados para exames e outras especialidades médicas. “O SUS não aceita os pedidos de exames e os encaminhamentos feitos pelos médicos da Associação”, disse Flávia.
Já a presidente da Associação dos Doentes Crônicos do Brasil (ADCBra), Márcia de Jesus, enfatizou a importância de se fazer um cadastro para tomar conhecimento do número real de diabéticos na cidade. “O número que Nova Friburgo tem é somente do diabetes tipo 1, pois as pessoas se cadastram para receber a fitinha para fazer a medição da glicose pelo Sistema Único de Saúde (SUS). São 1.400 diabéticos tipo 1. Mas não há o registro do número de pessoas com diabetes tipo 2 (tratado com medicamentos e dieta), que não têm direito a esse serviço. Estatisticamente, sabemos que 8% da população tem diabetes e que desses, 90% são diagnosticados com o tipo 2 e 10% com o tipo 1”, esclarece Márcia.
Secretária de Saúde se pronunciou
A secretária de Saúde, Nicole Cipriano, falou sobre a importância da parceria com as associações. “Vocês alcançam uma população que não é atendida pelo SUS, contribuindo diretamente com a diminuição da nossa fila. Mas essa população não é atendida há muitos anos, não apenas há um ano e meio”, justificou ela.
Relatou também o aumento recente do número de médicos, com a contratação de mais 13 clínicos gerais e quatro endocrinologistas. “Sobre não aceitar o receituário da Adinf para encaminhamento para outros especialistas e pedidos de exames, a impossibilidade não é determinada pela prefeitura. Mas pela legislação. Temos que respeitar os processos do Sisreg, o Sistema de Regulação do SUS”, explicou ela.
Nicole disse também que “a Secretaria de Saúde está à disposição para trabalhar junto em prol do melhor caminho para o cadastro dos diabéticos, elaboração dos protocolos de atendimento e capacitação das equipes.”
Retorno em 60 dias
Encerrando a audiência, o vereador Wellington Moreira, que é diabético, apontou possíveis soluções para os problemas relatados. “É inadmissível que o cuidado com o diabetes seja responsabilidade de apenas uma pessoa. É necessário colocar uma equipe para trabalhar no programa Hiperdia. Há necessidade de começar do zero, fazer o cadastro, elaborar o Plano Municipal de Assistência ao Diabético, fazer treinamento, capacitação da equipe. Em relação à falta de verba, a Câmara aprovou remanejamento de parte do orçamento, pode-se usar na questão”, relatou ele, que informou sobre a realização de uma nova audiência pública sobre o Diabetes em 60 dias para que o município apresente os avanços propostos.
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