Audiência Pública cobra respostas sobre os equipamentos de cultura

Artistas e profissionais discutem na Câmara o destino da cultura friburguense
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
por Christiane Coelho (Especial para A VOZ DA SERRA)
Casarão de Riograndina (Foto: Henrique Pinheiro)
Casarão de Riograndina (Foto: Henrique Pinheiro)

Conforme já noticiado por diversas vezes em A VOZ DA SERRA, os artistas friburguenses estão sem seus palcos. A falta de uma resposta sobre os andamentos dos projetos de reformas do Teatro Municipal Laercio Ventura, que está interditado pela Defesa Civil, do Centro de Arte, fechado desde a tragédia de 2011 e do Casarão de Riograndina, com risco de cair e também interditado pela Defesa Civil, fizeram os artistas buscarem ajuda do Legislativo. A vereadora Maiara Felício (PT) propôs a realização de uma audiência pública, que foi aprovada em plenário e presidida por ela na última  segunda-feira, 21.

Na reunião estiveram presentes, além de Maiara (a única representante do Legislativo presente), o secretário de Cultura, Daniel Figueira; o representante da Fundação D. João VI, Luiz Fernando Folly; o secretário da Casa Civil, Pierre Moraes; o representante da Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Emop-RJ), Marcos Paulo e Lincoln Vargas e Jeferson Cunha, dos movimentos Volta Centro de Arte e Viva Cultura.  

Lincoln, inclusive, foi o vice presidente da audiência e em seu discurso falou sobre a falta de respostas sobre a vacância do Conselho Municipal de Políticas Públicas Municipais e a não marcação da eleição, que é responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura, também sobre a falta de chamamento público para artistas locais e a degradação dos espaços culturais: Estação Cidadania, na Via Expressa, Centro de Arte, Teatro Municipal e o Casarão de Riograndina. “Entendemos a burocracia e os trâmites a serem cumpridos, mas queremos saber em que fase estão os projetos. Queremos abrir o diálogo”, ressaltou ele.

Teatro Laercio Ventura 

Atores e representantes de vários setores da cultura citaram os prejuízos causados pelos equipamentos fechados, não só financeiro, mas principalmente o prejuízo cultural. “O Teatro Municipal Laercio Ventura, com 564 lugares, balcão com 82 lugares, que já abrigou grandes produções, é um espaço que faz muita falta para os friburguenses. Devido à falta de verbas para sua manutenção, o equipamento cultural está abandonado, com sérios problemas estruturais, com deterioração visível. O estacionamento vem sendo utilizado como autoescola para treinamento de motociclistas. Sempre ouvimos sobre projetos e licitações, que nunca acontecem”, disse o ator Gero Band.

Praça Ceu 

A Praça Ceu (Centro de Esportes Unificados), na Via Expressa, no bairro Olaria, possui um teatro com 100 lugares. De acordo com Gero, o local faz parte de um programa do Governo Federal, denominado Centros de Artes e Esportes Unificados. A Praça Ceu foi criada para abrigar atividades artísticas, esportivas e culturais. “Foi inaugurada em 2014, nunca foi concluída e jamais devidamente usada”, disse Gero.

Casarão de Riograndina 

O artista e professor Jeferson Cunha, foi convidado a falar sobre os problemas do Casarão de Riograndina: “Já fizemos vários ofícios pedindo revitalização do espaço. Foram trocadas algumas telhas para que não pesasse mais sobre a estrutura. Se o problema é o Inepac (Instituto Estadual do Patrimônio Artístico e Cultural), que está emperrando a reforma do Casarão, vamos, então, pressioná-lo. O Ponto de Cultura do distrito de Riograndina tem que voltar a funcionar”, pediu o professor e artista.

Centro de Arte 

Para falar sobre o movimento Volta Centro de Arte foi convidada a atriz Sílvia Araújo. O espaço, na Praça Getúlio Vargas, 71, que foi palco da efervescência cultural friburguense, está fechado desde a tragédia de 2011. “O Centro de Arte que é referência para os friburguenses não está aberto para as crianças de hoje. Tem todo um setor com grande potencial de cultura subutilizado, já que Nova Friburgo é um berço cultural. É preciso olhar o patrimônio que temos no centro da cidade. Sabemos do problema com o Inepac, mas precisa dar andamento no projeto. Além é claro de ter um planejamento de conservação. Eu, como artista, professora e cidadã, peço competência da gestão pública para que nossos equipamentos culturais sirvam a todos os friburguenses”, observou Sílvia.

Oficina Escola de Artes 

Rodrigo Guadagnini, ator, professor e artista circense, lembrou dos grandes e saudosos incentivadores da arte de Nova Friburgo, como Julio Cezar Seabra Cavalcanti, Jaburu e Carlito Marchon. “Hoje temos alunos da Oficina Escola de Artes fazendo instrumentos para artistas renomados de todo o Brasil e isso demonstra a importância da política pública cultural. Tivemos muitos avanços de políticas públicas na cidade, a fomentação do Conselho de Cultura. Através das várias conferências municipais de Cultura conseguimos estabelecer leis que, até agora, não saíram do papel. Um governo que queira transformar verdadeiramente seus cidadãos, deve abrir diálogo, não pode se pautar somente em eventos. Eles são fundamentais sim, ainda mais depois da pandemia, mas temos que ter políticas públicas e diálogo com os artistas”, disse ele.

Guadagnini também lembrou da importância de se eleger o Conselho Municipal de Cultura, de se fazer chamamento público para eventos e apresentações, de se abrir as casas culturais para que os artistas possam ensaiar à noite, de se ter vagas para a Secretaria de Cultura no concurso público, como iluminadores e demais profissionais que trabalham para fomentar a cultura.

O que disse o poder público 

O secretário da Casa Civil, Pierre Moraes, justificou a demora do início das obras pela falta de pessoal na prefeitura. “O Centro de Arte já estava com tudo pronto para fazer a licitação da obra e teve que retornar ao início devido a 20 centímetros errados nas passagens. Para a reforma do Teatro Municipal a licitação da outra gestão já estava em andamento. Com a pandemia parou e quando o valor chegou, o empreiteiro desistiu da obra devido à deterioração maior, não coberta pelo preço cobrado. Entramos em contato com a Emop e estamos pedindo a intervenção no Teatro Municipal. A Emop já começará a fazer a reforma do prédio do antigo Fórum Júlio Vieira Zamith, na Praça Getúlio Vargas, onde funciona atualmente a Oficina Escola de Artes de Nova Friburgo. O Casarão de Riograndina está com o projeto pronto para licitar, mas depende do Inepac”, justificou Pierre.

O representante da Emop, Marcos Paulo, falou das obras que já estão em andamento como a troca do telhado e demais reparos do prédio do antigo fórum. “As intervenções começam na próxima segunda-feira, 28, e devem terminar em fevereiro. Em relação ao Teatro Municipal, já temos todo o orçamento e projeto concluídos. Só falta tratar da parte jurídica, se faremos um convênio com a prefeitura para fazer a licitação ou se existe um outro caminho mais rápido para o início da reforma”, esclareceu.

O secretário municipal de Cultura, Daniel Figueira, disse que a pasta está aberta a todos. “Todos que nos procuraram estão sendo atendidos. Estejam mais participativos na Secretaria de Cultura. O diálogo está aberto”, ressaltou. “Avalio que ,pelo menos, reabrimos o diálogo de forma pública e queremos continua-lo, como, também, continuar a cobrança por ações e, principalmente, transparência”, disse a atriz Daniela Santi. 

Nota de Repúdio

Nesta terça-feira, 22, artistas divulgaram uma nota de repúdio: “O artista de Nova Friburgo, vem por meio deste, através dos movimentos #voltacentrodearte e #vivacultura, manifestar sua profunda indignação e repúdio à não participação de 20 vereadores dos 21 eleitos na audiência pública sobre os equipamentos culturais, no plenário da Câmara Municipal. Ressaltamos também a ausência do prefeito Johnny Maycon. Acreditamos que o Executivo e o Legislativo deveriam estar mais engajados para buscar juntos, na audiência para reabrir um caminho para um diálogo em prol de melhorias relacionadas a Cultura. Hoje a classe artística passa, ainda por um momento de fragilidade por não ter seus equipamentos culturais devolvidos e, assim trazer entretenimento e cultura ativos à nossa cidade. A grande falta de participação, tanto dos membros do Legislativo, quanto do Executivo, demonstra claramente o descaso para com os interesses dos diferentes segmentos da cultura e da sociedade, essa mesma que lotou o plenário com pessoas dos diversos segmentos, como artistas, professores, diretores, advogados, jornalistas e representantes de  diversas entidades e outros todos e alta relevância no desenvolvimento de Nova Friburgo. Uma cidade que não cria políticas culturais e não fomenta a cultura e suas variadas manifestações é uma cidade sem identidade.”

Assinam: #movimentovoltacentrodearte, #vivacultura, Sinpro e Região, Coletivo 200 anos pra quem?, Coletivo Negro Minervino de Oliveira de Nova Friburgo, Sepe, Núcleo Nova Friburgo Coletivo Negro Lélia González NF, Fórum Sindical e Popular

 

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