Amigos da Reciclagem: uma comunidade unida pela causa de cuidar do meio ambiente

A ideia de criar um projeto para reciclar lixo surgiu nas reuniões da Associação dos Moradores
sexta-feira, 17 de julho de 2020
por Ana Borges (ana.borges@avozdaserra.com.br)
Amigos da Reciclagem: uma comunidade unida pela causa de cuidar do meio ambiente

José Armando da Silva Schueler, 55 anos, nascido em Lumiar, é mecânico de profissão, comerciante e recuperador de carros antigos. Apaixonado pela natureza desde sempre, hoje é um atuante defensor do meio ambiente, da ecologia, e na prática, da reciclagem. Junto com amigos, moradores dos distritos de Lumiar e São Pedro da Serra, há dois anos criou o projeto Amigos da Reciclagem num galpão alugado. E num mutirão que fortaleceu ainda o grupo, reformou e montou o espaço para receber resíduos que seriam jogados no lixo.

Ele conhece cada cantinho da região, o entorno e o contorno das montanhas, os rios, riachos, trilhas, caminhos, estradas, desde a infância. Tomava banho de rio, curtia a natureza, se deliciava com o cheiro de mato, o jeito das pessoas do lugar. Resumindo, já naquele tempo em que tudo para ele era só diversão, à medida que crescia percebia que precisava cuidar de todo aquele tesouro, o lugar onde nasceu, cresceu, casou com Léia Maria, teve dois filhos, Sávio e Sabrina, e quatro netos. Todos moram na região e se dedicam às práticas sustentáveis. 

A ideia de criar um projeto para reciclar lixo surgiu nas reuniões da Associação dos Moradores, onde conversavam sobre vários assuntos e buscavam soluções para os problemas relatados. E o assunto meio ambiente era recorrente nesses encontros. “Preservação da natureza, ecologia, essas coisas, e o que mais preocupava era a questão do lixo, que a gente via nas ruas, nos rios, cachoeiras, matas, muito lixo jogado de qualquer jeito, em qualquer lugar. Até que um dia decidimos agir em vez de ficar só falando, e criar um projeto de reciclagem”, conta José Armando.

Espaço resolvido, conseguiu apoio de comerciantes locais, donos de pousadas, restaurantes, bares e assim, juntos, cada um ajudou do jeito que pôde. Foi com ajuda de comerciantes do ramo de construção, que reformaram o galpão, “tudo com material reciclável”. 

Também compraram de forma parcelada, uma prensa hidráulica, que ainda estão pagando, e um casal de amigos, Amilson e Marcela, que já recolhia papelão nas empresas, se engajou no projeto e colocou a toyota deles à disposição do projeto. “O primeiro braço que tivemos fora de Lumiar foi a empresa Adeucar Veículos (Duas Pedras) que recebe óleo de cozinha e óleo de carro, em garrafas pet”, informou. 

“A cada serviço realizado aqui na loja, dependendo do valor oferecemos mudas de árvores da Mata Atlântica para o cliente semear onde quiser. Um dia, conversando com o secretário de meio ambiente, fiquei sabendo que não tinha nenhum trabalho desse tipo que a gente fazia. Daí ficamos ainda mais motivados a não ficar limitados apenas ao nosso galpão mas ir ampliando essa ideia por toda a cidade. Queremos atrair gente de vários lugares para participar dessa causa. A ideia é simples: o que não serve mais para uma pessoa, pode servir para outra”, diz, convicto.

Tudo é passível de reciclagem

Papelão, lata, embalagens das lojas, retalhos das confecções, ferro velho (fogão, geladeira), óleo saturado de cozinha e até óleo queimado das oficinas mecânicas, tudo pode ser reciclado. “Uma empresa de Teresópolis pega aqui o óleo de cozinha que recolhemos para fazer biodiesel. E o óleo queimado das oficinas, reciclado, produz uma borra que é usada por uma empresa de Minas Gerais para fazer asfalto. Tudo se reaproveita. É tanta coisa, que em apenas dois anos de funcionamento já recuperamos 25 toneladas de resíduos sólidos”, revela José, reafirmando que o galpão recolhe e recebe tudo o que pode ser reciclado.

Agora, só está faltando reciclar vidro. “Antes da pandemia a gente estava fechando parceria com uma empresa de Rio das Ostras, mas aí tudo parou com a chegada do coronavírus. Em relação a embalagens, por enquanto só estamos recebendo latinhas, caixas (como as de leite, sucos, sabão em pó) e plásticos. Também aqueles protetores de lona ou plástico das estufas de flores de Vargem Alta, são doados pelos floricultores para a gente repassar para outros pequenos agricultores e pedreiros. Agora estamos estendendo um braço para Rio Bonito e Macaé de Cima. Seria importante levar esse projeto para localidades como Olaria e Conselheiro Paulino, e para isso queremos contar com a prefeitura, porque esse é um tipo de investimento que vai gerar emprego, portanto, desenvolvimento. O município tem tudo a ganhar incentivando reciclagem”, argumenta.  

Uma parceria preciosa com a comunidade

A garotada é uma das parceiras mais ativas e importantes para o sucesso do empreendimento. Crianças e adolescentes doam brinquedos, bicicletas e todo tipo de material que não usam mais. “Reformamos as bicicletas, adesivamos com a nossa logo e doamos para quem precisa. Assim fazemos com geladeiras, televisões e móveis. Os jovens também trazem livros, inclusive recentemente recebemos uma coleção maravilhosa sobre pintura que encaminhamos para um pintor. Das tampinhas de refrigerantes, garrafas pets, xampus, fazemos brinquedos que são distribuídos para as crianças carentes”, destaca. 

José Armando acredita que até o fim do ano o Galpão terá reciclado entre 40 a 50 toneladas de resíduos sólidos, porque a adesão da população não para de crescer, a procura tem sido grande. “Boa Esperança, por exemplo, é um lugar que tem um grande número de confecções, mas as caçambas nem superlotam mais como antigante porque o Amilson e a Marcela pegam a Toyota e vão direto nas confecções recolher as sobras antes de serem jogadas nas caçambas. O melhor de tudo é que as pessoas entenderam nosso propósito e nos apoiam totalmente. Já sabem que têm um lugar certo para descartar o que antes iria para os lixões”, conta. 

Outra parceria que faz questão de anunciar é com o Colégio Estadual Carlos Maria Marchon, no centro de Lumiar. “Providenciamos três galões, para metal, plástico e papel para os alunos trazerem de suas casas e despejar lá. Em troca vamos levar internet para a escola, graças a uma parceria com uma empresa desse setor em Friburgo. Esse tipo de ação ajuda a despertar a consciência deles, ainda na infância, e cria hábitos voltados para a sustentabilidade. Enfim, essa é a nossa missão e vamos seguir nessa estrada, não tem volta. Acredito que estamos no caminho certo e espero que o poder público abra os olhos e os braços para a questão ambiental em Friburgo”, conclamou. 

O Galpão Amigos da Reciclagem fica na Rua Zenith Cacilda Spitz, 28, próximo ao núcleo do Inea, em Lumiar. Contato com José Armando pelo telefone (22) 9 9277 2693. 

 

  • José Armando da Silva Schueler

    José Armando da Silva Schueler

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TAGS: reciclagem