De acordo com pesquisas realizadas pelo Ibope em outubro do ano passado, adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto e cerca de 42% das crianças na faixa etária de 5 a 10 anos têm o hábito de leitura. Por conta do isolamento social, provocado pela pandemia do coronavírus, os exemplares viraram opções de entretenimento para crianças de todas as idades.
Dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) apontaram que as vendas de livros em livrarias, supermercados e lojas de autoatendimento aumentaram significativamente já em 2020 — em números absolutos, foram vendidos 2,95 milhões de cópias no Brasil — e continua em expansão em 2021.
O hábito da leitura começa na infância, onde os pais são responsáveis por incentivarem as crianças a sentirem prazer ao ler um livro, assim como jogar videogame, brincar com os amigos, entre outras atividades. A leitura frequente, como a contação de histórias dos pais para as crianças leva à maior estimulação fonológica, o que é importante para a alfabetização, à maior estimulação cognitiva em casa e a um aumento de 25% de crianças sem problemas de comportamento.
Mais do que palavras, as ilustrações presentes nos livros, desde a capa até a última página têm o poder de despertar a curiosidade e os sentidos e, por este motivo, é de importância que elas estejam presentes na inserção da leitura na vida das crianças.
Exemplo disso é a doutora em educação e uma das mais renomadas escritoras do segmento infanto-juvenil do Brasil, Kiusam de Oliveira, que leva para suas obras cultura, literatura, e consequentemente aborda temas como, aspectos sociais, bullying, preconceitos de raça e cor, com o objetivo das crianças de hoje se desenvolverem a fim de formarem opinião consciente no futuro.
Não à toa, Kiusam recebeu o Prêmio ProAC Cultura Negra 2012, com o seu sucesso “O Mundo no Black Power de Tayó”, elencado no ranking dos 10 livros mais importantes do mundo, em direitos humanos, pela ONU, entre outros.
O seu recém-lançado O Black Power de Akin (Editora de Cultura), traz a história de Akin, um jovem negro de 12 anos que cobre a cabeça com um boné ao ir para a escola. Ao seu avô, Dito Pereira, ele não conta que tem vergonha do seu cabelo, motivo de chacota dos colegas. Antes que Akin tome uma atitude brusca, o sábio avô, com a força das histórias da ancestralidade, leva o neto a recuperar a autoestima. Agora confiante, Akin ergue seu cabelo Black Power e se sente um príncipe.
Além do prefácio assinado pelo rapper Emicida, o livro de Akin tem projeto gráfico e ilustrações que incorporam referências da ancestralidade em linguagem contemporânea de arte digital, criados pelo designer Rodrigo Andrade.
Um milhão de livros a mais
Em março deste ano, o mercado de livros teve um aumento de 38,8% no volume de vendas em relação ao mesmo período do ano passado. Isso significa que as livrarias venderam, neste ano, um milhão de livros a mais que em 2020. Com 3,91 milhões de obras vendidas, o mercado faturou R$165 milhões - o que representa crescimento de 28,46% em relação a março passado.
Este é o primeiro comparativo que analisa dois meses de pandemia no país e consegue captar os efeitos reais sobre o setor. Os dados são do Painel do Varejo de Livros no Brasil, levantamento realizado pela Nielsen Book e Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel). O preço médio do livro diminuiu mais de R$ 3: passou de R$ 45,56 em 2020 para R$ 42,29 em 2021. Os livros infantis e educacionais tiveram a maior queda de valor e passaram a custar, em média, R$ 10 a menos.
Os livros mais vendidos neste período foram os de não ficção especialista, seguidos por não ficção trade e infantil, juvenil e educacional. Os livros de ficção foram os menos vendidos do período. Divulgado mês a mês, o estudo é feito pela Nielsen e apresentado pelo Snel. A pesquisa baseia-se no resultado da Nielsen BookScan, que verifica as vendas em livrarias, varejistas e e-commerce.
A relação com os livros e o poder da literatura na infância
Qualquer um de nós já ganhou um livro que não gostou, mesmo que seja o livro preferido da pessoa que nos presenteou. Acontece e não poderia ser diferente com os pequenos leitores e pré-leitores. Ainda bebês apresentam suas preferências… Preferem mais uma brincadeira do que outra, riem de coisas que outros bebês não riem e têm medo de coisas diferentes também. Da mesma maneira, um livro pode despertar risadas em um bebê e choro em outro. Esta diversidade faz parte da construção da personalidade e se manifesta a todo o momento, a cada escolha, e também a cada não ou rejeição.
Os livros mexem com nossa imaginação e nos provocam sentimentos, positivos e negativos. A literatura, como arte, mexe com a gente e, por isso, nos humaniza. Enquanto lemos, aparentemente nossa postura é de passividade. Mas, na realidade, estamos dialogando o tempo todo com o conteúdo que nos chega, respondendo a ele, de alguma forma. As crianças também são assim, ora rejeitam um livro, ora têm medo dele, ora se apegam. Porque aquela história está dialogando com ela, a cada momento de um jeito diferente.
Por tudo isso, a literatura é decisiva na infância, nessa fase de buscas e descobertas. Crianças são inventores, exploradores e artistas singulares, com capacidade de reinventar o mundo a partir do que é levado a elas. É na infância também que se aprende a criar e nutrir os laços afetivos, a desenvolver hábitos que serão reproduzidos ao longo da vida. E neste ponto, ressaltamos a importância da leitura compartilhada.
Ao direcionarmos um livro a uma criança, somos imediatamente interpelados pela sua função diante de um leitor repleto da necessidade de formação, instrução e entretenimento. Nos deparamos, também, com a submissão da obra frente a outro leitor potencial: o adulto intermediador, o qual dá o acesso da criança ao livro.
A interferência desse adulto no processo de condução e digestão da leitura é decisiva. O prazer de ler dependerá também do estímulo desse interlocutor. Para que a leitura possa ser produtiva e estimulante para as crianças, são necessários alguns cuidados no momento da atividade.
Em primeiro lugar, é preciso haver sincronia entre os leitores. As visões que o adulto possui da infância e da prática da leitura, devem estar esclarecidas a fim de propiciar um ambiente adequado para o desenvolvimento e prazer dos pequenos.
A criança é um ser ativo…
Nesse processo, a criança deverá ser vista através dos olhos do adulto como um ser ativo, que vivencia um período peculiar do seu desenvolvimento. É preciso a percepção dela como um “ser que já é”, que presencia uma fase que requer exploração de capacidades e incentivo às possibilidades.
A infância deverá ser considerada um momento com características e necessidades únicas e a literatura deverá ser utilizada como função auxiliar no desenvolvimento desse processo. Cabe ao adulto vestir a roupagem do universo infantil visando expandir o “vir a ser” da criança através do livro.
A fragilidade e a vulnerabilidade dessa fase não devem sobressair no momento da leitura, elas devem servir como estímulo para a exploração das possibilidades da criança e do seu desenvolvimento em liberdade, orientada no sentido de atingir a plenitude do seu processo.
A leitura como arte
Muito embora a literatura infantil ainda seja usada por vezes apenas como um instrumento didático, ela não deverá se afastar da arte. É preciso que o livro seja apresentado à criança como uma obra de arte, a ser apreciada e refletida. Como uma pintura, uma música ou uma peça, ele também possui sua função educativa.
Assim, a criança terá maiores chances de ser boa leitora recebendo os estímulos assertivos para a fruição literária, transformando o momento da leitura em um instante desejado, não obrigatório.
A necessidade do rigor na escolha dos temas e títulos, do cuidado e do carinho, da disposição em realizar a leitura e do prazer nesse momento, é indispensável para que haja a harmonia entre as diversas funções que a leitura exerce na infância. Para o sucesso completo da leitura na infância, é valioso esse equilíbrio entre a função educativa e artística do livro. E que, então, possam abrir horizontes que favoreçam a criação e explorem a cognição, unindo a necessidade de informação à fantasia, imaginação e criatividade.
(Fonte: Blog Leiturinha)
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