Mais sobre Clara, suas obras, sonhos e fantasias

Autora de obra infantil conquista adultos e marca para sempre a cena teatral do país
sábado, 10 de abril de 2021
por Jornal A Voz da Serra
(Foto: Acervo O Tablado)
(Foto: Acervo O Tablado)

O primeiro trabalho infantil de Maria Clara foi “O Boi e o Burro a Caminho de Belém”, em 1953, onde ela mesma encenou e contou a história do nascimento de Cristo sob uma nova ótica. Era um auto de Natal, escrita originalmente para teatro de bonecos, mas, no fim, acabou sendo montada com atores. No mesmo ano, montou “O Rapto das Cebolinhas” e ganhou o prêmio da prefeitura do Distrito Federal, o que ocorreu também no ano seguinte com “A Bruxinha que Era Boa”.

Seu texto mais famoso, “Pluft, o Fantasminha”, é de 1955. Enorme sucesso em toda sua carreira, a história de amizade entre uma menina e um fantasma, tendo como pano de fundo vencer medos, rendeu à autora os prêmios Saci e da Associação de Críticos de São Paulo. No universo infantil, a dramaturga também se aventurou com grande desenvoltura em versões modernas para clássicos. 

Em 1956, sua “Chapeuzinho Vermelho” trazia um lobo medroso que acabou por ser levado para o zoológico, além de uma vovó animadíssima e uma floresta que tinha vida, fala e movimento. Em 1960, com o sucesso “O Cavalinho Azul”, contou a história de um menino que percorreu o mundo em busca de seus sonhos.

Durante o período de 1950 a 1960, além de sua produção literária, Maria Clara também trabalhou como atriz e diretora de espetáculos adultos, protagonizando peças de Federico García Lorca e Albert Camus, dirigida por Sérgio Viotti e Yan Michalski. Como diretora encenou Molière, Carlo Goldoni, William Shakespeare, Maximo Gorki e Anton Tchekov.

O Tablado começou a ficar famoso na década de 60, quando conquistou um público cativo tanto de crianças quanto de adultos, neste caso um público dos 8 aos 80 anos. A produção nesse período foi intensa, com a montagem dos espetáculos “Maroquinhas Fru-Fru”, “A Gata Borralheira”, “A Menina e O Vento”, “O Diamante do Grão-Mogol”, “Maria Minhoca”, “Camaleão na Lua” e “Aprendiz de Feiticeiro”.

Novos desafios e reconhecimento

Nos anos 1970, a autora também se aventurou no gênero musical, produzindo “Tribobó City”, e começou a ver seus textos traduzidos em diversas línguas e encenados fora do país. Na década de 1980, além de receber diversos prêmios de personalidade e de contribuição ao teatro infantil, a autora começou a utilizar efeitos cênicos e técnicas como a luz negra em suas peças.

Na década seguinte, foi convidada para atuar em “Ensina-me a Viver”, sendo dirigida por Domingos Oliveira. Em 1985, atuou também em “Este Mundo é um Hospício”, de Joseph Kesselring, e a partir dos anos 90, Maria Clara passou a entregar a direção de seus textos a Cacá Mourthé, sua sobrinha.

Em relação ao reconhecimento de sua extensa obra, a autora recebeu muitos prêmios, entre eles O Golfinho de Ouro, do Museu da Imagem e do Som, e o prêmio Moliére, da Air France, ambos para melhor autor teatral em 1978. Em 1983, o Tablado recebeu o Molière, de incentivo ao teatro infantil, enquanto o Prêmio Mambembe de melhor autor foi dado duas vezes, em 1984 e 1987. Em 1991, a Academia Brasileira de Letras concedeu-lhe o prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra.

A turma do Samba prestou-lhe três homenagens na Marquês de Sapucaí. Em 1992, pela Unidos do Jacarezinho (Grupo A), em 2003, pela União da Ilha do Governador (Grupo A) e em 2011, pela Unidos do Porto da Pedra (Grupo Especial), quando a autora faria 90 anos e ainda comemoraria os 60 anos de seu Tablado. Um ano antes, a editora Nova Aguilar já havia lançado um livro com sua obra completa. 

A última peça, escrita em 2000, foi “Jonas e a baleia”, na qual Maria Clara reconta esse episódio bíblico em parceria com Cacá Mourthé. Ela faleceu aos 80 anos em razão do linfoma de Hodgkin, no dia 30 de abril de 2001.

 

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(Foto: Acervo O Tablado)
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