Sobre Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo

sábado, 12 de dezembro de 2020
por Camila Dias Amaduro* (especial para A VOZ DA SERRA)
Sobre Antônio Clemente Pinto, o Barão de Nova Friburgo

Antônio Clemente Pinto (1795/1869), o futuro Barão de Nova Friburgo, português de origem simples, natural da freguesia de Nossa Senhora de Abobadela, do vilarejo de Ovelha do Marão, e filho de Manoel José Clemente Pinto e de Luiza de Miranda, chegou ao Brasil com doze anos de idade. 

O contexto do final do século XVIII e início do século XIX na Europa e no Brasil nos fornece subsídios para compreender situação da família Clemente Pinto em Portugal, a iniciativa migratória e as condições de estabelecimento no Brasil. Porém os motivos reais são desconhecidos.

Viveu na cidade do Rio de Janeiro com parentes que já residiam no Brasil, trabalhou inicialmente no comércio do centro da cidade e do cais e depois se envolveu com a compra e venda de escravos. O seu rápido enriquecimento desperta curiosidade até hoje: Antônio Clemente Pinto chegou a acumular mais riquezas do que o próprio imperador. 

Muitas histórias infundadas são feitas acerca do rápido enriquecimento. Uma delas fala da relação do português com o Barão de Ubá - este teria doado terras na região de Cantagalo para ele. 

Outra mais curiosa ainda, fala sobre Clemente Pinto ter encontrado um tesouro de um lendário contrabandista de ouro das Minas Gerais, que utilizava uma estrada alternativa que passava por Cantagalo e Friburgo para escoar os montantes para além mar.  E sempre que se sentia ameaçado pelas tropas reais, o contrabandista enterrava os carregamentos e voltava depois para buscar. 

Fato é que Clemente Pinto se tornou muito poderoso: mais de 20 fazendas no interior do estado do Rio foram construídas e administradas por ele e por seus herdeiros. Assim o comércio de escravos e a plantação de café com mão de obra também escrava contribuíram para a manutenção do poder da família durante muito tempo.

É importante compreender que a documentação relativa ao Barão, seus herdeiros, suas propriedades, etc. foram se dispersando com o tempo. Não existe nenhuma produção acadêmica ou pesquisa especializada na biografia desta personalidade, apenas obras que interpretam de maneira superficial e generalizada a atuação dos nobres. Unindo o fato ao poder conquistado pela família, ressalta-se assim, a importância da realização de pesquisas sobre o tema.

Uma característica peculiar unicamente aos Clemente Pinto é a grande quantidade de títulos de nobreza distribuídos a membros de uma mesma família e na seqüência linear genealógica. Além das alianças formadas através do casamento com nobres imperiais. No período republicano alguns remanescentes da família ainda se tornam grandes coronéis nas cercanias das Fazendas de Areias e Boa Sorte.

Essa formação de poder regionalizado é relacionada como uma espécie de poder ‘feudal’ pelo arquiteto e pesquisador Luiz Fernando Dutra Folly da seguinte forma:

“Se voltarmos o nosso olhar para a época do Brasil Império e se tentarmos procurar nas famílias nobres brasileiras, um nobre que tenha um título de nobreza e que incorpore não a posição militar ou executiva que seus títulos desempenhavam, mas sim a grandiosidade de bens, de uma vida de um verdadeiro senhor feudal, dificilmente encontraremos uma família como a dos Clemente Pinto. Os quatro nobres da família Clemente Pinto já citados anteriormente, tiveram uma vida de verdadeiros senhores feudais, pois tinham na cidade de Nova Friburgo e redondezas, seu feudo, seu quintal, o seu jardim.”

O Barão de Nova Friburgo deu início a um processo de desenvolvimento e urbanização não somente do município, como de toda a região em que passava a linha da Estrada de Ferro Cantagalo. Tal feito impulsionou até mesmo o início da industrialização.

Não cabe aqui estender maior discussão sobre o tema, apenas dissertar sobre quem foram os Clemente Pinto que construíram a Chácara do Challet e que impulsionaram tantas outras atividades artísticas no interior do Rio, além dos estímulos econômicos que deram vida ao ciclo cafeeiro do Brasil.

* Camila Dias Amaduro é pesquisadora, graduada em História pela Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia de Nova Friburgo. Trecho de sua obra “Os jardins da Chácara do Challet - Uma análise da atuação de Glaziou em Nova Friburgo”,  disponível em: http://www.dezenovevinte.net/arte%20decorativa/jardins_glaziou.htm.

 

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