Um economista, ganhador do prêmio Nobel, disse: “Na economia, o otimismo nada melhora. Mas, cuidado! O pessimismo tudo piora.”
Esse conselho soa lúcido não apenas na área de atuação de James Tobin, autor da frase. Uma atitude mental com tendência a ter uma visão minimamente favorável sobre as situações da vida é a força propulsora de qualquer ação, até porque ninguém vai dar início a qualquer projeto se julgar que tudo vai falhar. O pessimismo, em particular, faz com que a gente encare as adversidades de uma maneira que cria um sentimento de impotência.
Neste momento, muito se fala sobre a positividade tóxica, que de fato é algo bastante desagradável. Acontece quando se tenta suprimir as emoções de alguém através de frases animadoras, cheias de boas intenções, mas que não têm nenhum valor prático e ainda faz com que a pessoa que está sofrendo se sinta invalidada.
Quem nunca ouviu conselhos do tipo: “Você é forte, vai dar conta”; “Veja pelo lado bom, poderia ser pior”; “Tudo acontece por uma razão”. Emoções negativas não devem ser abafadas com frases clichês, ainda que bem intencionadas, pois podem prejudicar a saúde física e mental das pessoas.
Mas, convenhamos também que o fato de isso existir não está legitimando pessimismo e nem afirmando que toda positividade seja tóxica. Podemos unir otimismo e realismo e agir de um modo pontual onde fazemos aquilo que nos cabe sem renunciar que existe uma parcela de auto responsabilidade e outra parte de muitas variáveis das quais não temos muito controle.
O Yoga tem uma espécie de “código de ética”, chamados de Yamas e Nyamas. São princípios de boa conduta e uma forma de cultivar um relacionamento harmônico com a vida em geral. O último Nyama é chamado de isvara pranidhana, que significa algo parecido com uma expressão que recorrentemente usamos, que é “entrega na mão de Deus”. Devemos fazer aquilo que nos cabe, com dedicação e dentro do que nossa saúde mental e emocional permite, mas ao mesmo tempo devemos também considerar essas muitas variáveis, que estão além do nosso poder.
Para isso, precisamos do que a tradição do Yoga chama de shraddha, uma atitude de fé ou confiança no mundo. Shraddha é muito diferente do conceito de fé moldada pela igreja que, às vezes, induz a ideia de uma fé cega, em que aceitamos algo como verdade porque alguma autoridade disse que é assim e ponto e final, sendo uma fé sem vivência, uma fé emocional. Não estamos falando de uma fé inquestionável, e sim, da capacidade de examinar as ideias sem aceitar de imediato, e entendendo que sem alguma confiança no mundo a gente nem levanta da cama.
Isso não é ser “good vibe”, conceito muitas vezes pejorativo associado aos praticantes de Yoga e de outras linhas mais espiritualistas. É ser lúcido, de não tomar um veneno esperando que outra pessoa morra. Ou seja, evitar esse pessimismo que atribui total responsabilidade a forças universais (“nesse contexto é impossível”) como se fossem imutáveis (“isso não tem jeito e não tem volta”). Se colocar na condição de vítima e arranjar álibis para culpar alguma outra força, devemos reconhecer, é muito mais “conveniente” do que assumir responsabilidades.
Não devemos nos cobrar um emocional perfeito em tempo integral, isso é até cruel, mas um emocional minimamente funcional que compreende que podemos dar o melhor que temos no momento (nem sempre é muito!) mas com alguma autoconfiança, mesmo não atingindo a algumas expectativas, sejam nossas ou do outro.
Os textos sagrados da Índia, na parte que tratam sobre o autoconhecimento, aconselham que para se desenvolver essa confiança, algumas atitudes como não estar preso ao passado e evitar o vício de prever o futuro, desenvolve uma inteligência prática que estabiliza o momento presente, único período em que de fato vivemos. É no agora que experimentamos a sensação boa do lazer, ou a potência do relaxamento. Experimentamos a força das boas relações e criamos os fundamentos de uma vida próspera. É no presente que resolvemos pendências, já que no futuro isso seria só uma possibilidade.
Que esse novo ciclo externo iniciado na virada do ano, que contém uma grande força simbólica, possa estimular essa virada de ciclo interna, onde assumimos a responsabilidade por adequar aquilo que nos causa limitações ao invés de esperar que o mundo magicamente resolva por nós. Como diria o professor Hermógenes, devemos experimentar o Entrega, Confia, Aceita e Agradece!
*Igor Fonseca é instrutor de Yoga no Estúdio Samsara
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