A saúde mental dos professores tem se tornado um tema central nos debates sobre a qualidade da educação no Brasil. A sobrecarga de trabalho, a falta de apoio familiar e o desrespeito às condições de trabalho são fatores que afetam diretamente o bem-estar emocional desses profissionais e, consequentemente, a qualidade do ensino.
Segundo a pesquisa “Saúde Mental dos Educadores”, realizada pela Nova Escola em parceria com o Instituto Ame Sua Mente, o número de educadores que consideram sua saúde mental “ruim” ou “muito ruim” é de 21,5%. Ainda assim, o levantamento mostrou que 52,3% dos professores nunca participaram de formação ou capacitação em saúde mental, já 33,2% estiveram em alguma palestra, oficina ou seminário, 7,4% fizeram curso com mais oito horas de duração e 7,1%, com menos de oito horas.
A professora Vanessa Lima Sanches, que atua nas redes municipal de Cachoeiras de Macacu e estadual do Rio de Janeiro, compartilhou em entrevista os desafios enfrentados no ambiente escolar e como eles têm comprometido sua saúde mental e seu desempenho em sala de aula.
Com mais de 15 anos de experiência, Vanessa destaca que, embora a docência seja uma escolha vocacional, a estrutura escolar muitas vezes agrava o estresse. “Nós escolhemos essa profissão e estar em um ambiente que a gente gosta é algo positivo. Porém, a estrutura, as cobranças e os prazos que precisamos cumprir acabam nos sobrecarregando. Isso, somado à falta de apoio das famílias, cria um cenário de estresse constante”, afirma a professora.
Ela ainda menciona a ausência de suporte familiar como um fator crítico para a saúde mental dos professores, que frequentemente se vêem lidando com questões que fogem de suas atribuições, como orientar os pais a procurar ajuda psicológica para os filhos.
A falta de disciplina nas escolas também é um elemento que contribui para o desgaste emocional dos professores. Segundo Vanessa, muitas vezes, os valores que as crianças trazem de casa são conflitantes com o ambiente escolar, o que torna a gestão da sala de aula mais difícil. “A indisciplina dos alunos desmotiva tanto os professores quanto os colegas que querem estudar. Não há punição para esses alunos, e a falta de suporte da família faz com que esse comportamento indisciplinado se arraste”, desabafa.
Outro ponto abordado por Vanessa é a desvalorização salarial e profissional. Ela relata que, além da baixa remuneração, os professores sofrem com atrasos nos pagamentos e com a falta de reajuste salarial, o que desestimula ainda mais a classe. “Nós estamos desde 2017 sem recomposição salarial. Enquanto isso, vemos os governantes aumentando seus próprios salários, e os professores ficando para trás”, lamenta.
Vanessa compartilha que, em 2023, viveu uma crise de ansiedade intensa causada pelo excesso de trabalho e a pressão contínua, agravada pela falta de pausas e pela cobrança constante. “Teve um dia em que desmaiei na rua. Ali percebi que não valia a pena tanto estresse. A saúde é mais importante do que qualquer promoção ou aumento salarial”, reflete. Ela ressalta que essa condição afeta diretamente seu desempenho em sala de aula. “Os alunos percebem quando estamos doentes, impacientes, ou quando não conseguimos render o que gostaríamos. Isso acaba impactando também a qualidade das aulas”.
Outro ponto que contribui para o desgaste emocional dos professores é o excesso de demandas administrativas, como grupos de mensagens, cobranças e prazos, que se somam às responsabilidades em sala de aula. Vanessa Lima Sanches relata que, após a pandemia, a prática de diminuir o uso de papel foi mantida, mas trouxe um volume excessivo de comunicação digital, muitas vezes em horários fora de expediente. "Mensagem chegando sábado, domingo, feriado... e meu corpo não aguentou", conta.
O testemunho de Vanessa evidencia como a saúde mental dos professores está intrinsecamente ligada à qualidade da educação oferecida aos alunos. A saúde mental dos professores emerge como um tema crucial para a educação de qualidade. Se medidas preventivas e de apoio psicológico não forem adotadas, os efeitos podem ser devastadores tanto para os docentes quanto para os alunos. Ao assumir a responsabilidade de cuidar do bem-estar dos seus profissionais, as instituições de ensino e o governo garantem que eles possam desempenhar suas funções com equilíbrio emocional e motivação.
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